Capítulo 6
Pisca várias vezes, derramando as lágrimas que turvam minha visão. Soluços abafados pela mordaça entre meus lábios escapam com desespero. Tento mover os braços, mas dói, dói muito quando o pano grosso e velho esfrega a carne sensível dos meus pulsos. Ergo a cabeça o suficiente para ver meus pés amarrados por tecidos iguais aos dos meus pulsos. Os tecidos estão presos à cama de madeira, impedindo-me de me mover.
Vozes em coro ecoam pelo quarto. Um cântico, uma oração que se repete há horas. O suor se mistura às lágrimas. Meu corpo dói, minha alma sangra. Gotas de água são atiradas sobre mim, de novo e de novo, enquanto a oração continua.
— Pater noster, qui es in caelis: sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in caelo et in terra. — rezam o Pai Nosso em latim. Os padres oram com fervor enquanto jogam água benta em mim.
Lágrimas caem livremente. Fecho os olhos na esperança de que isso acabe logo, mas sei que não irá. Desde o dia em que fui mandada para este monastério, os padres me insultam de todas as formas possíveis: erva daninha, Jezebel, prole de Satanás, Maria Madalena, dentre outros.
Para esses homens, sou uma pecadora, uma provocadora que seduziu e conduziu homens decentes ao erro. Sim, na cabeça deles, sou culpada por ter sido abusada, e cometi um pecado ainda maior ao conceber uma criança fruto de um pecado maior ainda.
Meus olhos pesam, minha vista turva, meu corpo todo treme, não só pelo frio e pela dor, mas também pela fraqueza. Estou há mais de quarenta e oito horas sem comer. Eles disseram que o jejum e a oração expulsariam o mal que habita em mim.
Meus lábios estão doloridos, minha garganta seca. Pisco várias vezes, tentando me recompor, me manter acordada. Contudo, é difícil; estou exausta, física e psicologicamente. Me pergunto o que fiz para merecer isso. O que fiz de errado para estar passando por isso?
Sinto ira, raiva. Amaldiçoo Bárbara por ter convencido papai a me mandar para cá. Amaldiçoo Kate por ter fechado a porta do escritório, me deixando do lado de fora. Amaldiçoo papai por ter se envolvido com Anabella e irado o maledetto Ferrari. Amaldiçoo Abigail por ter me abandonado. Por quê, Deus? Por que tanta dor? Ninguém deveria sofrer assim. Não é justo. Não é justo.
Meus olhos piscam, cada vez mais difícil mantê-los abertos. Sinto algo segurar meu rosto. Forço os olhos, é uma mão. Uma mão que aperta rudemente meu maxilar. Dói, dói demais.
— Acorde, garota, não durma...
Meu coração bate descompassado no meu peito. O suor frio escorre pelas minhas costas. Sacudo a cabeça, negando em um gesto desesperado. Peço clemência, imploro, pedindo de modo abafado para que não, não, não comece tudo novamente.
De súbito, sento na cama. Meu peito sobe e desce freneticamente. O suor escorre pela minha testa e costas. Minha camisola está parcialmente úmida. Meus lábios tremem, não consigo conter as lágrimas que embargam minha visão. Meus músculos tremem. Me entrego à exaustão, deixando os soluços escaparem dos meus lábios.
A porta se abre abruptamente. Ainda na escuridão, noto uma silhueta grande se aproximando. Demoro alguns segundos para descobrir quem é, mas logo o reconheço, graças ao seu perfume almiscarado levemente apimentado.
O colchão se move. Seus braços me apertam contra o peito robusto, e, sem uma única palavra, ele me envolve em um abraço apertado. Não há nada de sexual nesse ato; pelo contrário.
— Shhh — diz ele, afagando meus cabelos. — Foi só um pesadelo. Passou, e eu estou aqui agora — ressoa a voz de Mariano, em um tom calmo e reconfortante.
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Hera venenosa, spin-off de Paixão proibida
FanficNão tema a escuridão; tema o que se esconde dentro dela." Há muito tempo, uma batalha devastadora no céu levou o anjo mais belo e poderoso à queda. Expulso do paraíso junto com seus seguidores, ele foi condenado ao exílio e à dor eterna, abrindo cam...