CHAPTER ONE.

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Estou arrumando as coisas da minha mãe, ela deixou cair no chão um suco vermelho e não quis limpar. Me chamou no meu quarto abruptamente e me arrastou de volta até a sala, agarrando meus cabelos com força. A dor é insuportável. Tudo isso é horrível, simplesmente terrível. Como é possível que, mesmo estando no século XXI, ainda ocorram essas situações?

Pego o pano de limpeza e o mergulho no balde de água, as minhas mãos tremendo de indignação. Espremo o pano com raiva, molhando o chão e removendo o vestígio do suco derramado. À medida que me levanto, meus joelhos mostram sinais de vermelhidão, resultado de permanecer ajoelhada por tanto tempo. A sensação não é agradável, mas é apenas um pequeno incômodo comparado à raiva que me consome.

Quando ergo os olhos e me deparo com minha mãe, ela solta um sorriso sarcástico enquanto me observa. Essa expressão me corta como uma faca afiada, invadindo minha alma com raiva e mágoa. Como alguém pode ser tão insensível e cruel? Não tenho ideia de quanto mais serei capaz de suportar essa situação. Preciso escapar deste lugar. Quero desaparecer, simplesmente evaporar no ar.

Uma mãe carinhosa e atenciosa é a figura fundamental na vida de qualquer criança. Infelizmente, não posso dizer o mesmo da minha própria mãe. Mesmo sabendo que sou sua filha única, ela constantemente me maltrata e me faz sentir insignificante. Meu pai, por outro lado, só pensa em negócios e quando chega em casa, prefere evitar confrontos concordando com tudo o que minha mãe diz.

Durante todo esse tempo em que minha mãe me mantém aprisionada, nunca tive a oportunidade de participar de uma festa ou de sentir a verdadeira felicidade. Ela sempre me puxa para ficar ao seu lado, me mantendo calada e submissa. Se eu ousar dizer algo, meu pai me punirá em casa.

Com passos pesados e uma mistura de tristeza e raiva, atravesso a sala e me dirijo à cozinha. Ao entrar, avisto uma empregada e lhe entrego o balde e o pano, sem dizer uma palavra. Saio da cozinha tampegeando de raiva, quase no limite das lágrimas.

Sem demoras, adentro meu quarto e me jogo na cama. No entanto, sinto um cheiro desagradável de suco impregnado em minha mão e, com um misto de frustração e irritação, me levanto de forma brusca. Caminho em direção ao banheiro com passos firmes e determinados.

Ao chegar, ligo a torneira da banheira e encho-a com água quente até atingir o ponto exato que me agrada. Rapidamente, tiro toda a minha roupa e delicadamente mergulho na água, que envolve meu corpo como um abraço reconfortante. Enquanto me ensaboo, permito-me ficar sentada por um momento, refletindo sobre a minha vida e sobre tudo o que tenho suportado.

Minha vida basicamente se resume assim, desde que eu era uma criança pequena de apenas 4 anos de idade, fui levada a um colégio interno distante de casa, onde não encontrei um único amigo sequer para compartilhar minhas alegrias e tristezas. A solidão se tornou minha constante companheira nesses anos iniciais da minha jornada pela vida. Aos 6 anos, minha mãe decidiu retirar-me da escola, privando-me da oportunidade de conviver com outras crianças da minha idade. Fui obrigada a estudar em casa, sob a tutela de alguns professores que, devo dizer, eram um tanto estranhos e peculiares em suas abordagens pedagógicas.

Mas, nada poderia preparar-me para o que estava por vir aos 12 anos. Minha mãe tomou a decisão drástica de me trancar dentro de casa, privando-me de qualquer contato com o mundo exterior. Fui mantida em cativeiro, literalmente, não sendo permitida a sair nem mesmo para sentir o toque do sol na minha pele. Agora, aos 19 anos de idade, encontro-me enredada nessa mesma situação claustrofóbica que minha mãe me impôs há sete anos atrás.

Me levanto calmamente da banheira e me enrolo cuidadosamente numa toalha macia e felpuda. Caminho devagar até a frente do espelho e me contemplo com atenção. Meus cabelos, longos e volumosos, caem em ondas suaves que emolduram meu rosto. Sua coloração é uma mistura delicada de branco claro, quase alcançando um tom platinado. Eles estão levemente repartidos ao lado, cascata acima dos meus ombros, enquanto as raízes mais escuras afloram na parte superior da minha cabeça, adicionando uma profundidade sutil à minha aparência. Meu rosto reflete uma palidez etérea, emanando uma luminosidade quase sobrenatural. Os lábios, de um rosa suave e convidativo, contrastam perfeitamente com a tonalidade lívida da minha pele. Dois brincos delicados adornam minhas orelhas, brilhando levemente à medida que captam a luz ambiente.

ENTRE SÉCULOS E AMORES.Onde histórias criam vida. Descubra agora