16. Solitude.

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Antônio dirigia pela estrada enquanto Irene se mantinha pensativa, olhando profundamente pela janela do carro. Ela olhava para a estrada concentradamente enquanto se perdia em suas próprias memórias.

Todas as vezes em que Irene se lembrava de Antônio aceitando segui-la de boa vontade, seu coração se apertava. Ela sempre foi egoísta, mas não quando se tratava dele. Ela sempre colocou as necessidades dele acima das suas e ainda assim, agora estava levando-o para a morte. Ser responsável pela morte de seu próprio filho quase a levou a loucura e ela não sabia como conseguiria carregar o peso de ser responsável pela morte de mais alguém que amava.

A morte de Daniel foi um acidente infeliz, ela não havia planejado que ele pegasse aquele carro. Ela terceirizou a culpa para Caio, pois era ele quem deveria estar naquele acidente, e isso foi o que conseguiu fazer com que ela dormisse a noite. Ela nunca se perdoou, mas a confortava saber que não foi proposital. Como ela poderia matar Antônio com suas próprias mãos? O que ela diria a si mesma para se enganar? Salvar seu filho de apenas quatro anos era o certo a se fazer, mas como ela conseguiria viver com isso?

Se lembrou de quando contou para Antônio que estava gravida de Petra e o quanto ele a surpreendeu, sorrindo genuinamente por saber que um novo herdeiro chegaria a família. Lembrou-se da primeira palavra de Petra, "papai", pois sempre foi a menininha dele. Quando Antônio ensinou Daniel a andar de bicicleta e o trouxe para casa com os dois joelhos ralados. Ela até pensou em brigar com ele, mas quando ouviu Daniel rir e dizer que o dia foi ótimo, deixou a preocupação maternal de lado.

Se lembrou da primeira vez que ouviu Antônio dizer "eu te amo" para ela e que sentiu como se seu coração fosse explodir por saber que finalmente seu amor estava sendo correspondido. De como ele havia sido homem com ela quando descobriu sobre a gravidez. Colocou logo uma aliança em seu dedo, um vestido branco exuberante de noiva e assumiu ela e seu filho perante a cidade inteira, com orgulho, mesmo sabendo de seu passado.

— Irene? Está tudo bem? Você está calada desde quando saímos de lá, parece até que está em outro mundo. – Antônio a conhecia bem e sabia que havia algo ali que ela não estava dizendo. Ela apenas suspirou e voltou a olha-lo.

— Eu estava lembrando da nossa vida juntos, dos nossos filhos... – Seu tom era de pesar e ela parecia estar completamente distante.

— Tem alguma coisa que você queira me contar? – Questionou, e ela apenas negou com a cabeça.

— Eu estava pensando no endereço que Alex mandou. – Pigarreou, tentando mudar de assunto. — Eu não conheço esse lugar. Quer dizer, eu sei que a família dele veio dessa cidade do interior, mas eu não sabia que ele ainda tinha propriedades lá. Quando nos casamos e ele comentou sobre os falecidos pais, me disse que vendeu a fazenda.

Irene pronunciava as palavras enquanto girava a aliança em seu dedo anelar, hábito comum para ela quando estava nervosa, ajudava a acalmar sua ansiedade. Alex havia sido especifico na mensagem, assegurando que lá havia instruções para o próximo local que ela deveria seguir. Assegurou que lá também se encontraria a arma que seria usada no crime.

Quase cinco anos casada com um homem para descobrir que ele era um grande psicopata doentio, ela não podia acreditar que isso estava acontecendo com ela. Antônio era um assassino, mas ele não tinha o sadismo de Alex. Antônio gostava de poder, mas ainda era capaz de ter sentimentos. Já Alex era obcecado pelo poder, e ela se questionou se ele era capaz de sentir qualquer coisa real por alguém.

Ela não fazia ideia de que arma seria, nem sequer sabia pelo que procurar. Ela sequer pensou no que diria a Antônio quando chegassem a um lugar vazio, como mentiria para ele? Toda essa situação estava exigindo o sangue frio que ela nunca teve. Ela já havia matado antes, com suas próprias mãos esfaqueou um homem. Anos antes, asfixiou um ex namorado que a ameaçou quando descobriu sobre ela e Antônio. Mas, era diferente. Ela não tinha qualquer tipo de sentimento por eles e foi necessário para sua sobrevivência.

memory - antoreneOnde histórias criam vida. Descubra agora