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- Vocês nunca irão me pegar! Filhos de Camille! - Gritava uma mulher no auge de seu desespero, ela carregava um menininho de 5 anos que não estava entendendo por quê do nada fora retirado da mãe à força, a mulher acariciava seus cabelos curtos e bagunçados, enquanto outra mulher e seu marido gritavam e corriam atrás dela, ordenando-a que devolvessem a criança. - Nunca! Esse monstro de vocês irá para a fogueira! - A sequestradora respondera correndo ainda mais rápido com o garotinho, que por sinal não estava entendendo nada do que estava acontecendo, e logo ambos entraram na floresta e sumiram na escuridão, deixando a real família do garoto aos prantos com a perda de seu filho. 

O que a mulher queria com ele afinal?...

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- Apuh? Apuh acorda! Você está bem? - Uma voz masculina interrompera o pesadelo do rapaz, que sem perceber estava suando frio ao lado de seu parceiro, que acordara achando que o namorado estivesse tendo uma convulsão. Lg o olhava com aqueles olhos rosas, temendo que a qualquer hora acontecesse algo do tipo novamente, mas logo cedera ao cansaço e voltara a dormir ao lado do namorado, deixando Apuh com a cabeça fervendo - era só um sonho - ele queria se convencer daquilo, e logo tentara dormir também.

    A floresta ao redor de Vila Machara parecia sussurrar segredos enquanto Apuh tentava afastar as imagens do pesadelo. O sonho, intenso e angustiante, deixara um gosto amargo em sua boca. O garoto, perdido e desesperado, refletia algo que Apuh não conseguia ignorar. O que a mulher queria com ele? O que a conexão entre o passado e seu presente significava? Será que tinha algo a ver com Clara?

    Ele se virou para Lg, que dormia tranquilamente ao seu lado, a suavidade de seu rosto contrastando com a tensão que Apuh sentia. O amor que compartilhavam parecia tão sólido, mas a inquietação do sonho fazia seu coração acelerar, e ainda havia o risco iminente de serem descobertos e mortos, mesmo que as coisas estivessem calmas por enquanto.

    Enquanto a madrugada avançava (Pela posição da lua o rapaz chutou ser duas horas), Apuh decidiu que precisava entender. A imagem da mulher fugindo com o menino e as vozes que a perseguiam eram sombras que o seguiam. Ele precisava descobrir a verdade, não só sobre o sonho, mas sobre si mesmo e a família que jamais imaginara ter. Com um suspiro profundo, ele se levantou silenciosamente, decidido a investigar os fragmentos de seu passado que o assombravam.

    Ele se recordara de um sonho antigo, de quando ele havia somente 11 anos, que era o de ter uma família para si, agora... Com 17 anos estava a poucos passos de realizar o sonho, ele acreditava... Mas Apuh tinha uma família, um tanto caótica, entretanto querendo ou não era uma família, Nogal era uma boa irmã de consideração, Sam era prima e Jazz cunhado, e Lg era o parceiro perfeito, bom, não era uma esposa... Mas quem se importava se era esposa ou esposo, a sociedade e suas regras que se ferrassem, e não havia fogueira ou forca que fizesse Apuh mudar de ideia naquele momento. Com aqueles pensamentos de determinação o rapaz voltara a se ajeitar na cama abraçando Lg.

    No dia seguinte, Clara aparecera com uma bandeja de café da manhã, da qual continham duas pequenas xícaras com um suco vermelho, talvez fosse uma receita nova, uma pequena tigela de sopa de grão-de-bico e algumas amoras frescas e recém coletadas, e ela oferecera ao casal sonolento que ainda estava tentando se situar ao novo dia. Lg fora o primeiro a pegar a bandeja, e o rapaz de olhos rosados logo posicionou a tigela de sopa nas duas mãos e a levara para a boca, tomando tudo e esquecendo que havia uma segunda pessoa por lá - Pelo menos eu não gosto de grão-de-bico. - Apuh afirmou com uma falsa indignação e Lg ficou encabulado, entretanto logo ambos os jovens começaram a rir da confusão, e Clara se colocara a rir junto, e logo começando a falar.

- Vocês dois estão bem divertidos hoje, às vezes vocês me fazem me recordar da minha juventude, eu brincava assim com minhas amigas... Antes de meu pai me colocar em um casamento arranjado e eu nunca mais poder vê-las... - Clara começara a frase feliz e terminara com um tom de tristeza, do qual fez Apuh repensar novamente que as mulheres sofriam muito na mão das autoridades, da sociedade e até de seus próprios pais, fazendo com que elas se casassem com alguém que não amavam, ou até matando-as se eram independentes ou inteligentes, o que o fazia temer pelas vidas de Nogal e de Sam também, já que ambas eram exatamente como a sociedade odiava - independentes, pensadoras, líderes e inteligentes. E a desculpa da vez era novamente a Rada, para Apuh, os líderes religiosos nem liam a Rada e seguiam firmemente, somente a utilizavam em seu próprio favor para comandarem os outros, e quem descobria os planos deles ou era herege e bruxa com direito somente de morrer. E quem se rebelava contra as "regras" era do mesmo jeito e tinha o mesmo destino.

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⏰ Última atualização: 5 days ago ⏰

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𝘼 𝙫𝙚𝙧𝙙𝙖𝙙𝙚𝙞𝙧𝙖 𝙧𝙚𝙘𝙤𝙢𝙥𝙚𝙣𝙨𝙖-𝑳𝒂𝒑𝒖𝒉Onde histórias criam vida. Descubra agora