O Inverno sempre chega depois do Verão

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Xiao

— Você fica horrível babando desse jeito.

Ele sabia que não adiantava de nada, dizer palavras duras. Mas ainda assim, insistia para que o outro tivesse ao menos a decência, de não expor suas tolices de forma tão evidente em plena luz do dia.

— Meu senhor, olha aquele peitoral. Se o Diluc quiser espremer minha cabeça naquele meio, eu viro um suquinho de limão na hora! — falava empolgado.

— Eu vou fingir que não te conheço. — reprimiu um vômito.

Este fazendo cara de nojo é Xiao, um estudante do terceiro ano da academia de Mondstadt, ele não passa de um recluso com o total de um melhor amigo. Já o que está com a cara colada no vidro da janela é Venti, seu colega desde o ensino fundamental. Não importa o quão diferentes eles pareçam, seus gostos musicais e hobbies cotidianos sempre foram os mesmos, fossem jogar videogames depois da aula, desenhar ao som de punk ou xingar a sociedade por meio do twitter — perdão, X —. Eles foram feitos para vagabundear juntos pelo resto da vida.

— O Albedo vai matar a gente, se você nos atrasar de novo — Xiao cruza os braços, bufando no meio do corredor.

— Ai, deixa do teu drama, ele não é assim, você que é! — exclamou Venti, sendo puxado contra sua vontade da vista espetacular do time de futebol.

Xiao consegue arrancar seu amigo, pegando-o pelo pulso e levando-o rapidamente para o clube de artes, onde ambos eram membros desde o início do ensino médio. Albedo, o presidente do clube, era um rapaz simpático e muito comprometido com os eventos da escola. Hoje era o dia da primeira reunião sobre o festival escolar de fim de ano, e eles precisavam correr se não quisessem levar uma bronca de Hu Tao, a vice-presidente.

Quando eles entram na sala, percebem que todos os membros já estavam presentes, sentados em suas respectivas cadeiras, formando um círculo. A sala era a mesma de sempre, decorada com quadros nas paredes e tintas de todos os tipos espalhadas pelas prateleiras. Albedo sorri na direção de Venti, que sempre descontraído, sorri para todo mundo, que já pareciam esperar o atraso de ambos. Eles se sentam nos únicos lugares vazios e o presidente, com um olhar acolhedor, começa a reunião, segurando uma planilha na mão para registrar qualquer mudança nas opiniões de cada um.

Já havia se passado um bom tempo desde o início da conversação, e tudo que conseguiram definir foi focar em alguma estação do ano para criar um ambiente caloroso para as pessoas. No fim, decidiram transformar a sala em um tipo de museu cultural para mostrar o verão através de suas pinturas, era por algum motivo o melhor de todos. Cada membro deveria pintar, no mínimo, cinco quadros até o final de setembro.

No final de tudo, Xiao estava transtornado com a ideia de criar arte baseada em algo que detestava: o calor. Só de pensar na ideia, ele começou a abanar sua camisa freneticamente, enquanto era seguido pelo moreno de olhos verdes para fora da sala, eles iam para o pátio conversar. Assim que se sentaram perto de uma árvore, Venti riu da expressão desanimada de Xiao, dizendo que ele não precisava se estressar com isso; era só imaginar algo que amava fazer e pronto. Com os olhos revirados, ele respondeu que a única coisa que amava no verão era comer picolé na frente do ventilador e dormir com o ar condicionado ligado.

— Deuses, como você é sem graça viu, vai morrer sozinho desse jeito — Venti se espreguiça, dando uma mordida em sua maçã, ele amava levar comida de casa — Se eu for desenhar algo, com certeza será o mar, a brisa gostasa dos ventos e uma bikiniland por todo lado, algo como em “teen beach movie”, com surfistas dançando.

Xiao suspirou profundamente ao ouvir a completa babaquice de Venti, sobre como o verão é maravilhoso e divertido. Ele insistia que a única coisa que Xiao precisava era encontrar sua inspiração de verão em uma pessoa, alguém que esbanjava uma visão mais radiante do que ele tinha em sua perspectiva. Pensando nisso, o moreno se perdeu em pensamentos, até que um clique chamou sua atenção.

Ambos olharam para o lado e viram um garoto segurando uma câmera profissional, com uma postura culpada. Xiao ficou furioso com a audácia e se levantou abruptamente, mas foi segurado por Venti.

— Não parece nada demais, deixa ele — tentou impedir, mas nada fazia o olhar sanguinário parar.

— Me larga, Venti. Quem esse bostinha pensa que é, para sair tirando fotos dos outros sem a menor permissão? — disse, no estado mais puto, que somente um ariano como ele poderia ser.

Xiao se desvencilhou das mãos do amigo e seguiu na direção do estranho, que agora abaixava sua câmera, revelando seu rosto completo. Xiao o conhecia de vista e, por isso, detestou ainda mais sua presença ali. Era o famosinho do Aether, o raio de sol mais popular da academia inteira. Com seus cabelos dourados amarrado numa trança até a cintura, olhos brilhantes e cílios extensos, voz aveludada, rico e influente em suas redes sociais e mídias, Aether frequentemente aparecia em propagandas na TV devido à sua beleza e à de sua irmã gêmea, que atuava como modelo mirim dos jovens atuais.

Na visão de Xiao, tudo isso apenas alimenta sua aversão por pessoas que se achavam o centro do universo. E por isso que, quando chegou perto do garoto, disse com o maior desdém.

— O que a loira padrãozinha acha que tá fazendo? — cuspiu as palavras, fazendo sua pose de julgamento, com as sobrancelhas levantadas e um braço apoiado na cintura.

Aether ficou visivelmente envergonhado pela aproximação súbita de Xiao. Ele não sabia como lidar com a forma agressiva que lhe foi imposta e, por isso, gaguejou ao tentar se explicar.

— Eu... eu só... foi um engano — começou ele, tentando encontrar as palavras certas — Eu estava apenas buscando inspiração para meu projeto no clube de fotografia. E você... você parecia uma atração aos meus olhos — Aether ficou ainda mais envergonhado por suas próprias palavras, mas continuou, nervoso — O tema é inverno e eu imaginei que você ficaria ótimo como modelo.

Apesar do desconforto evidente do loiro, Xiao não deu bola para suas desculpas. Com um olhar furioso, ele apontou para o peito de Aether e o empurrou para trás como ameaça.

— Apague a maldita foto e nunca mais chegue perto de mim. Você me dá náuseas.

— Mas, eu… — Aether se encolheu diante das palavras secas de Xiao.

Sentindo-se humilhado e sem saber o que dizer, ele deu um passo atrás e, de repente, virou-se e correu, deixando a cena apressadamente com medo. Xiao, ainda mais irritado, observou o garoto se afastar, mas decidiu que não tinha paciência para correr atrás dele.

Ele voltou para onde Venti estava sentado, agora tomando um suco de maçã com um canudinho enquanto assistia tudo de camarote. Vendo a expressão furiosa de Xiao, não conseguiu conter a série de risadas. Ele riu tanto que sua barriga começou a doer, deixando o amigo ainda mais frustrado com a situação.

— Se eu vejo aquela peste na minha frente de novo, eu jogo ele de um precipício — crispou os lábios, pensando em fazer um tweet novo sobre loiras padrões sendo insuportáveis e inconvenientes.

Aether é Loira Padrão, a Thread - {Xiaoether}Onde histórias criam vida. Descubra agora