Capítulo 23

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Entrei em casa bocejando, o meu pai me olhou com um ponto de interrogação na testa

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Entrei em casa bocejando, o meu pai me olhou com um ponto de interrogação na testa. Mamãe estava enfiada num de seus ''focos doidos'', então só perceberia a minha presença quando terminasse o almoço. 

— Por que veio tão cedo? — Indagou, desconfiado. — O seu irmão ainda está machucado, e não quero brigas nesta casa. Estamos entendidos?

Cogitei brincar, dizendo que poderia arrebentar o idiota lá fora, mas supus que ele iria levar a sério demais. Segurando a risada, concordei e subi as escadas, para deixar a mochila no quarto. Voltei sem jaqueta e usando chinelos, sentei ao seu lado no sofá e fiquei quieto. Quando estivesse relaxado de novo, tentaria iniciar uma conversa. Por enquanto, assistíamos ao jornal local. A carranca circunspecta e os braços firmemente cruzados eram difíceis de ignorar. 

Para distrair a mente daquela nuvem espessa e glacial, lembrei da sapatada que a Hannah deu no destelevisionado. Aliás, ri muito quando contei que doei a TV para o Conan e a Cam, o garoto pirou e passava metade do tempo assistindo besteiras no térreo. Talvez o ideal fosse vendê-la, mas queria me livrar rápido e meus amigos estavam economizando para comprar uma. A tia da Cameron era boa, não rica.

— Você fez certo. 

Pisquei, surpreso ao ouvir aquelas palavras, principalmente num tom tão baixinho. Papai parecia estar confessando algum crime. 

— Por quê? — Sussurrei, imitando-o. 

— Nós erramos na criação dele. — Assumiu, mas destacou: — Não acho que espancar o seu irmão seja bom, Mason, muito longe disso. Porém, eu nunca trai a sua mãe e confio nela para saber que também não o fez, mas o John parece ter saído às avessas. Ele mente, gasta dinheiro demais e está piorando sem o carro. Você é o oposto, porque sempre te incumbimos responsabilidades. 

Torci o nariz. Preferia ser irresponsável, então. 

— Erramos ao deixá-lo como sua obrigação, mas éramos pais novos e precisávamos trabalhar, arranjar tempo pra dar atenção à vocês e um pro outro. Os nossos pais queriam nos punir e demoraram a nos ajudar, e até todo o ressentimento passar, foi difícil. 

Mordi a bochecha, lembrando das alfinetadas dos meus avós e das brigas, que antes não entendia direito e o cérebro de vento seguia não entendendo. 

— Vocês fizeram o que dava pra fazer. Eu não deveria ter explodido e nem acusado vocês, naquele outro dia, mas ser proibido de ver a minha namorada me estressou. 

Um sorrisinho surgiu no rosto bronzeado, assim como orgulho brilhou em suas íris iguais as minhas. 

— Ela é uma garota ótima e vocês formam um casal bonito. Vai demorar, porque a sua mãe é orgulhosa e se recusa a dar o braço a torcer, mas um dia ela marca algo e tudo se resolve. 

Ri, duvidando de tamanha facilidade. 

Apesar do imenso amor materno da dona Úrsula, ela sempre ficaria um pouquinho infeliz por nossa richa e defenderia o caçula, porque ele tinha mais características dela. Se tivesse herdado a bondade, a paciência e a garra, eu conseguiria enxergá-lo como um irmão, ao invés de um fardo. 

Amados destroçosOnde histórias criam vida. Descubra agora