Capítulo 6 : a ideia;

25 6 0
                                    

Rafael:
22 de agosto de 2024;
Canadá;

Vi o delegado chegar ao meu lado com uma cadeira e um café me oferecendo para sentar, então o fiz, meu coração estava inconsolável, tudo o que vinha em minha mente era Antônio.
Tinha imaginado tudo o que ela estava falando para mim, ainda paralisado, girava minha aliança em meu dedo, pensei em me desfazer dela mas meu coração falava que não, não era para fazer isso agora, não sem ter certeza, não sem ouvir tudo o que ela tem a dizer para mim.
Ela nunca havia tocado no assunto que está falando agora, repudiava falar de seu padrasto e agora sei o porquê. Ela começou a falar desse tal de Mike e quando me apresentou, falou: "meu amor, você não o conheceu". Nunca imaginei que ela tinha passado por tudo isso com ele, e fico curioso em saber o que vinha pela a frente e o que ele tem haver com Luna, não posso deixar de sentir um certo ciumes sempre que fala dele com tanta emoção e saudade.
Aonde será que ele está? Imagino que no Brasil.

— senhor Rafael, você também vai ter que prestar depoimento depois dela. — Liam que havia chegado falou ao meu lado.

— ela lhe falou o motivo? — perguntei paralisado.

— motivo?

— o motivo dela ter falado disso só agora e tão fácil, ela nem relutou.. falou de uma vez. Luna já escapou uma vez, ela sabe muito bem se safar disso. — falei sentindo meu coração doer com as peças se encaixando pouco a pouco em minha mente. Como pude ser tão estupido?

— ela apenas me falou que era para eu manter a sua palavra no dia de seu julgamento, e também constatar que seu patrimônio não tem vínculo com o dela.

— mesmo assim, não vão acreditar.. já que nós casamos vai fazer 10 anos..

— não se preocupe Rafael, eu vou da um jeito de provar que seu patrimônio também é limpo. Você fez um milagre nessa cidade que era caótica, não merece passar por isso. As pessoas surtariam.

Senti a mão de Liam em meu ombro me confortando, tomei um gole de café que o delegado tinha buscado e prestei atenção na minha esposa falando.

Luna:
24 de janeiro de 2012;
Brasil;

O dia havia amanhecido e, de fato, Mike e eu havíamos dormido ali. A viagem estava sendo longa, e pensar que não verificamos para onde o ônibus nos levaria. Mike mexia no encosto de cabeça da poltrona à frente, com os olhos cansados. Ele respirou fundo e disse:

— Pensei em: Coragem... — ouvi sua voz rouca, recém-desperta.

Olhei para baixo e vi o rabinho caramelo se mexendo sob a mochila. Sorri ao olhar para o japonês.

— Coragem?

— Sim, ele nos acompanha em tudo, faça chuva ou faça sol — Mike deu de ombros enquanto desenhava uma cruz no tecido do encosto, secando os dedos.

— É preciso coragem para fazer isso — comentei, e ele sorriu.

— Sim... é preciso... — então ele parou e tocou seu cordão. — Foi a primeira palavra que meu irmão me ensinou em português.

Arregalei os olhos e observei o rosto misterioso de Mike. Com os cabelos bagunçados, ele olhou para mim. Era a primeira vez que ele falava sobre si mesmo.

— Você tem um irmão? — perguntei. — Espera... aprender português?

— Meu irmão e eu somos refugiados. Desde pequenos, nascemos em um país que não aceitava nossa raça mestiça. Fugimos para vários países, mas ele era apaixonado pelo Brasil e me ensinou português.

Lavagem de ouroOnde histórias criam vida. Descubra agora