𝙑𝙄

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    Manhã de inverno, dois garotos dormiam de conchinha e profundamente dentro de uma cabana aconchegante, nada podia atrapalhar a paz dos dois, até o momento em que escutaram batidas na madeira, e Apuh fervilhara de ódio mesmo sendo tranquilo, e abriu a cortina para se deparar com um pequeno grupo com 2 meninos e 2 meninas, todos sujos, encardidos e tremendo de frio, e a primeira garota estendeu a mão em sinal de cumprimento, assim que ele estendera a mão de volta, ela começou a falar:

-Prazer garoto, eu sou a Nogal, e esse aqui -disse apontando para a cabeça de um menino com olhos azuis ciano e um olhar de poucos amigos segurando em suas mãos um porco que tremelicava de frio -é meu irmão Jazzghost, ela é a Sam e esse aqui é o Dlet, e a gente gostaria de saber se você tem comida para nos dar...

-Eu não acho que ele nos dê muita comida, nem parece estar sozinho Nogal, uma cabana grande dessa para uma pessoa só é um tanto sem lógica, especialmente que eu chuto que ele tenha uns 15 anos...

-Tenho 13, e eu realmente não estou sozinho, eu moro com meu melhor amigo e com um guaxinim bebê, e sim, eu tenho um pouco de comida, e dependendo do quanto vocês comem, tem o suficiente para vocês, já volto. -Dito isso, o ruivo voltara para dentro e pegara uma cesta cheia de laranjas e pegara 8 delas, depois pegara algumas cerejas de outra cesta sem notar que estava sendo visto pelo garoto de olhos rosas, e assim que notou, sorriu um tanto sem jeito e lhe explicara o que havia acontecido, e assim que explicado, o outro garoto sorriu também e tornou a dormir de maneira profunda se virando para a parede, e o mais velho saiu e deu a eles as frutas que tinha, e percebendo que não tinham aonde ir oferecera uma área da clareira para construírem a cabana, e o pessoal aceitara de bom grado, assim passara o inverno com uma companhia mais... Inquieta. Gritante. Que acordava cedo até demais e o porco pulando toda hora perto das cestas, e às vezes ele era encontrado brincando com o guaxinim, Lg e Apuh fizeram uma amizade forte com o pessoal (exceto Jazz, esse não curtia muito socializar com alguém que não fosse Sam) e esses se ajudavam de maneira mútua e se metiam em várias, especialmente Nogal e Dlet com a dupla, que ganharam uma amizade, mesmo que não instantaneamente, ela existia de um espírito de equipe que os quatro tinham, mesmo que às vezes a garota e o garoto reclamassem de estarem sendo os candelabros acesos de um jantar romântico, e logo depois sorrissem maliciosamente os deixando sozinhos.

    Chegou-se a primavera, o mundinho que há três meses era somente dos garotos agora tinha mais gente envolvida, Rock estava crescendo firme e forte e já estava com 4 meses fazendo também uma grande amizade com o porco que logo depois se revelara Midas, o Dlet se revelara muito bom lutando com animais selvagens perigosos, tanto que este e Lg começaram a ensinar o ruivo a fazer isso juntos, e pouco a pouco conseguiam ensiná-lo; Nogal era terrível em costura e cozinha, contudo era muito boa de pesca e de coleta, e por sua vez Apuh e ela ensinaram Lg a fazer isso; Sam, Dlet e Lg eram muito bons em costura e cozinha, e ensinavam os mais velhos a fazerem isso, e todos se ajudavam de maneira mútua, quer dizer... Jazz não, mas não atrapalhava em nada então estava tudo bem. Em uma verdadeira bagunça organizada, contudo era uma bagunça memorável e alegre, todos se sentiam bem em fazer parte daquela pequena comunidade que só crescia conforme todos cresciam.

   Apuh, Nogal e Lg chegaram à beira dos 15 anos e aquela sensação esquisita que o ruivo sentia desde trinta e cinco luas atrás ainda não havia passado, pelo contrário, somente aumentava cada vez mais, especialmente perto do de olhos rosas, e este ligeiramente ficava um tanto mais aflito também, tanto que toda vez que se encaravam por tempo demais ficavam com uma vergonha surreal e atingiam um tom excepcional de vermelho que nunca havia sido visto em nenhuma fruta na vida, e os outros do grupo ficavam extremamente estressados com eles por causa dessas vergonhas, nada parecia ser a mesma coisa para os garotos, os abraços eram mais longos e apertados, e às vezes quando se juntava muita coragem eram acompanhados por selinhos na bochecha, observar a lua já não trazia o conforto amigável casual que era antes, era um outro tipo de conforto, um conforto mais enamorado, algo que apesar de beirar a estranheza ele gostava um pouco, contudo se sentia meio mal por estar gostando do melhor amigo ao invés de garotas e não comentava nada sobre isso com ele e com mais ninguém, porém sabia que haveria um momento em que não poderia mais esconder o pecado de ninguém, mesmo que não fosse agora o tempo, não era tão bom se apaixonar por alguém que tinha o mesmo sexo... O medo se fazia cada vez mais presente, o medo de Lg não sentir a mesma coisa e começar a julgá-lo, ou pior, terminar a amizade que há tanto tempo construíram juntos, ou do pessoal começar a fazer a mesma coisa e até o denunciarem em direção à forca, não havia nenhuma mágica na preferência quando esta se dirigia a um garoto, não havia sido uma piada muito engraçada da vida, todavia ele não poderia fazer nada a não ser esperar aquilo passar e largar de mão dessa paixão boba.

    O outono naquele ano havia começado mais colorido, mas o ruivo não estava conseguindo enxergar a cor por culpa da aflição que sentia quanto ao seu segredo que considerava extremamente obscuro, e essa aflição estava o consumindo por dentro, e o pessoal começara a notar que o garoto estava diferente, não conseguia comer direito, estava ficando mais pálido e tinha uma preferência maior em ficar sozinho, dando um afastamento de todos, e Lg era o que mais estava preocupado com o amigo, temendo que este cometesse um suicídio se jogando do alto da montanha, então saíra a sua procura dentro da floresta no meio da noite e da chuva, e depois de uma busca dificulta o encontrara sentado à beira do lago, aparentemente chorando ou era culpa da chuva... 

𝘼 𝙫𝙚𝙧𝙙𝙖𝙙𝙚𝙞𝙧𝙖 𝙧𝙚𝙘𝙤𝙢𝙥𝙚𝙣𝙨𝙖-𝑳𝒂𝒑𝒖𝒉Onde histórias criam vida. Descubra agora