Capítulo 14

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É tarde quando voltam ao quarto. Dean está cansado e o pouco sono da noite passada não lhe ajuda a manter-se de pé. Então, se desfaz da jaqueta, da camisa de flanela, das botas e troca o jeans por outra calça de tecido mais confortável. Ele afunda no colchão que o chama e decide ignorar o elefante no meio da sala com a certeza de que Castiel ali estaria pela manhã.

– Anjo – chama, para ter a completa atenção daquele que ainda veste a amada camiseta do AC/DC – Me dê a mão.

Ele a entrega sem pensar, dobrando-se acima do colchão. Desprevenido, dá-se conta do ocorrido ao já ter o metal frio em torno do pulso.

– Dean?

O outro lado das algemas estrala na cabeceira da cama. De repente, a rádio dos anjos é desligada, a graça para de fluir por seu corpo e as asas não conseguem bater para longe.

– Algemas de anjo – ele explica, orgulhoso – Está pirado, Cas. Não pode fugir de mim por esta noite.

– Não fala sério – as sobrancelhas negras se curvam e os lábios contraem

Com um puxão, o metal ressoa nas grades de madeira. Não há qualquer preocupação no rosto de Dean, pois o caçador está satisfeito o suficiente com o fato de que Cas o acha o homem mais bonito da terra, para temer más reações.

– Boa noite – aperta o interruptor e puxa a corda do pequeno abajur, dando a Cas luz suficiente para suas leituras noturnas.

– Não está sendo razoável.

– Pensei que eu fosse o irritadiço da relação.

– Dean – censura, certo de que com a força humana conseguiria arrancar a grade da cama. O que lhe daria liberdade, mas não poderes.

– Durma com os humanos, Cas.

Só pode ouvir um longo e pesado suspiro deixar o anjo, para logo sentir seu peso do outro lado da cama. Diferente do esperado, o sono não lhe toma de imediato. Ele posterga sua chegada, pintando em cores neons o problema que sobre eles paira.

O homem se agita, vira para um lado e depois para outro, acabando, ao final, com os olhos sob o anjo.

– Hoje – reúne o pouco da coragem que lhe resta – Entendo sua maldição.

O reclinar de costas contra a madeira precede o virar de queixo. Os olhos azuis o encaram com muito mais que raiva em suas íris.

– Pensei que ia ignorar isto.

– Por que? – Dean puxa os lençois para si, com a lembrança vívida do calor que o toque de Cas pode proporcionar.

– É o que sempre faz. O que nós fazemos.

A afirmação tem gosto de sangue e azeda na língua de Dean. O anjo o conhecia bem demais. É exatamente o que teria feito em qualquer outra ocasião. Entretanto, dessa vez, após tudo que ouviu, há um clamor barulhento gritando em seu âmago.

– Só espero que não haja receio entre nós.

– Estou algemado, Dean. É claro que há receio.

A calmaria vem mansa ao reconhecer o tão raro tom de piada de Castiel. É usado de forma errada, um tanto fora de contexto, e, por isso, combina perfeitamente.

– Bons namorados algemam seus parceiros, Cas. Ninguém lhe contou?

– Sou seu namorado agora?

Dean morde os lábios, com apreço a sua habilidade de sempre dar a resposta errada.

– Falou a verdade no parque? – a luz amarela brinca no rosto angelical, destacando as curvas pelas quais se perde – Sou o homem mais bonito que já viu?

Em suas asas | DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora