𝙄𝙑

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    Mais seis luas se passaram, os garotos finalmente superaram a partida de Jhonatan e Apuh havia começado a caçar animais pequenos com a ajuda do de olhos rosas, que vinha ensinando ele em todo dia que encontravam um, e assim garantiam um jantar um pouco melhor do que bagas verdes e duras que era o que encontraram na caminhada longa que faziam, entretanto estavam um pouco aflitos, pois o inverno estava prestes a começar e eles não tinham nenhum lugar para morar, e de certeza estavam ficando com bastante frio, um frio desconcertante que os deixava desfocados e distraídos, até que Lg encontrara uma pequena clareira cercada de pinheiros grossos que os protegeriam de animais selvagens e do inverno que se aproximava.

-Aqui é um lugar excelente Apuh! Vamos morar aqui! Quer dizer... Se você quiser é claro... -O garoto de olhos rosas se animara declarando que tinha encontrado um bom local, entretanto assim que percebera que estava impondo sua opinião, logo acrescentou a suposta correção para seu comentário aparentemente sórdido, logo sendo continuado pelo ruivo: -É um lugar maravilhoso mesmo Lg, parabéns pela escolha, mas... Não precisa da minha autorização pra fazer tudo, não sou seu chefe e não tenho nenhuma autoridade sobre você... -Disse fitando o mais novo com certa condolência, e com uma sensação esquisita que estava deixando ele um tanto desconfortável, mas a ignorara por enquanto -Mas enfim, vamos começar a construir a casinha antes que o inverno comece e nós viremos cubos de gelo e neve e morramos aqui.

-Ok? Mas a gente não morre de frio... Morre?

-Claro! Existem muitas pessoas que acabam recebendo uma visita do ceifador por estarem congeladas... É muito triste pra dizer a verdade...

-Ah... Minha nossa... -E talvez pensando em como alguém morria de frio, Lg acabara calando-se e trabalhara em um completo silêncio, ignorando por completo as tentativas de seu amigo ruivo puxar conversa, o que mais uma vez foi motivo de olhares afáveis do mais velho, pois novamente se recordara do ataque da varanda, era inevitável focar nele e não se lembrar daquilo. Terminara novamente o inverno, o primeiro inverno sem o guaxinim os acordando pisando na cara e nas roupas deles, e as flores primaveris novamente começaram a desabrochar, os garotos estavam arando a terra fértil da clareira enquanto admiravam as pequeninas flores que nasciam, até que Apuh pegara uma dessas flores do chão e oferecera uma para Lg, que o olhou corando levemente e aceitou de bom grado com uma análise ao floreado de cor púrpura que acabara de receber, Apuh sorriu e continuou a trabalhar, um pouco mais aliviado por ter feito seu amigo feliz por um momento alongado, e Lg lhe retribuiu o sorriso com brilho no olhar, por mais que logo depois tivesse começado a se considerar a pior pessoa do planeta e olhasse o nascer do sol um tanto desiludido e desencorajado, o ruivo não havia conseguido entender o por que daquele comportamento estranho, porém não questionara o garoto de olhos rosas, pois talvez fosse apenas o reflexo do tratamento que recebia dos seus senhores antes de ir morar com ele, então simplesmente desconceituou a atitude, por mais que isso tivesse deixado o juvenil mais triste ainda, e algumas lágrimas tivessem começado a se formar nos olhos claros pela alva, fazendo o mais velho pedir para ele entrar e se acalmar até que estivesse melhor para continuar trabalhando. Trabalhou e trabalhou fervorosamente até sair da matina e chegar o sol do meio do dia, quando notou que o companheiro ainda não havia voltado e tudo estava muito quieto, então largou a ferramenta que estava arando a terra e adentrou a casinha, encontrando ali dentro um garotinho choroso enrolado entre duas unidades de musgo que haviam crescido ao redor das paredes se colocando como alguém atroz que nunca deveria ter saído do ventre da mãe, modos que ficaram cada vez mais estranhos quando ele se condenara à guilhotina por cometer toevah consciente e evitara olhar para o ruivo quando este tentou falar com ele, mas... O que era toevah e qual era o problema disso para ser um motivo de condenação pra morte? Mas ignorando o fato de estar sendo considerado um ser inexistente o mais velho se aproximara do lugar onde seu amigo estava e tentou novamente socializar, sem nenhum sucesso, o que o fez pensar que talvez não fosse uma boa companhia e o garoto quisesse voltar para o lugar aonde morava e continuar trabalhando como escravo ao invés de permanecer ali, e por mais que algum tempo depois ele achasse isso a mais completa idiotice, naquele momento ficou pensando na possibilidade e ficou um tanto mais desanimado para continuar fazendo as coisas.

    Horas depois, perto do fim do crepúsculo, Lg lhe aparecera com os olhos inchados e tremelicando, se desculpando pelos modos repentinos de angústia que o atingiram forte naquela tarde, por isso ele havia entrado em um choro imparável e que estava o ignorando, mas prometera que isso não ocorreria de novo, e o ruivo, que estava sentado em uma pedra, com os sentimentos oscilando entre cansaço e tristeza, o perdoara pela atitude, enquanto pensava se deveria ou não começar logo a educá-lo para a independência, para evitar novos ataques como aquele, e quando Lg percebera que ele estava levemente confuso com o seu modo de agir logo justificara com o fato de que nem sempre era para se importar quando estivesse ocorrendo, mas sim ignorar completamente e continuar vivendo que ele logo melhorava, já que isso já era muito comum para ele, e os senhores dele antes sempre o tratavam assim, então ele já estava acostumado, coisa que deixara Apuh ainda mais aflito pelo moreno, já que se ele aceitava ser tratado como resto de fruta podre normalmente, o mais velho não tinha a menor noção da dimensão do que o amigo enfrentava antes de viver com ele, o que o fez fitar Lg com uma condolência maior do que já sentia, por mais que desta vez fosse completamente involuntária.

Teovah: É um termo criado com o significado de "tabu", que no caso da história se refere ao homossexualismo antes de ser aceito pela sociedade.

Ontem foi meu dia de bolo, 15 aninhos :D

𝘼 𝙫𝙚𝙧𝙙𝙖𝙙𝙚𝙞𝙧𝙖 𝙧𝙚𝙘𝙤𝙢𝙥𝙚𝙣𝙨𝙖-𝑳𝒂𝒑𝒖𝒉Onde histórias criam vida. Descubra agora