Estava deitada no sofá mexendo em minhas unhas, mais de 24h se passaram e nada de receber algum e-mail da empresa que enviei o currículo, na televisão passava sobre um naufrágio do navio de Cruzeiro da Costa Concordia, na Costa da Itália. Uma tragédia. Desliguei a televisão enojada por tanta notícia ruim.
— ei! Eu tava assistindo! — ouvi uma voz enrolada atrás de mim.
— desculpe, Diego.. — falei para meu padrasto pegando o controle novamente.
Mas antes de conseguir apertar um botão para ligar a televisão, vi a mão suada de Diego segurar sobre a minha, gelei e olhei para cima vendo que ele havia chegado perto.
— me desculpe, pelo o que eu falei mais cedo.. eu estava estressado.. — Vi seus olhos caídos me olhando com uma escuridão neles. Estavam estáticos e fixos.
— tudo bem...— tentei sair de perto mas senti ele me puxar de volta.
— não, quero lhe recompensar. — ouvi a voz embaraçosa me puxar mais para perto, o cheiro de cachaça e cigarro bateu em meu rosto e eu quis vomitar.
— Diego, me solte agora ou eu chamo Andreia! — disse firme ameaçando chamar minha mãe que estava dormindo em seu quarto, mas ele não ligou.
— Não estrague a brincadeira. — ele quis se aproximar e meu coração acelerou, empurrei o homem para longe e tentei me virar para sair de perto, mas senti suas mão puxar forte meus cabelos. — sua idiota!
Dei um soco em seu estômago fazendo ele cair e se reclamar de dor, ajeitei meus cabelos vendo um corte que fiz em meu braço com a briga, então olhei para o idiota que estava vomitando toda a sua bebida no chão. Eu não aguentava mais ficar aqui, não toleraria mais esse imundo me tocar.
— sai já daqui! — ele grita.
— não se preocupe, eu não vou ficar aqui!
Fui em direção ao quarto da minha mãe, onde tinha minhas coisas já que eu dormia no sofá. Peguei a mochila da prefeitura e abri, colocando algumas roupas, meu carregador de celular e escova de dentes. Era tudo o que eu tinha ali.
— filha? — minha mãe perguntou se levantando, coçando um dos olhos por ter acabado de acordar.
— mamãe, vamos sair daqui. Vamos para outro lugar.. — falei desesperada e vi dúvida em sua expressão. — deixe aquele homem.
— e para onde pretende ir? Meu amor, é loucura, não temos casa. — ela fala tocando sua perna amputada.
— não sei, só sei que não vou ficar aqui mais. — falei olhando. Fiquei perturbada só em imaginar ela ali sozinha com ele. — Vamos comigo, por favor.
— por mais que eu queira, não posso. — olhamos para a sua perna, vi lágrimas escorrer em seus olhos então a abracei. — eu sei o que ele fez.. me desculpa, me desculpa por não poder lhe proteger.
— você fez o que pode.. — eu disse acariciando seus cabelos grisalhos. — Eu juro, vou lhe tirar daqui mamãe, vou lhe dar a vida que você merece. Eu prometo.
— por favor, não vá, vai chover.. — ela chora me implorando, mas já não adiantava mais.
— eu não posso mais ficar aqui, desculpa. Não mais..
Falei e a soltei, se seus olhos marejados cheios de tristeza, a pior dor de uma filha é ver sua mãe desse jeito. Ajeitei minha bolsa em minhas costas e dei um beijo em sua bochecha. Antes de sair do quarto a olhei pela última vez, limpando as lágrimas e tremendo.
— eu prometo. — levantei o dedinho para ela e ela levanta também o seu, chorando ainda mais.
Assim que saí do quarto, vi Diego já de pé quase não se aguentando.
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Lavagem de ouro
De TodoLuna Costa, uma mulher determinada e brilhante, nunca aceitou as limitações impostas pela vida. Após enfrentar inúmeras adversidades e dificuldades como moradora de rua ao lado de seu melhor amigo, ela se torna a fundadora e líder do maior grupo cri...