003 | Sem formalidade.

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O dia em que escolho para acordar um pouco mais tarde é o sábado, só que hoje, parece que não pude fazer isso.

Me segurei para não abrir os olhos na tentativa de dormir de novo e por mais que fosse longe, eu conseguia ouvir certas risadas, olho para hora no relógio da cabeceira, 09h34.
Levantei bufando e fui para o banheiro.

Enquanto eu lavava o rosto e escovava os dentes tentava imaginar quem poderia estar lá em baixo, meus olhos se reviram involuntariamente pois já prevejo o que vou enfrentar quando descer.

Quando abro a porta dou de cara com minha mãe levando a mão ao trinco, ela me olha de cima a baixo e franze o cenho.

— Ainda está assim? Suas tias estão aqui, desce. — ela forçou um sorriso tipo: Me ajuda.

Arqueia as sobrancelhas e passei da porta, desci as escadas com ela e quando entrei na cozinha pensei que o dia não poderia ficar pior.
Era todas as minhas tias e um dos frutos das mesmas.

Uma delas, Elisa, vira para mim ao notar que entrei na cozinha.

— Pijama de cereja? — ela diz e logo volta a atenção para a conversa que estava.

Olho para minha mãe e digo mexendo os lábios: O que elas estão fazendo aqui?

Ela da de ombros, querendo se safar da culpa dessa cambada de inconvenientes estar aqui. Olho para o outro lado da sala e vejo Saory sentada no sofá, ela está bem relaxada e distraída no celular como se fosse super comum andar aqui em casa e se sentir a vontade.

Vou até a geladeira e pego minha garrafa d'água, fecho a porta e me escoro observando todas conversarem. Não, elas não dão a mínima se eu faço questão de falar ou permanecer no meio de tudo isso, então eu apenas olho as patetas e ouço as mais ridículas conversas. Continuo aqui parada bebendo água e pareço invisível, o que me faz conseguir captar cada detalhe.

Lohana, a Che Guevara das quatro. Sempre se acha a dona da razão e que tem a solução pra tudo mas ela é tão idiota quanto uma garota de
dezesseis anos.
Elisa, essa parece que nem tem bacharelado em direito até porque não serve de nada sem a prova da OAB, nem tenho muito o que dizer porque só da pra associar ela a isso.
Ivina, eu até gosto dela, é a única além da minha mãe que se dispõe a estar com minha vó por amor e sempre que me vê ela da um sorriso como se dissesse: Nem sei porquê tô aqui.

E por último temos a Wiana, minha mãe, ela é a querida sim sem excessão, talvez por ser exemplo de inspiração para as outras que tiveram que dedicar a vida a um meio de estudo.
Quando conheceu meu pai, ela estava decidindo o que queria estudar e quando engravidou meu pai queria que ela se dedicasse somente a mim e que ele cuidaria de tudo. Não era isso que minha vó queria pra ela e nem ela mesma, mas ela confiou no meu pai e ele sempre foi pra nós duas o que precisamos, literalmente, minha mãe sendo esposa troféu devora toda a expectativa das minhas tias.

Vejo Elisa mexer em sua bolsa o que chama minha atenção e me faz observa-lá, vejo ela tirar um carteira de cigarro e por um na boca. Rapidamente ando até ela, tiro o cigarro entre seus lábios e ponho sobre o balcão. Ela me olha sem entender e faço um gesto com a cabeça.

— Se quiser acender isso, vai pra varanda e quando terminar espera dez minutos antes de entrar de novo. O cheiro da casa agradece.

Desvio dela e ando até as escadas quando escuto ela falar.

— Ih, vai deixar ela falar assim comigo maninha? — sua voz é irônica.

FORBIDDEN TO ME | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora