Capítulo 12

190 19 295
                                    

Castiel podia gostar de homens humanos.

Castiel podia gostar de um humano. Um homem humano.

Entretanto, criaturas como ele jamais amariam homens como Dean. Não que ele esperasse algo diferente, apenas sentia-se na obrigação de lembrar.

Lembrar que uma criatura tão pura, jamais olharia para um retalho e sentiria algo além de pena.

Céus. Queria gritar e nem sequer entendia o porquê.

Cas é capaz de se apaixonar por um homem humano.

Sam, Cas é capaz de amar um homem humano. Queria dizer. Queria verdadeiramente contar a seu irmão, mas não o fez.

Afinal, seu anjo já amava alguém. Alguém menos ferrado, menos reduzido a cinzas, alguém menos pecador. Amava uma boa criatura, não um assassino. E, ainda assim, tudo que sua mente era capaz de ruminar, era que Cas, seu Cas – sem possessões, encantos ou insanidade – poderia amar um homem humano.

Um homem humano melhor que Dean.

Com mãos suadas, apertou o balcão da lanchonete de esquina, batendo a ponta da bota contra o chão. Já havia passado uma hora inteira e nada de Castiel. Sem mensagens, ligações ou explicações. Nada. Como sempre fazia ao desaparecer.

Dean já podia vê-lo surgindo ao seu lado, com o rosto inexpressivo, respondendo-lhe vagamente que tinha coisas a fazer.

Quais as obrigações de um anjo rebelde? Dean gostaria de saber. Lembrava de poucas vezes em que o anjo citou orações que atendida. O que, se fosse o caso, poderia levá-lo a qualquer lugar do mundo e a qualquer pessoa.

Todo tipo de pessoa.

Apesar de encarar a janela, ele não via nada através do vidro. Sua mente era um quadro negro que apontava para um alguém bom o suficiente para Castiel se apaixonar e perigoso o suficiente para ser mantido em segredo: um humano.

Se Cas tinha tanta certeza que poderia se apaixonar por um humano - um homem humano, lembrou com um ligeiro arrepio - talvez seja porque já estava apaixonado por um. Uma pessoa entre tantos bilhões, que chamou sua atenção em uma prece.

– Está tudo bem? – Sam pergunta, de sobrancelhas curvadas, ao retornar do banheiro.

Junto dele, a garçonete se aproxima com o bloco de notas em prontidão.

– Querem fazer o pedido?

O irmão lhe concede um de seus sorriso simpáticos e, após uma vista desconfiada sobre Dean, acena com a cabeça.

– A salada de número onze e... o que vai querer, Dean?

– Dean... é um nome bonito – disse ela – O que devo te servir?

O som de um longo suspiro se perde no ar. A tela negra, riscada em gis, seguia desenhando setas na mente do caçador, dando forma a pessoas estranhas, de várias aparências e nacionalidades, na tentativa pífia de vizualizar o que Cas estava buscando.

– Dean – entoou, Sam, mais forte.

Com piscadas rápidas e um contido solavanco, a realidade tomou forma. E, os ouvidos voltaram a escutar.

– O que?

– O seu pedido, garotão – embalada na voz suave, a mulher proferiu uma risada daquelas cheias de charme, que Dean bem conhecia.

Estava flertando com ele, dando-lhe um sorriso sugestivo e enrolando seus cabelos loiros com o cabo da caneta. Era bonita, mais do que a maioria. E, contudo, não tinha nada de especial. Era apenas mais uma garçonete de bar.

Em suas asas | DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora