In my veins

Interlúdio - Blood Wyrm

Olá, eu sou o Blood Wyrm, o terror vermelho, o conquistador.

Ou simplesmente, Caraxes, mas apenas para os íntimos.

Ao menos é como me chamam agora, mas houve um tempo em que eu não era nada mais do que um filhote nas cavernas sombrias do Dragonpit. Éramos muitos, jovens e cheios de fogo, mas eu sempre soube que havia algo diferente em mim e não é só minha aparência. Minhas escamas vermelhas brilhavam como sangue ao sol, meu corpo já era mais esguio do que as dos outros, e minha força crescia tão rapidamente, quanto minha sede por desbravar o que havia além dos muros do Dragonpit.

Já Meleys, sempre se contentou em permanecer adormecida em qualquer buraco escuro. Sim, estou falando da Rainha Vermelha, embora naquele tempo ela ainda não tivesse ganhado esse epiteto, se fosse para chamá-la de algo eu a chamaria de Preguiça Vermelha. Pois me lembro bem dela. Quando éramos apenas filhotes, ela era uma coisinha pequena, uma irritante chama vermelha que dividia o ninho comigo. Seus rugidos eram finos e agudos, nada comparado ao trovão que emergia da minha garganta. Naquela época, ela era apenas uma filhote irritante, sempre se enroscando em meu espaço, tentando provar que podia ser tão forte quanto eu. Mas, apesar de sua irritante persistência, ela se mostrou uma adversária digna, mesmo que naquela época eu não tivesse a menor paciência para suas travessuras e anos depois ela se tornasse cada vez mais irritante ao ganhar nossas corridas.

Então, houve Aemon Targaryen. Em nossos poucos anos juntos eu o compreendi totalmente, da maneira que apenas um dragão pode entender seu cavalheiro, eu senti sua força, seu desejo de grandeza. Ele me montou como se fôssemos um só, e juntos enfrentamos o mundo com uma fúria ardente. Mas Aemon se foi em uma tarde fatídica, e eu fiquei sem meu cavaleiro. Daemon veio depois, e eu logo percebi que ele era diferente.

Daemon não buscava apenas poder; ele queria algo mais, algo que não consegui compreender no início. Lutamos juntos, conquistamos juntos. Eu o reivindiquei porque vi nele um espírito que combinava com o meu. Éramos um só na batalha, minhas asas cortavam o ar, como sua espada cortava a cabeça de nossos inimigos, meu fogo queimava os rebeldes, enquanto ele dava seu próprio sangue para deter aqueles que ousassem nos desafiar, ah bons tempos aqueles.

Todavia, não compartilhamos apenas batalhas gloriosas, eventualmente, o rei também nos exilava para os confins do Vale de Arryn. Quando éramos obrigados a nos retirar da capital, ambos sofremos no Vale, aquela maldita terra fria e sem graça. Os humanos chamam de exílio, para mim, era uma humilhação. Mas, ao menos, havia ovelhas. Muitas ovelhas. O único prazer que encontrei naquelas terras era a carne fresca que poda devorar sem guardiões dos dragões para regrar minha alimentação.

Por falar em exílio, isso me faz lembrar de meu lugar favorito: Dragonstone.

Ah, Dragonstone. A ilha que chama tanto os dragões de asas quanto os dragões de pernas, era o melhor lugar para os remanescentes da Velha Valiria viver. E quando voltamos, foi como um renascimento. A ilha rochosa, com seus ventos cortantes e mares indomáveis, sempre pareceu mais adequada para nós. Lá, eu podia ser eu mesmo novamente, o grande Caraxes, senhor da guerra. Tudo parecia estar voltando ao normal, até que ela chegou.

Meleys. Mas não era mais o irritante filhote que eu conhecia ou a jovem dragão que se gabava de vencer as corridas entre eu, ela e Vaghar, não que a velha Vaghar consiga voar com tanta velocidade assim. Ela havia crescido, transformando-se em algo grandioso, forte e feroz, digno de seu epíteto.

E claro, ela trazia com ela Rhaenys, eu me lembrava bem dela quando ela era um filhote. Afinal, eu a apresentei aos céus quando ela sequer sabia andar.

Contudo, a chegada de Meleys e Rhaenys fez o fogo de Daemon mudar. Eu senti, tão certo quanto sinto o calor das chamas que cuspimos eu senti o fogo queimar como brasa quando ele e Rhaenys se reuniram no pátio de Dragonstone.