"Primeira vítima."

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Yohan hesitou por um momento, o olhar fixo em Hiroshi, tentando encontrar as palavras certas. Ele nunca tinha falado sobre isso com ninguém antes, mas agora parecia o momento certo.

— A minha primeira "vítima"... — ele começou, a voz um pouco trêmula.

— Era a minha primeira missão, eu tinha 14 anos na época, eu estava com o meu pai. Era uma noite escura, nós estávamos numa vila, e tínhamos recebido a missão de eliminar um grupo de bandidos que estava incomodando os serviços da Rainha. Eu não queria falhar, queria mostrar para o meu pai do que eu era capaz. Quando finalmente encontramos o acampamento deles, eu me escondi atrás de uma árvore enquanto meu pai se preparava para atacar.-

Hiroshi observa atentamente as palavras de Yohan.

— Eu vi um dos bandidos se afastar do grupo. Ele parecia jovem, como eu. Quando ele virou de costas, eu sabia que era a minha chance. Eu me aproximei, e enfiei a minha espada em suas costas. — ele hesitou, a memória pesando sobre ele. —Eu fiz tanta força, parecia impossível atravessar o corpo dele. Ele se virou de frente para mim, caindo na minha frente.

A expressão de Hiroshi mudou para uma mistura de compreensão.

— Ele caiu, olhando no fundo dos meus olhos, ele ainda estava vivo, tentava reagir a qualquer custo. Eu fiquei paralisado por um momento, meu pai apareceu, chutando-o rosto do garoto, finalizando o serviço. Eu nunca vou esquecer daqueles olhos, o medo e o desespero estampado. Meu pai retirou a minha espada do corpo dele, entregando-a para mim novamente, me dando tapinhas no ombro, dizendo que eu tinha ido bem. Mas eu não me senti melhor, eu achei que se tivesse concluído a missão com sucesso, e tivesse recebido um elogio do meu pai, tudo estaria bem, mas nada ficou bem. Com o tempo, eu aprendi rápido, já conseguia matar friamente, mesmo que as pessoas me olhassem nos olhos e pedissem perdão. Eu não sentia nada, fazia o que era necessário.

Hiroshi olhou para Yohan, a expressão dele era fria, mas ela sabia que por dentro havia mais do que aquela carranca.

— Desde aquele dia, eu nunca mais tive dificuldades, nunca mais paralisei ao matar alguém. Parecia fácil tirar uma vida.

Hiroshi balançou a cabeça lentamente, absorvendo suas palavras.

— Eu entendo, é isso que nós torna mais fortes. — Ela disse suavemente.

Yohan sorriu leve, sentindo-se mais confortável na presença da garota.

A chuva lá fora continuava forte, mas dentro da cabana havia um novo tipo de calor: um calor desconhecido, porém amigável.

Yohan respirou fundo.

—Mas, sabe, Hiroshi — ele começou, a voz baixa e carregada de um tom sombrio —, depois daquela noite, algo mudou dentro de mim. Não era só minha habilidade que havia se desenvolvido rapidamente, era algo obscuro que começou a se manifestar.

A garota franziu a testa, percebendo que o que ele estava prestes a compartilhar ia além do que já tinha ouvido.

— Eu comecei a realizar missões ao lado do meu pai, e eu via como os olhos dele se enchiam de prazer ao completar com sucesso as suas missões, eu comecei a sentir o mesmo. — ele confessou, o olhar distante. — Aqueles olhos me seguindo após o golpe... eu não conseguia parar de pensar nisso . Era como se eles me chamassem.

— O que você quer dizer com "eles te chamavam"? — Ela questionou, quase num sussurro.

— Eu comecei a ter pesadelos terríveis, sonhos vividos onde os rostos das minhas vítimas apareciam implorando perdão, ou compaixão. E em cada sonho, eu sentia uma presença, algo me observando. Era como se eu tivesse despertado uma força que não compreendia.

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