004 | Golpe Fatal.

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— Isso não pode ser original, vai me tirar de otaria?

— Não — ele ri feito sonso — Testa aí porra.

Levanto a mão insinuando que vou bater nele, logo tomo o fone da sua mão e conecto no meu celular. Ponho uma música para testar.

— Hum — levanto o olhar para ele — É bom mesmo.

— Eu falei. — ele faz careta e puxa um dos fios do meu ouvido.

Me afasto emburrada e continuamos pelo corredor.
Já se tornou rotina o horário do primeiro intervalo eu bater perna com a Atena, mas essa semana ela adoeceu então tive que aturar o Gael sozinha.

— Eu tô com dificuldade em compreender sobre estrutura, e você?

— Nem sei especificar, acho que são varias. — tiro os fones e os guardo no bolso.

Voltamos para sala e ficamos revendo alguns assuntos no meu iPad, as vezes eu me desligo enquanto ouço Gael se queixar das coisas difíceis.
Volto para aquele sábado e as mensagens de Roberto ficando como loop na minha mente, era quase impossível não escutar ele dizendo "meu bem", ele é um pecado, ainda mais na posição de pai da minha amiga.

— Ei — Gael diz tomando a caneta da minha mão — Não come minha caneta.

— Deus, por que a Atena tinha que adoecer? — digo, rangendo os dentes e chegando perto do seu rosto.

— Pra você ver que o mundo não é um mar de rosas. — ele diz, e da um peteleco na minha testa.

No fim do turno da manhã me despeço do Gael e vou até a entrada da faculdade esperar minha mãe me buscar para o almoço.

Estou olhando a rua quando reconheço de longe uma viatura do BOPE, olho como quem não quer nada para ver se consigo vê-lo mas não passa tão perto, tive a impressão que fosse mas não tem como saber se eu não perguntar.

Mas por que eu perguntaria? Nossa, isso é muito desespero. Ele vai se perguntar por quê eu perguntei se foi ele que passou em frente a faculdade, sem cabimento.

Minha mãe chega e eu entro no carro, ela me olha mas permanece calada.

— Estou bem, só estou com fome. — digo.

A minha cara não deve estar a das melhores, quando isso acontece ela espera que eu me explique e se eu não disser nada, ela sabe que não arranca nada de mim.

— Que bom, eu fiz strogonoff de carne. — ela diz sorridente.

— Ah — relaxo as costas e me reclino no banco — Era tudo que eu precisava pra hoje.

— E a Atena? Ainda não voltou?

— Não. — estou olhando para janela e fazendo desenhos aleatórios com o dedo. — Ela disse que geralmente quando a crise ataca é forte, e ela tem que repousar.

— Maldita rinite. — mãe resmunga. — E pensar que quando você era mais nova quem sofria com você era eu, com a asma atacada.

Olho para ela. — Papai sempre pedindo calma e você a emoção. — balanço a cabeça.

— Ele sempre foi mais paciente, eu achava que não ia dar conta de ser mãe, quando deu positivo ele chorava de alegria e eu de medo.

É admirável como minha mãe ainda fala do meu pai com carinho, por mais que eu sinta uma breve expectativa de reconciliação, parece ser pior. Ela já está conhecendo outra pessoa e isso me faz perceber que pra ela tudo se encaminhou e eu quero pensar o mesmo.

FORBIDDEN TO ME | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora