𝕵𝖔𝖚𝖙𝖆

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O alvorecer lançava seus primeiros raios dourados sobre as águas tranquilas da Baía dos Reis, iluminando a embarcação que navegava suavemente sob a pacífica maré matinal. Um barco de pescadores cruzava a baía, levando a bordo não mais do que dez homens, e entre elea estavam Jouta e Luck.

- Que demora! - exclamou Luck, sua frustração transparecendo em cada palavra.

- Quanto tempo ainda até Dantalion?

- Não se apresse, ainda faltam dois dias até chegarmos lá - respondeu Jouta, tentando manter a calma diante da evidente inquietação do amigo.

- Que saco, por que me mandaram pra essa merda? - a impaciência de Luck era palpável, como se a viagem estivesse se arrastando interminavelmente.

- De fato - concordou Jouta, enquanto os olhos se fixavam no horizonte onde o céu se encontrava com o mar. - Eu preferiria estar no front, lutando. - "Nossas tropas devem estar esmagando as deles" pensou. - Considerando o tamanho do nosso exército, talvez tenhamos uma vitória fácil.

- É, tanto faz - Luck tratou o comentário de Jouta com desdém, como se a situação não tivesse importância. - Mas e se eles se unirem a outro reino?

- É uma possibilidade, e espero que isso aconteça - Jouta respondeu, sua voz carregada de um misto de esperança e preocupação.

- Ei, Jouta, por que estamos em guerra? Você é o único na linha de sucessão, deve saber de algo mais profundo - perguntou Luck, seu tom inquisitivo refletindo a curiosidade que o consumia.

Jouta hesitou, seus olhos se perdendo nas águas tranquilas da baía, como se estivesse buscando nas ondas uma resposta para a pergunta angustiante que o atormentava.

- O motivo é o mesmo de antes - começou ele, a voz pesada e carregada de um peso emocional que parecia refletir em seu olhar distante. - E desta vez, a guerra só terminará com uma vitória ou com a morte do rei.

- Que morra o rei, e viva o herdeiro - comentou Luck, de forma sarcástica, mas com um fundo de verdade na sua afirmação.
Jouta soltou um longo suspiro, a frustração misturada com uma tristeza que ele não conseguia disfarçar.

- Quem conspira, morre pela boca. Eu deveria ser o herdeiro, sim, mas o rei prefere ver o reino queimar a me aceitar ao seu lado. Ele me observa da mesma forma que observa vocês, talvez até pior.

Jouta levantou-se da mesa com um ar pensativo e dirigiu-se em direção à janela da embarcação, seus olhos perdidos nas águas que brilhavam sob a luz suave do sol.

- Sabe o que eu acho curioso? - começou ele, a voz carregada de uma ironia amarga. - O rei ainda teve a ousadia de arranjar um casamento para mim com a filha do lorde de Alta-Mira.

O lorde de Alta-Mira era um homem conhecido por seu orgulho desmedido e sua soberania inabalável. Nos últimos seis meses, ele vinha estabelecendo acordos comerciais vantajosos com mercadores da Costa-dos-Náufragos, acumulando riquezas que rivalizavam com as da própria coroa. O rei Daemon, ciente do crescente poder e influência do lorde, decidiu, para evitar uma possível rebelião que poderia ameaçar seu trono, prometer seu sobrinho - o "herdeiro" - à primogênita do lorde, na esperança de garantir a lealdade e a estabilidade no reino.
- Você não se sente preso por essa situação? Todas as suas escolhas estão sendo decididas por outras pessoas - continuou Luck, com um olhar preocupado e sério. - Parece que você tem uma raiva acumulada dentro de si, talvez por não receber o reconhecimento que realmente merece?

- Não fode! - Jouta exclamou, a frustração transparecendo em sua voz elevada. A amarga verdade era que o rei não apenas o ignorava, mas também o diminuía constantemente diante da corte. Ele havia retirado sua patente de líder do Scarlett Abyss e passado essa responsabilidade a Marilyn, além de nunca tê-lo considerado como um possível herdeiro, apesar de ele ser o único na linha de sucessão.

- Estava refletindo sobre isso - suspirou Luck, sua expressão carregando um tom de desânimo -. Eu adoraria ser o lorde, se ao menos eu tivesse alguma influência. Assim, talvez eu pudesse me atrever a pedir a mão dela em casamento - murmurou, sonhando acordado com um futuro que parecia distante.

- Você tem um ponto - Jouta respondeu, um sorriso irônico se formando em seus lábios enquanto olhava para o horizonte. - Marilyn é descendente de duas casas nobres, enquanto você é visto apenas como uma praga aos olhos do rei. O que você realmente tem a perder?

- É verdade, você tem razão - Luck admitiu, a frustração ainda pulsando dentro dele, mas agora misturada com um toque de resignação e aceitação.

Enquanto o barco navegava em direção à floresta do rei, Jouta e Luck se perderam em seus pensamentos, refletindo sobre as complexidades de suas vidas. Sabiam que, ao chegarem à floresta, ainda teriam que percorrer dias a pé até alcançarem seu destino final. A incerteza pairava sobre eles como nuvens escuras que lentamente se formavam no céu, prenunciando tempestades tanto externas quanto internas, deixando ambos cientes de que, além da guerra, havia batalhas muito mais complexas a serem enfrentadas.

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