Irene e Antônio estavam sentados em uma mesa afastada dentro da loja de conveniência que ficava em um posto de gasolina deserto, na beira da estrada. Ambos absortos em seus próprios pensamentos, sem dizer uma palavra por longos minutos, mas sabiam o que se passava na mente um do outro. Quem os visse de longe sentados naquele lugar vazio observando a janela, achariam que era um casal comum de viajantes, apenas parando para tomar um café. Afinal, quem diria que horas antes passaram por situações de verdadeiro horror e que quase perderam a vida? Aquelas duas pessoas que estavam próximas, na mesma mesa, mas que ainda assim, pareciam completamente distantes.
— Irene, e agora? Qual vai ser nosso próximo passo? – Antônio a olhava atentamente aguardando uma resposta, enquanto bebia um gole de seu café preto. Ele observou que ela apenas olhava para o liquido de sua xicara em silencio, como se tivesse desaprendido a falar.
— Sinceramente? Não sei, Antônio. – Sua voz estava cansada e sua expressão denunciava o quanto ela estava perturbada com tudo. A vida de Irene nunca havia sido fácil, mas ela nunca passou por nada parecido com aquilo antes e não sabia como digerir. Sentia falta de seu filho e de como a vida um dia pareceu mais simples. Como ela poderia seguir com seu dia normalmente depois de quase ter sido queimada viva? Depois de ter sido perseguida por um desconhecido que teve seu rosto encobrido pela fumaça, enquanto corria desesperadamente para salvar sua vida? Tudo aquilo teria sido demais para qualquer um.
— Você tem alguma ideia de qual era o lugar ele mencionou naquele bilhete? – Tentou puxar conversa, pois sabia que precisavam ser rápidos. Alex não desistiria de ter a vingança dele e quanto mais tempo demorassem para encontra-lo, mais perigoso seria. Ele dava as cartas do jogo e lutar contra isso, seria ainda mais perigoso.
— Eu não sei. Não tenho ideia se ele estava falando do lugar onde nos conhecemos, de onde nos casamos, ou onde adotamos nosso filho... – Suspirou exausta, toda aquela situação estava drenando toda sua energia.
— Precisamos pensar rápido, Irene. Ele está vários passos a nossa frente e eu sinceramente não quero passar por todo aquele aperto de novo. – Murmurou.
— Ele me chamou de Irene. – Sua voz saiu tão baixa que ele quase não ouviu.
— O que? – Perguntou Antônio, sem entender o que ela queria dizer.
— Ele me chamou de Irene, Antônio. Alex não sabia nada sobre minha vida antes dele, nunca contei. Sabia que havia sido casada, mas nunca entrei em detalhes. Ele me chamou pelo nome e mencionou o incêndio na plantação da viúva. Não tenho ideia de como ele descobriu ou se ele já sabia antes, mas me pegou de surpresa.
O silencio voltou a pairar sobre o ambiente e Antônio ainda estava processando as palavras dela. Estava tudo muito esquisito e ele sabia que Irene estava escondendo coisas dele e não estava gostando nada disso.
— Você precisa comer alguma coisa. – Tentou, mesmo sabendo que ela nunca comia quando estava emocionalmente abalada. Perdeu peso quando Daniel morreu e assim foi quando descobriu que Danielzinho não era seu neto. Irene sempre era muito intensa com suas emoções e isso sempre refletiu no seu estado físico e mental.
— Eu não estou com fome, só quero que isso acabe. – Seu tom de voz era fraco e cansado.
— Irene, escuta... – Segurou firme em suas mãos e olhou firmemente em seus olhos. — Daniel precisa de você. Como acha que vai ser se ele te perder? Você é a mãe dele e nesse exato momento, ele deve estar morrendo de saudades. Você nunca ficou longe dele, ficou? - Ela balançou a cabeça afirmando que não e ele prosseguiu. — Então você precisa comer. Precisamos encontrar um lugar para descansar também. Estamos no escuro, mas ele vai entrar em contato, com certeza aquele infeliz não vai nos deixar em paz. E eu.. Eu também preciso de você.

VOCÊ ESTÁ LENDO
memory - antorene
FanfictionNão se pode fugir do passado para sempre. O que seria de Irene e Antônio La Selva se a vida os fizessem se encontrar mais uma vez após ambos terem seguido com suas vidas e suas identidades falsas? Um amor tão grande jamais deixa de existir enquanto...