Capítulo 16

110 15 93
                                    

Quando não se acredita em finais felizes, ainda é possível se decepcionar. Pois a esperança, que separa os vivos dos mortos, é uma arma traiçoeira que sempre serve a humanos desesperados.

Forjado em aço, nas linhas do mais pesado desenho divino, Dean cresceu odiando seu eu. O reflexo que o encontrava malicioso estava distorcido por arrependimentos amargos, dores excruciantes e machucados irreparáveis. Para seu pai, foi uma decepção; para sua mãe, um erro; para seu irmão, um fardo. E, para todos que amou, foi um fim.

Sua história estava determinada desde o seu nascimento, no entanto, era feia demais para ser escrita em uma estrela. Ele cresceu com um pai abusivo que insistia em amar, tornou-se um adulto abraçado à solidão e morreria em caçada, para ser queimado numa floresta qualquer, sem que ninguém soubesse dos feitos incríveis que essa jornada maníaca o concedeu.

Não havia romance em sua narrativa e, por isso, fugiu dele por todas as vielas antigas que chamava de coração. Entretanto, o desejo de não sentir não o tornou apático, do contrário: ele alimentou a carência amarga.

Contra o que era e o que a vida lhe impôs, Dean sonhou com um alguém capaz de mudá-lo, um alguém puro que o enxergaria muito além de seus monstros, que veria sua vulnerabilidade e, através dela, o amaria.

Castiel era esse alguém.

Era diferente de todos os seus antigos relacionamentos, estar com ele era seguro, confortável e emocionante. Soava assustadoramente como deveria ser. Dean ficava à vontade e mostrava-lhe faces de si que nem sequer reconhecia. E o anjo? O anjo sempre parecia adorá-lo, não só a sua melhor versão, de lábios sorridentes e cantadas baratas, mas cada parte.

Por que ele. Não. Por que Castiel, o maldito anjo do senhor, é a luz no fim do túnel, o sol por trás da chuva, a mão entre as chamas do inferno. É tudo.

E como poderia o tudo amar o nada?

Céu e inferno; sol e lua; luz e escuridão. Separados, para sempre separados. Contrários à sua própria natureza. Presos eternamente no contraste de ser o que ao outro falta e nunca ser para o outro.

Cas não era para Dean. Esta é a realidade. Por mais que o quisesse e, céus, o queria imensamente, nunca o teria.

O anjo estava fadado a ser eternamente o maior de seus tormentos.

Talvez se fosse menos orgulhoso, menos teimoso, menos visceral, o destino lhe concedesse um pouco mais de tempo, para fazer a coisa certa. Porém a vida não é feita de segundas chances e Dean falhou.

Mentiu por medo, por raiva, por... amor. Um coração partido é capaz de atrocidades. E, agora, não só perdeu o seu anjo, como Castiel dele se lembraria com raiva pelo resto de sua eternidade.

Esse não pode ser o final.

No entanto, o que poderia fazer? Pedir ao anjo se rebelar mais uma vez por um homem falho, pecador e mortal? Pedir para ser escolhido no lugar do céu? Como poderia quando o que tinha para oferecer era tão pouco, tão sofrido, tão dolorido e tão distante do berço sagrado em que Cas foi forjado.

Jamais seria capaz de pedir para que fique. Embora, precisa-se do anjo para rastejar na sujeira e atravessar a dor louca que o perseguia.

Céus. Sentia-se tão tolo ao perceber. Cas sempre o esteve cuidando. Era seu anjo da guarda. O presente que roubou de Deus, por todas as atrocidades que permitiu em sua vida. Era o único pedaço do céu que almejava conhecer.

Dean sabia que Castiel não era alguém a ser perdido, assim como sabia que ele merecia mais, mais do que a besta que em Dean habitava. A fera que cravou as garras em seu anjo e lhe concedeu aquele olhar dolorido e desfeito; que mordeu o seu anjo e o encheu de lágrimas antes de sua partida; que impediu Dean de admitir que era o anjo aquele por quem o seu coração chamava.

Em suas asas | DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora