Capítulo 11

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Pov Kylie

Eu nunca fui uma pessoa de permanecer no mesmo lugar, por muito tempo. Eu sou uma pessoa passageira, vou deixando a minha marca em todas as partes do mundo. Esta foi a liberdade que ganhei ao ser fotógrafa e que não quero perder.

Quando vim para o Canadá nunca imaginei que em dois meses, iria conhecer alguém que me fizesse tão feliz, porém, eu sabia que um dia teria de partir e não lhe podia pedir para vir comigo. A Malia é muito apegada à família, ao seu país, jamais aceitaria viajar pelo mundo comigo. Eu não acredito em relacionamentos à distância...Quando planeei declarar-me à Malia, não pensava que fosse recíproco, nem sabia que iríamos ter uma noite tão incrível.
Por não saber nada disso, eu já tinha comprado o bilhete de avião para Los Angeles, para estar com a minha família. Para além disso, já tinha um percurso todo planeado, com todos os sítios para onde ia viajar, durante um ano.

A minha intenção nunca foi magoar a Malia e arrependo-me todos os dias, por ter partido. Eu poderia estar livre, mas faltou sempre uma parte de mim.

Eu nunca tentei contactá-la, pois sei perfeitamente o quanto a magoei. Eu disse-lhe que seria sempre a sua paz, a sua fonte de felicidade, e por impulso, destruía. Dava por mim todas as noites a ver o Instagram dela, raramente, ela postava fotografias dela, apenas dos seus desenhos, que deixaram de ser simples e passaram a ser complexos e perderam a sua cor, agora eram em tons de preto e branco.

Provavelmente, devo ser a pior pessoa do mundo para ela, talvez, eu até seja. Pensava que nunca mais a iria ver, e que isso tornaria a minha decisão mais fácil.

Por ironia do destino, passado um ano, estou de volta ao Canadá, por tempo indeterminado. A Morgan convidou-me para trabalhar com ela, novamente, e eu aceitei, sem me recordar que a Malia estaria tão perto.

Ela estava mesmo ali à minha frente, a completar a paisagem do outono, que tinha chegado recentemente. As árvores começaram a perder algumas folhas, estas que eram levadas pelo vento. A Malia estava sentada debaixo da sua árvore favorita, os movimentos que ela fazia ao desenhar eram bruscos e ríspidos, parecia que descontava todos os sentimentos menos bons que a assombravam, numa folha de papel.
Lembro-me que da primeira vez que a vi, ali sentada, o seu semblante era sereno e leve, ao contrário de agora, que estava pesado...

Não tive coragem de falar com ela, não depois do que fiz, deixei-me admirá-la de longe, para amenizar a saudade que me destruía por dentro.

O vento soprava cada vez mais forte, as folhas dançavam com a mesma intensidade, o som de um trovão ecoou pelo céu e a chuva começou a cair, pesadamente.

O mundo parecia cair, mas a Malia continuava sentada, a desenhar, as gotas da chuva estragaram o seu desenho e ela parecia não se importar.

Quanto mais a chuva destruía o seu desenho, mais força ela colocava nos traços e rabiscos que fazia, fez tanta força que a folha rasgou e ela em um ato de fúria, rasgou o que sobrava em pequenos pedaços. Deixou que o lápis caísse para o chão, abraçou os seus joelhos e apoiou a cabeça sobre eles.

Tive vontade de ir lá, queria protegê-la, mas como a posso proteger de mim mesma? Eu sou a causa do seu estado...A Morgan contou-me que a Malia ganhou ataques de ansiedade, constantes, que ela já não sorria, que já não queria falar com ninguém, nem com a sua mãe, nem com a sua irmã. A Morgan, a Ruby, o Joshua e o Peder, tentaram ajudar a Malia e continuam a tentar, apesar dela os ignoram e tratar de forma bruta. Ela, finalmente, fez amigos de verdade e um dia irá perceber isso.

O outono chegou e ele trouxe-me com ele, assim como me levou, quando acabou, espero que desta vez, me deixe ficar e viver as outras estações do ano.

Pov Malia

Eu já tinha ouvido falar que o amor mudava as pessoas, só não sabia que o desamor podia destruí-las. Foi o que me aconteceu, desde o dia em que a Kylie me deixou sozinha. Que espécie de amor, ela dizia sentir? Por que ela fez isto comigo? Foram as perguntas que me assombraram, durante meses, até eu perceber que existem perguntas para as quais não existem respostas.

Por mais que eu tente, não consigo ser a Malia, que era antes de conhecer a Kylie. Estou pior do que era e não me orgulho, mas por mais que tente lutar contra mim mesma, acabo sempre por perder e por me deixar afundar na dor que sinto.

Eu sabia que ao deixar a Kylie entrar na minha vida, corria o risco de ficar magoada, mas tinha esperança de que fosse tudo diferente.

Eu perdi-me, o Joshua, a Morgan, a Ruby e o Peder, tentam ajudar-me, assim como a minha mãe e a Mila, mas descarrego toda a minha raiva e toda a minha frustração neles.

A ansiedade visita-me todas as noites, ela entra de fininho e sussurra ao meu ouvido que sou a pior pessoa do mundo, que não sirvo para nada e que foi por isso que a Kylie me usou, foi por isso que ela me fez sentir tão feliz, para depois se sentir vitoriosa ao me magoar.

Eu não sei mais quem eu sou, sei que não gosto de quem me tornei, mas não tenho forças para mudar sozinha e não aceito a ajuda de ninguém. Talvez, seja este o meu destino, permanecer solitária e amargurada.

O outono, chegou à uns dias, e como sempre, fui para o jardim, ainda, encontro nele o único lugar que me transmite paz. Os meus desenhos continuam a ser a minha terapia, mas não são mais os mesmos. Os meus traços são mais pesados e rudes, as cores são só duas, preto e branco e eu já não desenhava nada em concreto, eram apenas rabiscos e mais rabiscos sem sentido.

A chuva começou a cair, intensamente, e molhava a minha folha. Eu aumentava a força dos traços consoante a quantidade de gostas que caíam sobre o desenho, até que o rasguei, senti a raiva tomar conta do meu corpo e destruí o desenho. Abracei os meus joelhos e apoiei a cabeça neles, a minha mente reviveu os momentos que vivi com a Kylie e eu imaginei-a sentada ao meu lado.

O outono chegou e trouxe com ele as memórias inesperadas de um amor, que não sentiu as outras estações, porque nasceu, cresceu, viveu e morreu no outono.

Autora

A história ainda não acabou...

A Kylie destruiu a Malia... será que o seu regresso vai piorar a situação?
Um capítulo mais pesado do que os outros, espero que gostem.

Até ao próximo, capítulo!

OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora