Hermione mal conseguia acreditar que havia se permitido cair nessa armadilha. Era uma ideia terrível, daquelas que só poderiam terminar mal, e ela sabia disso. O frio na barriga parecia mais gelado a cada segundo, e suas mãos suavam, traindo o nervosismo que tentava esconder. O coração, acelerado, batia em seu peito como se quisesse escapar.
— Ok — falou Gina, colocando sua varinha no meio da roda depois de murmurar um feitiço. — Em quem a ponta da varinha parar é quem vai responder.
Hermione ajeitou-se em um canto, tentando ficar mais confortável, mas sem sucesso. Não queria participar daquilo, mas já era tarde demais para desistir. Odiava aquela brincadeira estúpida e odiava ainda mais o fato de que todos estavam ali. TODOS, incluindo Draco Malfoy, Blaise Zabini e Pansy Parkinson, alunos da Sonserina que, até pouco tempo atrás, eram inaceitáveis em seu círculo social. Mesmo depois da guerra, mesmo com as mudanças e a tentativa de coexistir, Hermione ainda se sentia desconfortável perto deles. Algumas cicatrizes demoravam a cicatrizar.
O problema era que, após a guerra e com o retorno a Hogwarts, Harry havia se apiedado de Malfoy, permitindo que ele e sua mãe saíssem livres de seus julgamentos, embora não pudessem fazer nada quanto ao pai. Mas Draco, mesmo com todas as tentativas de Harry, ainda os desprezava.
Eles não estavam juntos por vontade própria, é claro, mas porque, após uma briga no corredor do quarto andar entre Ronald Weasley e Draco Malfoy, todos haviam sido obrigados a cumprir detenção juntos, limpando a sala de troféus sem o uso de feitiços durante a noite. Porém, alguém havia burlado as regras, e tudo estava limpo em um segundo. Hermione esperava que McGonagall não descobrisse sobre isso. Com o tempo restante que tinham, pois não podiam sair dali até o horário estipulado pela diretora, Gina resolveu que todos deveriam jogar um jogo ridículo, o qual chamavam de "verdade ou consequência".
Hermione recusou-se a todo custo, mas acabou cedendo ao pedido dos amigos e sabia que isso havia sido o maior erro de sua vida.
— Que feitiço você usou? — perguntou Rony, arqueando uma sobrancelha, com um leve toque de sarcasmo na voz.
— Um feitiço que aprendi há algum tempo. Faz a varinha acender uma luz vermelha se alguém estiver mentindo — respondeu Gina simplesmente, dando de ombros.
Hermione arregalou os olhos. Aquilo, com certeza, havia sido o pior erro que ela poderia ter cometido.
— Eu não quero mais jogar — disse ela, já se levantando.
Todos a encararam. Gina bufou, irritada com a amiga.
— Eu disse que depois que aceitasse não poderia sair, Hermione.
— Ora, eu posso sair a hora que quiser, quando não há nada para me impedir. Não tenho motivos para jogar algo tão idiota.
Com o canto dos olhos, Hermione viu a figura de Pansy Parkinson sorrir cinicamente para ela. Seu sangue ferveu, e um lampejo de raiva atravessou seus pensamentos.
— Com medo que descubram algo sobre você, sangue-ruim?
Hermione se virou lentamente, cada fibra do seu ser resistindo ao impulso de lançar um feitiço ali mesmo. Encontrou o olhar de Pansy, que exibia aquele sorriso cínico, e por um instante seus olhos cruzaram com os de Draco Malfoy. Ele mantinha uma expressão impassível, mas havia algo em seus olhos que a fez se perguntar o que ele estava pensando e o que ele sabia.
Apesar da problemática da pureza de sangue e nascidos trouxas começar a ser discutida com mais vigor após a queda de Voldemort, a luta pela extinção ainda seria longa, tendo em vista que alguns bruxos, como a sonserina, mantinham uma visão segregacionista em relação a eles. No entanto, Hermione havia notado que alguns alunos haviam parado de proferir as palavras por aí.

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Verdade ou Consequência? (Dramione)
Hayran KurguHermione Granger sabia desde o começo que entrar naquela brincadeira seria uma péssima ideia. Contudo, não esperava que as consequências iriam trazer o que ela mais desejava.