capítulo 1

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Pov Maraisa

Se você acha que o mundo está despencando a sua volta por momentos difíceis que você vem passando na vida, o meu está realmente indo para o chão. Sinto pelo tremor no meu quarto, causado por batidas desesperadas em minha porta.

Eu moro em um apartamento simples com dois amigos, Bruno e Maiara.

Ontem havíamos ido a uma balada para distrair a mente e acabamos por chegar tarde da noite. O resultado foi que dormi pouquíssimas horas, então quando o despertador tocou, me lembrando que havia trabalho, acabei dormindo só mais 10 minutinhos.

E chegamos ao meu súbito despertar com o alarme Bruno colocando minha porta abaixo.

Eu trabalho em uma das empresas mais incrivelmente fodas desta cidade. A empresa do grande empresário Sr. Mendonça

Eu consegui o emprego dos sonhos logo após me formar em administração. Atualmente sou secretária dele, e afirmo que trabalho e tenho contato diretamente com a melhor pessoa desse mundo.

O Sr. Mendonça um homem na faixa dos 60 anos, sendo a pessoa mais brilhante que já conheci no meio dos negócios. Ele tem uma inteligência surpreendente, mas não chegaa ser ignorante por todo o poder que tem em mãos. Pelo contrário, é como o pai que eu não tive. É brincalhão, conselheiro e ama ficar contando piadinhas sem graças, mas que de tão sem graça, acabam ficando engraçadas.

- MARAISA! TÁ VIVA AÍ DENTRO? – Mais batidas insistentes na porta.

Eu pulei da cama e sai tropeçando no meu tênis e a calça que eu tinha usado ontem. Deus, meu quarto estava uma verdadeira bagunça. Como que eu vivo nesse chiqueiro?
 

- JÁ VOU, BRUNO!

Como estava atrasada, fui ao banheiro, fiz xixi, passei uma escova nos dentes, molhei meu rosto e embaixo dos braços. Ninguém vai me cheirar mesmo, está ótimo assim. Se der tempo, tomo banho por lá depois que passar os compromissos para o Sr. Mendonça.

Saí do banheiro, vesti um conjunto de lingerie preto, uma saia lápis, uma camisa de seda até os pulsos de botões da cor branca, prendi meu cabelo em um coque com alguns fios soltos e passei uma maquiagem bem rápida que se resumia a uma base naquele rosto de defunto e um batom clarinho.

Já ouvi Bruno gritando de novo do lado de fora.

Peguei um salto que estava perdido no meio da bagunça, coloquei minha bolsa no meuombro e saí correndo com os saltos nas mãos.

- Tô pronta!

Maiara olhou a hora no relógio.

- Não é porque o Sr. Mendonça é seu babão, que é meu e de Bruno também. - Maiara estava estressada, com a cara mais acabada que a minha se brincar.

Calcei um chinelo que tinha perto da porta para não sujar os pés e enfim fomos em direção ao estacionamento do prédio.

Parece que Deus realmente queria que a gente se atrasasse. O trânsito estava um verdadeiro inferno, chegamos com uma hora de atraso. Tudo bem, o Sr. Mendonça vai me demitir por isso.

Eu havia passado na cantina e pegado um copo descartável enorme de café pra ele. Não sei como esse homem gosta tanto de café.

Respirei fundo e abri a porta, a cadeira dele estava virada para a parede.

- Sr. Mendonça, me desculpe a demora, é que...

A cadeira virou e eu quase morri do coração com a perfeição a minha frente. O Sr. Mendonça virou uma mulher linda, na casa dos 20 anos, de cabelo enorme, loira e liso, uma calça social preta e uma blusa social bem passada, alinhada ao seu corpo. O perfume era sentido a metros de distância. Ela tinha um lápis na mão direita e brincava com o botão da caneta, o seu olhar era intimidador. Por Deus, será que o Sr. Mendonça virou uma mulher? Eles realmente se parecem. E se ele for um alienígena que se transforma em que quiser? Tomara que ele fique assim pra sempre, porque está simplesmente magnífico.

- Ehh... Eu entrei na sala certa?

A mulher me encarava com o mesmo olhar desafiador. Porra, o Sr. Mendonça se transformar em uma mulher gostosa, logo hoje que não tomei banho.

Ela pegou um papel em cima da mesa, olhou dele para mim umas duas vezes.

- Carla Maraisa Henrique Pereira...

Eu engoli em seco quando meu nome saiu de sua boca. Eu estava tão acuada e intimidada, que já tinha até esquecido que estava com sono.

A mulher soltou o papel em cima da mesa, deu a volta e se encostou na mesma com as duas mãos no bolso da calça social.

- Poderia me dizer por qual motivo está. Ela fez uma pausa e olhou para o relógio no pulso. - Uma hora e dezesseis minutos atrasada, Srta. Henrique?

- Eu.... bom... Me desculpe, o trânsito estava realmente infernal

-Se o trânsito da sua residência até o trabalho é infernal, sugiro que saia mais cedo de casa. Eu sou sua nova chefe, eu não sou o meu pai e não tolero atrasos.

Ah, então ela é filha do Sr. Mendonça. O que aconteceu com ele? Ai meu deus... Será que ele morreu?

- Temos uma reunião em 10 minutos, se dirija até a sala de reuniões.

Ela pegou um terninho preto sobre a mesa e vestiu, eu acompanhava tudo com um olhar. Tinha medo da saliva escorrer pelos cantos da minha boca.

A verdade é que eu estava petrificada, nunca imaginei conhecer alguém tão poderosa.

Ela começou a andar em direção a porta, parecia que eu ia diminuindo e ela aumentando o tamanho na aproximação.

- Esse café é pra mim? - Eu apenas afirmei com a cabeça. Ela pegou o copo de minhas mãos e saiu da sala.

Pisquei meus olhos freneticamente. Jesus Cristo, o que diabos acabou de acontecer? Será que eu dormi mais 10 minutinhos e tô vendo coisas?

Dei um tapa no meu rosto e percebi que eu estava acordada. Doeu.

Resolvi tomar algum rumo da minha vida. Saí da sala dela e fui até minha mesa pegar meu caderninho de anotações.

Vi Maiara se aproximando e saí quase correndo na direção dela.

- Mai... Eu estou fodida.

- Que foi, criatura? Você tá vendo essa pilha de papéis? Pois é, entrou uma louca que quer o balanço geral dos lucros do dia pra noite.

- Maiara, acho que o Sr. Mendonça virou uma mulher muito gostosa....

Maiara caminhou até minha mesa, deixou os papéis lá, voltou em minha direção e deu um tapa na minha cabeça.

- Está dormindo ainda, Maraisa?

- Ouch, Maiara!

Ouvi o bip do elevador, a porta abriu e vi ela escorada na parede de metal com os braços dobrados sob os seios.

- Achei que já estava na sala de reuniões, Srta. Henrique. Estou perdendo a paciência com sua falta de profissionalismo. Tem 5 minutos para chegar até a sala de reuniões.Ela apertou no botão do elevador novamente. Eu não tinha reação, embaixo não passava uma agulha. Senti dois tapinhas fracos nas minhas costas.

- Boa sorte, Mara...

Maiara saiu com a pilha de papéis, eu baixei meus ombros, sentindo-me derrotada, e o dia mal havia começado.

Sr. Mendonça, por que me abandonou e me deixou a mercê de sua filha mal encarada? Eu não vou durar um dia na empresa com essa mulher.

Senhora MendonçaOnde histórias criam vida. Descubra agora