"Confiança? e Raiva."

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Hiroshi e Yohan saíram do castelo, a tensão ainda pairava no ar. O sol estava radiante, o céu tingido com tons de laranja e rosa, como se as árvores do vilarejo que ela tanto tentava esquecer estivessem chamando por ela.
Yohan é o primeiro a quebrar o silêncio entre eles. —Você está bem?—O garota pergunta.
Hiroshi olhou para ele, seus olhos ainda refletindo a confusão e a raiva.
—A Rainha... ela sabe mais do que deveria— respondeu Hiroshi, a voz trêmula.
Yohan parou de repente e olhou para a garota com seu semblante frio.
—Hiroshi, preciso pedir desculpas — disse ele, a voz sem emoção. — Eu não percebi o quanto aquelas palavras podiam te afetar. Foi insensato da minha parte usar truques sujos.
Hiroshi ficou surpresa com o tom dele. A frieza nas palavras de Yohan a fez sentir um misto de confusão e tristeza.
—Eu só queria que você soubesse que não era minha intenção menosprezar seu jeito de lidar com as coisas. — continuou ele, mantendo o olhar distante.
Hiroshi assentiu, tentando processar o que estava acontecendo. O pedido parecia sincero, mas a maneira como havia sido feito a incomodava.
— Vamos fazer essa missão não ser um fracasso. Ok?
—Está tudo bem, Yohan —
respondeu ela, tentando aliviar a tensão. Yohan apenas acenou com a cabeça, ainda com aquele olhar frio, como se estivesse lutando contra suas próprias emoções.
Decidiram seguir em frente, eles continuaram a seguir a trilha exposta, ambos cientes de que precisavam se entender melhor se quisessem enfrentar os desafios à frente juntos.

O Sol estava radiante, mas a luz não conseguia dissipar a sombra que pairava sobre Hiroshi e Yohan.
O silêncio reinava entre eles, o barulho dos passos parecia ensurdecedor em meio à tensão crescente. Hiroshi se perguntava se Yohan realmente entendia o quão difícil era para ela lidar com os fantasmas do passado. E agora tinha que enfrentar uma missão ao lado dele, mas era só uma missão, iria valer a pena pela sua liberdade.
Hiroshi sentiu um frio na barriga.
Yohan sabia que cada um tinha seus próprios métodos de lidar com as situações: ele era como a água, calmo e observador; ela era como o fogo, explosiva e impulsiva. Estava claro que precisariam encontrar um meio-termo se quisessem sucesso na missão.

Hiroshi respirou fundo, tentando acalmar a tempestade de pensamentos que a assombrava. Enquanto a garota caminhava olhando para o horizonte, onde as montanhas se erguiam majestosas sob o sol.
—Precisamos ser cuidadosos—   Disse o Yohan, cruzando os braços, em uma postura inabalável.
—Se formos descobertos, a execução do plano estará comprometida.
—Yohan, está com medo de que eu não possa dar conta da missão?Você mais do que ninguém deveria saber das minhas habilidades. — A garota sentia a raiva retornar com tudo, borbulhando dentro de si, porém tinha que se manter concentrada
—Olha Hiroshi, você precisa entender que nem tudo é sobre você e suas habilidades. Estamos a caminho de uma missão que vale um nível superior para você, não queira estragar tudo com esse comportamento egoísta.
"—Yohan fala como se essas palavras não surgissem efeito nenhum, como se os únicos ataques que pudessem ferir fossem só feitos com a ponta de uma espada afiada. —Pensou a garota.
Yohan estranha o silêncio repentino da Espadachim. Parou para observá-la
podendo perceber marcas de cicatrizes nos cantos de seu lábio, a pele extremamente pálida.
Era nítido o esgotamento da Espadachim.
Enquanto a menina tentava a todo custo buscar no fundo de seus pensamentos uma resposta, uma só resposta que pudesse destruir todo esse casco frio de Yohan, mas ela não encontrou.
Não tinha o por que procurar resposta, sabia que no fundo o garoto estava certo. Afinal, Yohan era e sempre seria o melhor soldado da Rainha, ele era mais velho do que si, ele tinha mais experiência e ainda por cima é perfeito.—Pensou a jovem.
Yohan se aproxima do corpo da Espadachim que permanece imóvel, colocando seus braços sob o cabelo trançado da garota.
—Eu sinto muito novamente Hiroshi. Vamos prosseguir na missão, certo?—O garoto afaga carinhosamente o cabelo ruivo da jovem.
Os olhos claros da menina que permaneciam focados em qualquer outro lugar da trilha que não fosse o corpo de Yohan, finalmente se cruzam.
Ela o olha profundamente, sem desviar o olhar do garoto acima de si.
—Olha, a verdade é que eu nem sei como fazer isso, aceitei essa missão por que seria a maneira mais rápida de sair daqui. Eu nunca trabalhei com ninguém, sobrevivia sozinha, eu não tinha um plano, seguia meus instintos, e o principal: eu não seguia regras. De repente tudo mudou, eu estou aqui com um companheiro, seguindo um plano que eu não estou acostumada, ignorando meus instintos para seguir as regras do seu reino idiota.

Yohan respirou fundo, percebendo a vulnerabilidade de Hiroshi.  Ele sabia que, por trás da bravura da Espadachim, havia uma jovem que lutava contra seus próprios demônios.
—Hiroshi, eu entendo o que você está sentindo—
começou Yohan, suavizando sua voz. — Eu também já estive sozinho. Ninguém consegue carregar o peso do mundo sozinho.
Hiroshi franziu a testa, ainda relutante em aceitar as palavras dele. Mas Yohan continuou:
—Meu pai trabalhava para a Rainha, eu cresci com este exército, aprendi a maneira de manusear a espada do jeito que eles queriam, aprendi a enfrentar inimigos do jeito que a Rainha ordenava. Eu entendo que deve ser mais difícil para você se acostumar com as regras daqui, mas é só por um período. Você não precisa abrir mão de quem você é para se encaixar em um plano.
A garota olhou para ele, seus olhos cheios de confusão e um toque de esperança.
— Talvez você esteja certo, mas não vou te dar essa vitória— A garota brinca, quebrando a tensão do ambiente.
— Você disse que seu pai trabalhava para a Rainha também?—A espadachim questiona.
—Sim, meu pai não é japonês, ele éra europeu, ele e a Rainha trabalharam juntos no comércio. Ela confiava muito nele, por isso que há tanto respeito entre nós.
—E seu pai está vivo?
—Não, ele morreu, faz muito tempo.— O garoto diz, friamente.
—Você tem mais alguém?— A garota pergunta, curiosa para entender mais sobre ele.
Yohan hesitou, se afastando do corpo da garota.
—Vamos, a gente ainda tem muito o que caminhar antes que do entardecer. — Yohan ignora a pergunta da menina.
Enquanto os dois prosseguiam pela trilha rumo ao vilarejo, um novo sentimento pairava entre eles. Hiroshi sentia uma mistura de calmaria vindo de Yohan, mas não podia deixar de notar que ele havia desvencilhado de sua última pergunta, talvez isso seja um assunto que ele não esteja apto a dizer.

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