𝙓𝙄

69 5 12
                                    

     Logo após alguns dias se passarem, em pleno verão, o acampamento fora desmontado após quase sessenta luas em uso, Lg e Apuh diziam adeus a sua querida clareira, e agradeciam pelas boas memórias que ela os proporcionara, enquanto se abraçavam e a admiravam uma última vez, e assim que se despediram, se uniram ao grupo, que estava já descendo a montanha com as coisas. Era início de inverno, então o melhor que poderiam fazer era caminhar pouco todos os dias, e se abrigarem nos lugares mais quentes que conseguiam encontrar, entretanto quase todos gostavam assim, pois poderiam fazer diversos programas juntos.

    Em um desses dias, Jazz encontrara algumas pinhas e dissera que poderiam fazer uma espécie de jogo, ele colocou uma das pinhas no chão e fez um círculo perfurando a neve em volta, logo pegou um graveto e começara a dizer algumas palavras esquisitas, e aí Apuh percebera o porquê de Jazz temer a igreja mesmo gostando de uma mulher... Jazz praticava magia...

-E eu recubro esta fruta em um manto que protegerá tanto ela quanto os meus amigos mais profundos e minha alma gêmea, somente não esquecendo do meu precioso Midas -Declarara Fitando primeiro Apuh, Lg e Nogal e logo depois Sam e Midas, o porco que estava no colo da moça na esperança de ser aquecido, e assim que terminou, um feixe de luz azul e dourada saiu da pinha e se transformou em um manto dourado sobre as cabeças de todos, com exceção de Dlet, que estava em um canto dando gelo em todo mundo, ninguém se importava, até achavam um alívio ele estar dando esse tratamento de silêncio ao invés de julgar todos pela maneira que viviam, Nogal por "estar usando roupa curta, porque Robin não gostava nhe nhe nhe", Apuh e Lg por "Estarem pecando com aquela relação ilícita que tinham, já que eles iriam para o inferno e blá blá blá", Sam por estar com um macumbeiro e Jazz por ser um macumbeiro, como se Dlet fosse um juiz sem nenhuma imperfeição sequer, e aquilo já estava os estressando bastante, mas sabiam que uma condenação por matar alguém era pior do que fazerem as coisas que faziam juntas, então se contentaram a viver com Dlet até que ele morresse de tuberculose.

    Após o ritual, Nogal levantara uma fogueira ao lado de fora e Sam começara a cozinhar um ensopado de outras pinhas que Jazz coletara, e com algumas galinhas que Lg caçara, e o jantar havia ficado excelente, Apuh sempre dissera que Sam tinha mão boa para cozinhar, e todos, com a exceção de Dlet, é claro, concordaram com ele nesse quesito, para falar a verdade todos haviam alguma habilidade especial com a qual poderiam se orgulhar. Era muito bom isso, já que cada um poderia contribuir com a sobrevivência do grupo com a sua própria inclinação, fosse conseguindo comida ou construindo abrigos.

-Lembrem-se, um bom ensopado se faz com misturas, sejam com acertos, sejam com erros, mas não é porque você coloca um ingrediente diferente do que diz na receita, que você deva jogar a comida fora, às vezes, esse ingrediente diferente pode ser o catalisador para a sopa perfeita, e o mesmo funciona com a gente, não é porque uma pessoa seja diferente que ela deva ser queimada ou enforcada, afinal ninguém é obrigado a se encaixar em um padrão, e assim como em um ensopado, o ingrediente diferente pode ser o que torna a pessoa melhor -Refletira Sam, enquanto servia o jantar a todos os presentes, e Nogal continuara as reflexões da amiga -Você tem razão Sam, não é nada justo a sociedade tentar nos encaixar em padrões, sabendo que cada um é diferente e tem um tempero distinto, não dá para usar em toda sopa, por mais que eu tenha dificuldade em cozinhar... -Todos riram após ela dizer isso, e Jazz logo declarara em meio aos risos -Sabe Nogal, esse pode ser seu tempero especial, e de qualquer jeito você é excelente em costura e em muitas outras coisas, e é esse seu jeitinho que te faz uma dama excelente -Assim que o rapaz terminou, sorriu para a amiga, e Nogal lhe retribuiu, agradecendo-lhe em seguida.

    E o inverno se seguiu assim, até que eles perceberam que já estavam chegando perto de um vilarejo, o vilarejo Machara, uma pequena terra de camponeses e trabalhadores que limpavam a neve em frente às suas casas naquele exato momento, e ali Apuh e o restante do pessoal notaram que seria um lugar aconchegante para passarem os próximos anos, até porque os cidadãos de Machara eram pessoas simpáticas e de mente aberta, que também discordavam dos princípios católicos e acolhiam as pessoas consideradas "blasfemas" pelo regime, que no caso eram mulheres que não se submetiam aos maridos (ou nem tinham), pessoas que praticavam bruxaria e principalmente pessoas que tinham inclinações ao mesmo gênero. Eles imediatamente foram recebidos como revolucionários, e a primeira pessoa que os acolhera declarou que era bruxa também, e que tinha uma gatinha chamada Aurora que a ajudava em seus rituais, Dlet imediatamente tentara dar em cima da moça, que o recusara dizendo que estava noiva, e logo afirmara que seu nome era Cherry, e que ela tinha um irmãozinho chamado Pedrux... Apuh acabou notando que a moça era extremamente parecida com ele, e pelo semblante dela ao vê-lo, achara a mesma coisa...

𝘼 𝙫𝙚𝙧𝙙𝙖𝙙𝙚𝙞𝙧𝙖 𝙧𝙚𝙘𝙤𝙢𝙥𝙚𝙣𝙨𝙖-𝑳𝒂𝒑𝒖𝒉Onde histórias criam vida. Descubra agora