Capítulo 04

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A mente humana costuma ser um emaranhado de portas, a cada porta há uma memória e cada memória te leva a outra, formando uma teia que costuma-se denominar de vida. Por sua vez, a mente de um anjo é um labirinto infinito, projetado para a eternidade, com os dados iniciais da sua programação gravados no centro.

Diferente dos humanos, os anjos nascem cientes do que são, com conhecimentos pré-determinados. Servir ao senhor é a sua natureza e tudo que importa.

Nos primeiros anos de existência, a missão é clara e a devoção é ilimitada. Com alguns milênios, a missão se torna turva, embaçada por um acúmulo de memórias, percepções e experiências. É nesse ponto que a autonomia dos próprios pensamentos afeta as decisões angelicais.

Por isso, os anjos mais poderosos desenvolveram métodos para alcançar suas memórias primordiais e ratificá-las. Embora, como Naomi, alguns acreditem que para a efetiva correção do espécime, algumas medidas preventivas devem ser adotadas.

Após Dean cruzar o portal do purgatório, dois anjos agarraram os braços de Castiel e voaram com ele. A forte luz confundiu seus instintos prejudicados, tornando tardio seu reconhecimento do paraíso. Quando deu por si, estava aprisionado em uma mesa de ferro e pinos rodavam dentro de sua cabeça, perfurando seu cérebro.

Os longos parafusos o adentravam, gerando uma dor intensa, sentida a nível molecular. Cas estava aberto a informações à sua volta, porém os estímulos mentais que o invadiam impossibilitaram qualquer resistência. 

Foi quando as palavras em enoquiano começaram a vazar inconscientes por seus lábios que Naomi começou a trabalhar.

Suas palavras eram doces e escorregavam por entre os buracos expostos em sua mente. Um novo registro estava sendo cravado: Obediência a Naomi, devoção a Naomi, apatia aos humanos, morte para Dean Winchester.

As memórias o invadiram em avalanche, tantas que mal podia destinguir. Então, ele se agarrou a pior delas. 

Após a cessão de tortura, Naomi aproveitou do agora obediente Castiel para treinar o seu próximo passo. Ilusão por Ilusão, ela o fez matar Dean das mais diversas formas e manteve a coleção de cadáveres bem desenhada em sua mente.

Estrangulamento, decapitação, desmembramento; usando facas, armas, objetos de tortura; mortes dolorosamente lentas e apáticamente rápidas. O único recurso comum era o resultado e o sangue em suas mãos. Alguns Deans resistiram, outros se entregaram, e os piores imploraram por suas vidas. As mortes mais atrozes foram dedicadas aos últimos.

O cheiro do sangue, a textura dos músculos, o som dos ossos rompendo. Cada trecho desse poema brutal precisou ser escrito em sua mente antes que o céu o cuspisse de volta para terra. Pelas últimas semanas, Cas foi convocado e ordenado pelo Céu, como um mero instrumento numa guerra.

Os anjos aguardavam que ele encontrasse o profeta, as placas, para então matar os Winchesters e entregar a palavra ao seu poder.

Os lábios de Dean se curvaram, implorando. Seus olhos estavam inchados, quase fechados, e as mãos agitadas tateavam o sobretudo. De joelhos, ele chorava, com a cabeça voltada para Cas. O corte em sua bochecha havia sido aberto com impacto e a curva cansada de suas costas protegia a costela quebrada.

– Cas, por favor, eu o amo.

As palavras se enfiaram profundamente no peito ressentido de Castiel, no entanto, não mais do que o punho do seu ''eu'' no rosto de Dean. Que socou e socou, até que a cabeça estivesse aberta, jorrando sangue no perfeito tom de branco do céu.

Finalmente, seus olhos se abriram de volta à realidade.

Finalmente, seus olhos se abriram de volta à realidade

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