Chapter Two

167 25 4
                                    

Narrador - Point Of View

O céu estava coberto por nuvens densas e escuras, bloqueando qualquer vestígio de sol. Aquele tipo de dia que parecia espelhar perfeitamente o tumulto interno de Enid. O ar frio e úmido abraçava a cidade de Jericho, e os poucos que se aventuravam pelas ruas faziam de tudo para se aquecer. O Cata Vento se tornou o refúgio perfeito para muitos dos excluídos de Nevermore, com sua promessa de café quente e um ambiente acolhedor para fugir do clima sombrio.

Sinclair caminhava ao lado de Yoko, sentindo o cascalho úmido ranger sob suas botas a cada passo. As mãos enfiadas nos bolsos do casaco de lã, ela tentava se proteger do vento que parecia encontrar qualquer fresta em sua roupa. Ao seu lado, a vampira Tanaka falava animadamente sobre Divina, a garota que fazia seu coração bater mais rápido. Enid ouvia a amiga com um misto de inveja e admiração. Era incrível como Yoko conseguia falar de seus sentimentos com tanta clareza, sem medo de se expor.

Enquanto a vampira descrevia os cabelos brilhantes de Divina e como os olhos da garota pareciam capturar a luz de uma forma única, Enid se sentia distante. Ela tentava sorrir e acompanhar a conversa, mas sua mente teimava em vagar. Havia uma dor sutil, quase imperceptível, que pulsava em seu peito toda vez que pensava em como era fácil para Yoko aceitar o que sentia. Não havia conflitos internos que a impedissem de falar abertamente sobre Divina, nem uma mãe controladora esperando do outro lado da linha com uma opinião cortante.

Sinclair sentia o vento gelado cortar seu rosto, mas a conversa ao seu lado era como um sopro quente, quase reconfortante, lembrando-a de que havia pessoas no mundo que podiam simplesmente ser quem eram.

── Ela é tão bonita, sabe? ── Yoko continuava, os olhos brilhando ao mencionar o sorriso encantador de Divina. Enid assentia, tentando manter o foco nas palavras da amiga, mas seu pensamento logo se desviava para Wednesday Addams. O que será que ela estaria fazendo agora? Provavelmente investigando algum mistério sombrio ou torturando Eugene com alguma nova engenhoca.

O som da voz de Tanaka parecia distante quando Enid se perdeu em suas próprias reflexões. Cada passo em direção à cafeteria era como um lembrete de que ela estava em um caminho que não escolheu para si mesma. Ela não podia deixar de pensar no quanto sua vida teria sido diferente se pudesse simplesmente seguir seus sentimentos sem medo de desapontar sua mãe. A figura rígida de Ester Sinclair parecia sempre pairar sobre ela, uma sombra constante que sufocava qualquer fagulha de liberdade.

A lobisomen tentou se concentrar no som dos passos de Yoko ao seu lado e no ritmo da respiração das duas enquanto caminhavam. O ar gelado e a neblina que subia dos bueiros de Jericho davam à cidade um ar de mistério, quase como se a própria Nevermore tivesse se espalhado para fora de seus portões góticos. A conversa de Yoko finalmente perfurou o véu de seus pensamentos quando a amiga riu suavemente, lembrando-se de um momento embaraçoso com Divina. O som trouxe Enid de volta ao presente, arrancando-a de sua espiral de pensamentos.

── Você acha que ela sente o mesmo? ── a asiática perguntou, seus olhos agora cheios de um misto de esperança e incerteza. Enid olhou para a amiga, sentindo uma onda de carinho por ela. Queria tanto poder compartilhar da mesma liberdade de admitir seus sentimentos, sem medo de julgamento ou rejeição. Mas ao invés de se abrir, ela se limitou a sorrir e dar um leve aperto no braço de Yoko.

── Tenho certeza que sim. Você merece, sabe? Merece ser feliz com alguém que realmente te faz bem ── a voz de Sinclair soou genuína, mas havia uma nota amarga em suas palavras que apenas ela percebia. Ela continuou a caminhar, sentindo o cheiro do café quente e do pão recém-assado se aproximando conforme o Cata Vento surgia à vista. Em meio ao vapor que subia das xícaras e ao calor aconchegante do local, Enid sabia que, por enquanto, só podia oferecer apoio a Yoko, mesmo que sua própria felicidade ainda parecesse tão distante e fora de alcance.

Denials by Acceptance ( Wenclair )Onde histórias criam vida. Descubra agora