3. Lost at Sea

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Antônio estava inquieto, andava de um lado para o outro sem parar e possivelmente seria capaz de abrir um buraco no chão de sua sala. Havia se passado 3 dias desde aquele maldito jantar e não havia um único segundo em que não pensasse naquela mulher. Ele até tentou ocupar sua mente, mas sua agonia era tanta que foi perceptível até para sua nova esposa.

Ele havia encontrado uma desconhecida...

Uma desconhecida ao qual ele sabia o nome. Uma desconhecida ao qual conhecia seu toque, seu cheiro, seus medos, suas dores, suas curvas e cada parte de seu corpo que estava gravado em sua memória como uma tatuagem. Sabia como era a sensação de tê-la em seus braços. Conhecia o gosto de seu beijo, seus pesadelos, seus sonhos, suas mentiras e suas verdades. Ele sabia tudo sobre ela.

Quando Antônio escapou da morte, ele realmente não imaginava que a encontraria novamente. Era como se a vida sempre desse um jeito de trazer ela de volta para ele. Sem se importar com quais fossem suas vontades e consequências, o destino novamente a colocava em seu caminho.

Se pudesse ser sincero consigo, ele nunca conseguiu odiá-la totalmente e teria a perdoado se ela lhe tivesse pedido. A verdade é que Antônio nunca conseguiu verdadeiramente resistir a ela ou viver totalmente sem sua presença. Com Agatha, ele estava com raiva e foi a forma que encontrou de puni-la pela traição que feriu não somente seu ego, mas também a imagem que ele mantinha de "esposa perfeita". Foi relativamente fácil, pois pouco tempo depois ele estava confuso devido ao veneno que ingeria em doses homeopáticas todos os dias.

Ele nunca mais havia bebido chá.

Ele se pegou sorrindo lembrando do "sequestro" de Irene para tirá-lo das mãos de Agatha. Nunca admitiu a ela, estava confuso na época, mas ele se lembrava que ela havia tentado salvá-lo com o pretexto de que precisava cuidar dele. Pensar que ela era motivada apenas pelo dinheiro dele tornava as coisas mais fáceis, pois saber que ela o amou mesmo quando ele não merecia, o atordoava.

Logo em seguida memórias daquela noite em que ela esteve no hospital veio em sua mente, "eu te amo tanto"... Como ela pode estragar tudo? Como ela pode mentir e ter matado o filho que eles mais amavam? Como ela pode ter acabado com eles? Antônio sentia um gosto amargo tomar conta de sua garganta enquanto se perdia em seus pensamentos.

Ele se lembrou então, da noite em que descobriu e que ele desejou desesperadamente que ela dissesse que era uma mentira de Caio apenas para fazer com que eles brigassem. Ele desejou tanto que ela negasse, que ela jurasse olhando nos olhos dele que não havia feito nada daquilo, mas em seus olhos só havia dor e culpa.

"Eu nunca mais quero te ver na minha frente".

Doeu nele como nunca. A raiva queimava sua garganta, mas a dor que ele sentia no peito era muito maior. Ele nunca teve dúvidas de que ela amava Daniel, mas como ele poderia perdoá-la se nem ela mesma conseguiria se perdoar?

Antônio nunca teve o hábito de beber muito, mas quando ela se foi, não via outra alternativa, a não ser encher a cara para tentar amenizar aquela agonia constante que sentia no fundo de sua alma. Ele bebeu durante dois dias seguidos, pois aquela casa sem ela era insuportável e o silencio o deixava solitário como nunca.

Se ela tivesse voltado, ele não teria coragem de afasta-la nunca mais..

De fato, Antônio nunca foi um homem de expressar seus sentimentos. "Sentir" sempre foi sinônimo de fraqueza, ou como seu pai gostava de chamar, "coisa de mulherzinha". Ele sabia que os tempos eram diferentes, mas como ele, um homem "chucro" que viveu a vida toda em uma fazenda no interior e que foi criado para ser forte e implacável, conseguiria mudar isso? Ele nunca teve um pai amoroso, como poderia ser um? Nunca viu seu pai ser um bom marido, como ele conseguiria ser um exemplo de marido em seu casamento? No final das contas, às vezes nos tornamos espelhos de nossos pais e repetimos os mesmos erros. Ele não era tão diferente do que o pai dele foi e mesmo jurando que seria melhor, ele apenas se tornou aquilo que foi criado para ser. O fruto realmente não cai tão distante da arvore, com exceção de seus próprios filhos.

memory - antoreneOnde histórias criam vida. Descubra agora