É tarde quando voltam ao quarto. Dean está cansado e o pouco sono da noite passada não lhe ajuda a manter-se de pé. Então, se desfaz da jaqueta, da camisa de flanela, das botas e troca o jeans por outra calça de tecido mais confortável. Ele afunda no colchão que o chama e decide ignorar o elefante no meio da sala com a certeza de que Castiel ali estaria pela manhã.
– Anjo – chama, para ter a completa atenção daquele que ainda veste a amada camiseta do AC/DC – Me dê a mão.
Ele a entrega sem pensar, dobrando-se acima do colchão. Desprevenido, dá-se conta do ocorrido ao já ter o metal frio em torno do pulso.
– Dean?
O outro lado das algemas estrala na cabeceira da cama. De repente, a rádio dos anjos é desligada, a graça para de fluir por seu corpo e as asas não conseguem bater para longe.
– Algemas de anjo – ele explica, orgulhoso – Está pirado, Cas. Não pode fugir de mim por esta noite.
– Não fala sério – as sobrancelhas negras se curvam e os lábios contraem
Com um puxão, o metal ressoa nas grades de madeira. Não há qualquer preocupação no rosto de Dean, pois o caçador está satisfeito o suficiente com o fato de que Cas o acha o homem mais bonito da terra, para temer más reações.
– Boa noite – aperta o interruptor e puxa a corda do pequeno abajur, dando a Cas luz suficiente para suas leituras noturnas.
– Não está sendo razoável.
– Pensei que eu fosse o irritadiço da relação.
– Dean – censura, certo de que com a força humana conseguiria arrancar a grade da cama. O que lhe daria liberdade, mas não poderes.
– Durma com os humanos, Cas.
Só pode ouvir um longo e pesado suspiro deixar o anjo, para logo sentir seu peso do outro lado da cama. Diferente do esperado, o sono não lhe toma de imediato. Ele posterga sua chegada, pintando em cores neons o problema que sobre eles paira.
O homem se agita, vira para um lado e depois para outro, acabando, ao final, com os olhos sob o anjo.
– Hoje – reúne o pouco da coragem que lhe resta – Entendo sua maldição.
O reclinar de costas contra a madeira precede o virar de queixo. Os olhos azuis o encaram com muito mais que raiva em suas íris.
– Pensei que ia ignorar isto.
– Por que? – Dean puxa os lençois para si, com a lembrança vívida do calor que o toque de Cas pode proporcionar.
– É o que sempre faz. O que nós fazemos.
A afirmação tem gosto de sangue e azeda na língua de Dean. O anjo o conhecia bem demais. É exatamente o que teria feito em qualquer outra ocasião. Entretanto, dessa vez, após tudo que ouviu, há um clamor barulhento gritando em seu âmago.
– Só espero que não haja receio entre nós.
– Estou algemado, Dean. É claro que há receio.
A calmaria vem mansa ao reconhecer o tão raro tom de piada de Castiel. É usado de forma errada, um tanto fora de contexto, e, por isso, combina perfeitamente.
– Bons namorados algemam seus parceiros, Cas. Ninguém lhe contou?
– Sou seu namorado agora?
Dean morde os lábios, com apreço a sua habilidade de sempre dar a resposta errada.
– Falou a verdade no parque? – a luz amarela brinca no rosto angelical, destacando as curvas pelas quais se perde – Sou o homem mais bonito que já viu?
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Em suas asas | Destiel
RomanceDean Winchester sempre fora atormentado por dores não superadas e assuntos mal resolvidos, contudo, após sair do purgatório dilacerado, é incapaz de sustentar as barreiras que sempre o fizeram seguir em frente. Só havia um lugar onde ele talvez pu...