Senhora Mendonça

capítulo 9

Pov Marília

Acordei com um humor estranhamente bom. Mas ele já foi sumindo assim que cheguei na empresa e a mesa de Maraisa estava vazia. Olhei meu relógio e ela estava atrasada, ela não tinha se atrasado desde o primeiro dia.

Entrei na minha sala, abri as cortinas, para me dar visão do elevador do andar.

— Vamos senhorita Henrique, você não pode ter desistido de trabalhar pra mim!

Olhei novamente a hora, meu mau humor já estava começando a aparecer.

Sorri quando vi a porta do elevador abrindo e ela saindo dele cheia de papéis, toda atrapalhada.

Ela correu pra minha sala, eu descansei meu queixo na minha mão e fiquei esperando ela abrir a porta.

Ela tava tão atrapalhada que nem lembrou de bater, assim que abriu a porta da minha sala tropeçou no tapete e foi parar no chão. 

Eu sabia que uma hora ela ia acabar caindo por tropeçar nesse tapete.

Eu fiquei olhando a situação sem falar nada, tinha vários papéis espalhados.

Maraisa recolheu todos os papéis e se levantou rapidamente. Ao menos não se machucou.

— Me desculpe senhora Mendonça, eu dormi demais. Bom dia!

Ela hoje estava simplesmente divina, começando dos pés, um salto fechado bege, calça social, camisa social dobrada até a altura dos cotovelos, tinha dois botões abertos, quando ela levantou me deu a visão de seus seios cobertos por um sutiã branco, cabelos soltos, maquiagem clara, olhos quase transparentes, anéis no mindinho, anelar, polegar e médio. Eu só queria pegar uma chuva com ela hoje e ver essa camisa ficar transparente.

Da uma voltinha senhorita Henrique, deixa eu ver sua bunda nessa calça...

Ela se virou pra fechar a porta. Boa garota senhorita Henrique!

Pode se virar de frente pra mim senhorita, senão vou perder o rumo da minha vida e dignidade.

— Sua roupa que deixou no meu apartamento!

Ela deixou uma sacola de papel em cima da minha mesa. Deixou também alguns documentos e saiu.

Eu tava com vergonha de ter esquecido minhas roupas no apartamento dela, santo Deus, ela lavou minhas roupas, será que ela lavou até minha calcinha? 

Abri a sacola rapidamente, procurei e encontrei apenas meu sutiã, a calça que eu usava e a camisa. A calcinha não tava aqui, o que diabos ela fez com minha calcinha?

Sorteio no botão do telefone, não demorou a Maraisa entrar, o olhar dela era de diversão.

— Precisa de alguma coisa senhora Mendonça?

— Maraisa Henrique! Cadê minha calcinha?

Ela franziu a sombrancelha pra mim.

— Senhora Mendonça, essa foi de longe a pergunta mais inesperada que me fez. Perdeu ela pela empresa quando chegou? Posso perguntar aos seguranças...

— Eu deixei minha calcinha na sua ontem!

— Ah... Só encontrei as roupas que estão aí na sacola. Vou procurar quando chegar em casa.

— Deus, eu te odeio Maraisa! Saia da minha sala!

Eu já estava estressada, ela se divertia com a situação, vi ela se estourando de rir sentada na sua mesa. O que diabos ela fez com minha calcinha? Espero que não tenha mandado colocar mal olhado, minha vida sexual já não anda essas coisas senhorita Henrique.

Contei até 10, peguei os documentos que ela deixou e comecei a ler e assinar alguns.

Ouvi a porta bater e ela entrar novamente.

— O que foi agora senhorita Henrique?

— Senhora, quase esqueço de avisar, os acionistas marcaram uma reunião urgente com a senhora daqui a uma hora.

Estranhei, os acionistas nunca marcam reunião, sempre sou eu a marcar.

— A senhorita devia ter me avisado mais cedo. Sabe qual o assunto da reunião?

Ela apenas balançou a cabeça em negativo e saiu da sala.

Por que me entregar tanta responsabilidade assim senhor Mário Mendonça? Eu só queria o senhor do meu lado me orientando.

Quando chegou o horário da reunião eu fui até a sala, Maraisa tava sentada em uma das cadeiras do meu lado com um caderninho em mãos.

— Bom dia senhores.

Eles responderam e eu me sentei. Olhando para a cara deles, eu já sabia que não vinha coisa boa pela frente.

— Posso saber qual o motivo da reunião senhores?

— Vamos direto ao assunto. A senhorita ainda é muito nova para assumir os negócios, é muita responsabilidade para você disse. — Disse o senhor Afonso.

— Minha idade não define minha capacidade, posso não ter experiência, mas tenho mestrado e doutorado nessa área. Eu estou apta a assumir esse cargo. Qual o seu problema comigo senhor Afonso?

— Nenhum Marília Mendonça, não ainda. Mas sei que teremos futuramente e eu não quero pagar para ver.

Eu me estressei e me levantei.

— Isso só para tirar uma brincadeira. Essa empresa é minha, é os negócios da minha família, acham mesmo que eu estudei desse desde meus 17 anos para afundar o nome da minha família?

O senhor Afonso arregalou os olhos para mim, parece ter baixado a bola.

— Sua adolescência deixou a desejar Marília, não confiamos que alguns anos fora mudou  todo aquele seu desleixo e irresponsabilidade.

Eu abri minha boca chocada com a palhaçada a minha frente. Eu tava a ponto de entrar em erupção de tanto ódio. 

— Marília, te damos duas opções, ou você começa sendo auxiliada por um CEO escolhido por nós, para provar que realmente virou uma mulher responsável. Ou, você se casa, para ser auxiliada por um homem.

Eu comecei a rir, Maraisa estava petrificada ao meu lado.

— Por que me casaria para um homem me ensinar o que eu aprendi em 7 anos de estudo, com os melhores professores do México? E se eu me casasse com alguém que não entende nada de negócios? Vocês aceitariam mesmo assim? - Eles ficaram apenas me observando, mas vi alguns balançar a cabeça em afirmação.— Então não se trata de eu ser nova, se trata do machismo de vocês, que acha que mulheres não são capazes de administrar uma empresa!

Eles ficaram calados.

— Quem seria o novo CEO? Vocês já devem ter um em mente então.

- O senhor Fernando seria o mais adequado para a ocasião.

Um dos acionistas respondeu e eu novamente comecei a rir. Respirei fundo e olhei para cada senhor ali presente antes do xeque-mate.

— Senhores, eu sou a herdeira legítima de 80% destas ações. Eu estudei e dediquei toda a minha vida para assumir esta empresa, e não serão vocês, um bando de velhos inconvenientes e irritantes, que irão me tirar deste cargo. E para a proposta dos senhores, tenham a minha repugnância, jamais me casarei para satisfazer o ego misógino e ridículo de vocês. O dia em que eu me casar, será por amor, e eu não preciso de homem algum para me dar ordens ou conselhos do que eu posso ou não fazer na MINHA empresa. — Eu fiz uma pausa olhando para cada um deles. — Era apenas este o motivo da reunião? Então ela está dada por encerrada. Tenham todos um bom dia!

Era cada coisa que eu tinha que aguentar na minha vida. Muita palhaçada cansando minha beleza.