prólogo

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Prólogo:

"A escuridão não me assusta porque eu faço parte dela."

O frio me consome. Meus pés estão gelados, minhas mãos tremem incontrolavelmente, e o ar cortante penetra meus pulmões como lâminas afiadas. Inspiro fundo, uma, duas, três, quatro vezes, tentando desesperadamente agarrar a lucidez que me escapa entre os dedos.

Meu corpo estremece violentamente, tomado por espasmos. O cheiro metálico do sangue enche o ar, misturado à náusea que se contorce no meu estômago. Minha cabeça pulsa com uma dor excruciante, irradiando até os ossos. Cada piscar de olhos é uma batalha, mas eu luto para permanecer consciente.

Tento gritar, mas minha voz está aprisionada na garganta, sufocada pelo medo e pelo desespero. Sinto o sangue quente escorrer, formando uma poça ao meu redor, tingindo o chão de vermelho.

Dizem que, à beira da morte, nossa vida passa diante dos olhos como um filme. Mas tudo o que consigo pensar é: valeu a pena? Valeu a pena amar com tanta intensidade apenas para ser traída por uma maldita bala?

"Papai me disse uma vez: não ame, ou o amor vai te matar." E agora, aqui estou, com uma porra de bala cravada no peito, à beira da morte. Tudo por me apaixonar pelos homens errados. Sim, esse foi o meu erro — amar demais e ser traída por todos eles. De alguma forma todos eles me traíram… todos sempre fazem isso…

Minha visão começa a embaçar, pequenos pontos negros dançam no meu campo de visão. Tento focar em algo, qualquer coisa, que me mantenha consciente. Ouço passos apressados ao longe, vozes abafadas que parecem vir de um mundo distante.

— Amor... — uma voz familiar rasga o silêncio, carregada de pânico.

Forço meus olhos a se abrirem, lutando contra o peso das pálpebras. Lá está ele, correndo na minha direção, os olhos arregalados, o rosto tão pálido quanto um fantasma na luz fraca. Um turbilhão de emoções me invade: ódio, medo e, ainda, um vestígio amargo do amor que um dia senti por ele.

— Meu amor, aguente firme! — Ele se ajoelha ao meu lado, pressionando a ferida em meu peito com desespero.

O toque que um dia foi meu refúgio, agora só amplifica a dor. Tento falar, mas as palavras se perdem em um gemido sufocado de agonia. Ele continua falando, mas suas palavras não passam de um zumbido distante.

— Por que...? — sussurro com dificuldade, minha voz rouca e frágil. — Por que fez isso?

Ele me encara com uma mistura de desespero e culpa. Seus olhos gritam a verdade que ele tenta esconder. Não queria que isso acontecesse, mas agora é tarde demais.

— Eu... eu não queria, eu juro — sua voz quebra, trêmula. — Foi um erro, um terrível erro.

Lágrimas escorrem pelo rosto dele, misturando-se ao meu sangue que mancha suas mãos. Sinto o calor do meu corpo desaparecer, a escuridão me engolindo pouco a pouco. Cada respiração é uma batalha perdida, um esforço desesperado para me manter viva.

— Me perdoa, princesa, me perdoa...

— Vai... — tossindo, sinto o gosto metálico do sangue invadir minha boca. — V-vai para o inferno, maledetto...

Minha consciência se dissolve lentamente, a dor diminuindo enquanto a escuridão me envolve por completo. O rosto dele desaparece da minha visão, dando lugar a lembranças fugazes de tempos melhores, antes de tudo desmoronar.

Meus últimos pensamentos são para meu pai e suas palavras proféticas. Ele estava certo o tempo todo. O amor, com toda sua beleza e dor, foi minha ruína. Com um último suspiro, entrego-me à escuridão.

Hera venenosa, spin-off de Paixão proibida Onde histórias criam vida. Descubra agora