Chapter Three

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Wednesday Addams - Point Of View

A noite estava fria e envolta em um manto de escuridão quando finalmente cheguei ao dormitório. A chuva havia se intensificado enquanto eu caminhava de volta para Nevermore, e agora gotas escorriam pelas pontas dos meus cabelos e pelo casaco. A lâmpada do corredor piscava, lançando sombras distorcidas nas paredes, e o som distante de trovões ressoava suavemente, como um eco dos meus próprios pensamentos inquietos. Quando alcancei a porta do dormitório, dei uma última olhada ao redor antes de girar a maçaneta com firmeza.

Ao abrir a porta, fui recebida por um silêncio pesado, quebrado apenas pelo som do vento uivando lá fora. O quarto estava escuro, exceto pela luz fraca do abajur ao lado da cama de Enid. Ela estava sentada, os braços cruzados de forma defensiva, o rosto moldado por uma expressão que variava entre o descontentamento e a irritação pura. Seus olhos, que costumavam brilhar com uma alegria contagiante, agora eram opacos e fixos em mim como se eu fosse o motivo de sua frustração.

Eu fechei a porta atrás de mim com um clique suave e dei um passo adiante, largando minha mochila pesada ao lado da cama. Percebi imediatamente que algo estava errado. O ambiente estava carregado de uma tensão que eu não conseguia identificar completamente, mas que me atingia com força. Enid sequer se deu ao trabalho de me olhar diretamente; em vez disso, ela mantinha seu olhar fixo em um ponto indefinido, mas claramente incomodada pela minha presença.

── Boa noite para você também ── murmurei, não esperando de fato uma resposta. Mas o silêncio persistente dela me irritou. Sinclair não era de se calar, e esse comportamento estava fora do normal, mesmo para os padrões dela. Eu continuei a me mover pelo quarto, pegando minha toalha e algumas roupas limpas para tomar um banho quente e me livrar da umidade desconfortável que grudava na pele. Mas antes que eu pudesse dar mais um passo, a voz de Enid rompeu o silêncio com uma acidez que raramente se ouvia dela.

── Por que você estava com Xavier hoje? ── a pergunta saiu rápida e afiada, cheia de um veneno inesperado. Eu parei, virando-me para encará-la com uma sobrancelha arqueada. Ela finalmente me olhou, seus olhos brilhando com uma mistura de raiva e algo mais que eu não conseguia definir.

Por um momento, eu apenas a observei, tentando entender de onde vinha aquele tom agressivo. Havia um lampejo de algo mais profundo por trás de sua pergunta, uma emoção escondida que parecia quase sufocá-la. Mas antes que eu pudesse decifrar, a irritação tomou conta.

── Por que isso importa? ── retruquei, minha voz fria e cortante ── Com quem eu converso ou não, não é da sua conta, Sinclair ── ela bufou, seu rosto se contorcendo em uma expressão que beirava o desespero.

── Claro que é da minha conta! ── retrucou, sua voz elevando-se num tom que nunca havia usado comigo antes. Eu podia ver o tremor leve de suas mãos, um reflexo do turbilhão de emoções que ela claramente lutava para controlar ── Você anda com quem quiser, Wednesday, mas... com o Xavier? ── a forma como ela disse o nome dele estava carregada de desdém, como se fosse um insulto apenas mencioná-lo.

Eu estreitei os olhos, tentando entender o que realmente estava acontecendo. As palavras dela não faziam sentido, e havia algo mais profundo por trás dessa reação irracional.

── Você está agindo como se isso fosse um grande problema ── respondi, meu tom ainda mais gélido ── Mas não é. E definitivamente, não é um problema seu ── Sinclair parecia prestes a responder, mas hesitou, como se lutasse para encontrar as palavras certas.

Havia um brilho nos olhos dela, uma combinação de frustração e algo mais, algo que parecia mais próximo da mágoa do que da raiva. Por um segundo, uma parte de mim quis entender o porquê, mas outra parte, a que sempre mantinha distância de emoções desnecessárias, me puxava de volta à realidade. Eu não devia nada a ninguém, muito menos a explicações sobre com quem escolhia gastar meu tempo. Eu me movi para passar por ela, mas senti seu olhar ainda fixo em mim, como se estivesse esperando por algo, talvez uma resposta diferente. Mas eu não tinha mais paciência para aquilo.

Denials by Acceptance ( Wenclair )Onde histórias criam vida. Descubra agora