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- Ela e você são um tanto parecidos... Não? - Sam questionou, ligeiramente intrigada com a semelhança entre Apuh e Cherry, o rapaz não a julgava, para falar a verdade estranhara a mesma coisa. - Talvez seja somente uma grande coincidência, afinal nós encontramos pessoas parecidas conosco em vários momentos... - Lg analisou a situação mais a fundo, mas Apuh sabia que o parceiro estava um tanto assustado com a aparência idêntica da moça, afinal as pessoas ruivas de cabelo cetrino não eram muito comuns naqueles tempos.

- Eu não acho que sejamos irmãos, mesmo que nos pareçamos... - Cherry afirmara segurando as cintas que prendiam o vestido longo que ela usava, entretanto assim que falou saiu abruptamente, a jovem parecia apressada com algo.

    Horas depois, uma mulher corpulenta e igualmente ruiva aparecera para receber os jovens, ela utilizava um vestido que somente ia até os joelhos, como Nogal, e com um semblante que misturava cansaço e alegria, logo declarando que se quisessem um lugar para ficarem enquanto não encontravam um lar, poderiam ficar na casa dela, Apuh e Lg foram os primeiros a decidirem, e ambos aceitaram a hospedagem da mulher, logo sendo seguidos pelos amigos, exceto por Dlet, que estava fitando Sam de um jeito levemente suspeito.

    Sam franziu a testa, sentindo a tensão no ar. Dlet sempre tinha um jeito de ser um pouco invasivo, e naquele momento, com seu olhar fixo em Sam, a situação ficou estranha. Jazz, percebendo o desconforto da namorada, apertou os braços ao redor dela, como se quisesse protegê-la de qualquer comentário indesejado.

- Vamos, Dlet - disse Lg, tentando quebrar o clima. - Por que não vamos conhecer a casa da mulher? Deve ser interessante.

    Apuh olhou para a mulher ruiva, que ainda estava com o semblante alegre, entretanto um tanto perdida em seus pensamentos. Havia algo na forma como ela tinha aparecido que o intrigava. Ele se perguntava o que ela estava realmente escondendo.

- Certo, vamos lá - Concordou Apuh, tentando ser otimista. - Pode ser uma boa oportunidade para a gente se estabelecer por um tempo.

    A adulta, que se apresentou como Clara, levou o grupo para dentro de sua casa. O interior era acolhedor, com paredes pintadas em tons quentes e um cheiro agradável de comida caseira, haviam algumas decorações que pendiam nas paredes, algumas pinturas neorrenascentistas que foram feitas por um artista local. Clara se mostrou bastante simpática, perguntando sobre suas histórias e como tinham chegado ali.

- Sinto que estamos todos conectados de alguma forma, não é? - Comentou Clara, olhando para Apuh e Cherry, que ainda não tinham se entendido muito bem. - Às vezes, as coincidências têm um significado mais profundo.

    Cherry, que escutava a conversa da porta, voltou-se para encarar Clara, seu olhar um tanto confuso. A ideia de serem mais do que apenas estranhos a incomodava, mesmo que ela fitasse Apuh com um olhar maternal de alguém que perdera seu filho há tempos e agora achara novamente.

    A atmosfera na sala parecia carregada de significado, e o olhar de Clara em direção a Apuh fez com que o rapaz se sentisse um tanto encabulado. Ele não conseguia entender por que aquela mulher desconhecida a olhava assim, como se visse algo que ele mesmo não conseguia identificar.

- Coincidências, hein? - Murmurou Cherry, tentando manter a compostura. - Às vezes são apenas isso, coincidências.

    Clara sorriu, mas havia uma profundidade em seu olhar que não passava despercebida.

- Às vezes, as coincidências são o universo tentando nos mostrar algo — respondeu Clara, sua voz suave. - O que vocês buscam, afinal?

    Os outros jovens se entreolharam, hesitando em responder. Sam, ainda segurando Jazz, decidiu quebrar o silêncio.

- Estamos apenas tentando encontrar um lugar seguro para ficar — disse ela, buscando um tom mais leve. - Depois de tudo que passamos, só queremos um pouco de paz.

- E você acha que encontrou isso aqui? - Clara perguntou, inclinando-se levemente para frente, interessada.

- Esperamos que sim - disse Apuh, sentindo-se à vontade para se abrir um pouco. - Mas há algo em tudo isso que nos deixa curiosos. Como você apareceu tão rapidamente e ofereceu sua casa?

    Clara riu levemente, como se a pergunta fosse um convite a compartilhar algo mais profundo.

- Eu sempre acreditei que o que fazemos por amor pode mudar o destino das pessoas. Quando vi vocês, senti que poderiam precisar de um abrigo. Às vezes, a vida nos leva a lugares que não esperávamos, mas onde precisamos estar.

    Apuh notou que Cherry sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Havia algo na maneira como Clara falava que ressoava com sua própria busca por pertencimento. Ela olhou para Apuh, que parecia absorver cada palavra.

- E você já teve alguém assim em sua vida? - perguntou Lg, quase sem pensar.

    A pergunta pegou Clara de surpresa. Ela hesitou por um momento, e o sorriso em seu rosto se tornou um pouco mais melancólico.

- Sim, já tive - respondeu, seu olhar perdendo-se por um instante. - Mas a vida é cheia de mudanças. Às vezes, as pessoas vêm e vão, mas as memórias e os laços permanecem.

    Dlet, que até então tinha estado em silêncio, aproveitou a oportunidade para intervir.

- Então, você acredita que esses laços podem se formar rapidamente? — questionou, com um tom desafiador. - Como pode ter certeza de que somos dignos de sua confiança?

Clara o encarou com firmeza, mas sem hostilidade.

- A confiança é uma escolha. E a primeira escolha é acreditar que todos têm algo a oferecer, mesmo que não percebam.

    A resposta a deixou intrigada e, ao mesmo tempo, a atmosfera na sala parecia se aquecer. Cherry, sentindo a conexão, começou a se abrir.

- Acho que todos nós estamos em busca de um lugar onde possamos ser aceitos — disse Cherry, sua voz mais suave. - E talvez, apenas talvez, isso nos traga aqui.

Clara sorriu de novo, e a tensão no ambiente começou a dissipar. A conversa se desenrolava de forma mais natural, como se estivessem começando a descobrir não apenas um abrigo físico, mas um espaço onde poderiam compartilhar suas histórias, suas dores e suas esperanças.

Apuh sentiu que essa era uma oportunidade única de entender não apenas a conexão com Cherry, mas também com os outros. Ele sabia que, enquanto explorassem esse novo lar, também estariam desvendando seus próprios mistérios internos.

𝘼 𝙫𝙚𝙧𝙙𝙖𝙙𝙚𝙞𝙧𝙖 𝙧𝙚𝙘𝙤𝙢𝙥𝙚𝙣𝙨𝙖-𝑳𝒂𝒑𝒖𝒉Onde histórias criam vida. Descubra agora