O barulho da música e as conversas animadas ao redor da piscina tornaram-se apenas um zumbido distante para Maitê, que mal conseguia acreditar no que acabara de ouvir. O olhar fixo de Henrique, que antes parecia charmoso e intenso, agora lhe parecia carregado de uma arrogância. Ele mantinha-se inclinado em sua direção, esperando uma resposta, mas Maitê sentia o sangue ferver em suas veias.
— O quê!? — Sua voz saiu em um grito, chamando a atenção de algumas pessoas próximas. Ela se levantou da cadeira com tanta força que o copo quase caiu da mesa. — Quem você pensa que é para chegar em mim perguntando esse tipo de coisa?
Henrique piscou, surpreso com a reação dela, mas manteve-se calmo, como se não esperasse nada diferente.
— Se você está pensando que sou dessas mulheres que saem por aí ficando com qualquer homem por dinheiro, você está muito enganado! — completou Maitê, sentindo sua garganta apertar de raiva. Pegou sua bolsa de maneira firme e, sem dar outra palavra, virou-se em direção à porta.
Henrique tentou chamar seu nome, mas Maitê o ignorou. Cada passo que ela dava ecoava em sua cabeça como uma batida de tambor, reforçando sua indignação. Ela não podia acreditar que aquele homem, tão aparentemente educado e encantador, tivesse a audácia de fazer uma pergunta tão desrespeitosa. O fato de ele ser bonito e aparentemente rico apenas aumentava sua fúria; a maneira como ele achava que poderia comprar o que quisesse — ou quem quisesse — a fazia se sentir enojada.
Ela apertou o botão do elevador várias vezes com o dedo trêmulo, como se aquilo fosse acelerar o processo, mas o painel mostrava que ele ainda estava no térreo. "Claro que algo daria errado justo agora", pensou, mordendo o lábio inferior enquanto cruzava os braços na tentativa de se acalmar.
Enquanto esperava o elevador, Kaila surgiu do salão principal, preocupada. Seu rosto mostrava surpresa ao ver a expressão de sua amiga. Dylan estava logo atrás, observando a situação com uma mistura de curiosidade e desconforto.
— Amiga, o que aconteceu? Você está bem? — perguntou Kaila, franzindo as sobrancelhas e dando um passo mais perto.
Maitê respirou fundo, tentando disfarçar sua frustração para não arruinar a noite de sua amiga. — Depois a gente conversa, Kaila. Estou bem, só preciso ir para casa — respondeu ela, tentando soar mais tranquila do que realmente estava.
— Quer que a gente te leve em casa? — ofereceu Dylan, que observava a tensão nos ombros de Maitê.
— Não precisa, vou pegar um táxi. Mas obrigada — disse Maitê, forçando um sorriso enquanto as portas do elevador se abriam. Entrou rapidamente e apertou o botão do térreo várias vezes, como se isso fosse fazer o elevador descer mais rápido.
No espelho, o reflexo dela revelava uma mistura de incredulidade e raiva. "Como aquele cara teve a coragem de me perguntar aquilo?", se perguntou mais uma vez, sem conseguir se livrar do choque. Aquela noite, que tinha começado de forma tão tranquila, com uma promessa de diversão e relaxamento, tinha se transformado em algo desconcertante e desagradável.
Quando as portas do elevador se abriram no térreo, Maitê saiu apressada, desejando apenas estar o mais longe possível daquele prédio. Pegou o celular na bolsa e percebeu que já eram quase 23h. Ela sabia que encontrar um táxi seria difícil, então abriu o aplicativo de transporte e solicitou um Uber para levá-la para casa.
Enquanto esperava, sentiu uma leve brisa noturna acariciar sua pele, mas, ao mesmo tempo, um desconforto surgiu quando ela percebeu alguém se aproximando. Instintivamente, guardou o celular de volta na bolsa e cruzou os braços, sentindo a tensão retornar.
— Maitê... — a voz grave e familiar soou por trás dela. Ela se virou lentamente, já sabendo quem encontraria ali. Henrique estava parado a poucos metros de distância, com um olhar que parecia arrependido.
— O que você quer, Henrique? — A voz de Maitê soou firme, mas carregada de exasperação. Ela ainda sentia o coração acelerado, dividido entre a raiva e a frustração.
Henrique deu um passo à frente, mas manteve certa distância. Ele parecia desconfortável, como se não soubesse muito bem como se expressar. — Só quero pedir desculpas — disse, a voz mais baixa agora. — Eu realmente não deveria ter feito aquela pergunta. Foi estúpido e... inapropriado.
Maitê suspirou profundamente, suas emoções ainda à flor da pele. — Da próxima vez, pense antes de falar. — Sua voz saiu mais firme do que ela esperava, mas, no fundo, ela não estava com raiva dele especificamente, e sim do contexto todo. Era fácil julgar as pessoas pelas aparências, especialmente em festas como aquela, mas isso não fazia as palavras de Henrique menos ofensivas.
Por um momento, o silêncio pairou entre eles. Ela observou o rosto de Henrique, procurando qualquer sinal de sinceridade em seu arrependimento. Ele realmente parecia desconcertado, talvez não tão seguro de si como aparentava no início da noite.
— Você já vai embora? — ele perguntou, quebrando o silêncio, embora sua voz soasse quase como um sussurro.
— Sim — respondeu Maitê, sua paciência começando a se esgotar. Ela não tinha mais energia para prolongar aquela conversa, especialmente com alguém que havia abalado sua noite de forma tão inesperada.
— Vamos, eu te levo — ofereceu Henrique, apontando para um carro preto estacionado próximo à entrada. Seu tom era calmo, como se estivesse oferecendo algo totalmente inocente, sem malícia.
Maitê riu, incrédula com a insistência dele. — Claro que não. Eu mal te conheço. — Ela balançou a cabeça, ainda surpresa com a falta de percepção de Henrique.
Ele deu de ombros, como se a resposta dela não fosse incomum. — O que é que tem? Você sabe onde eu moro, todos aqui me conhecem. — A confiança em sua voz indicava que ele estava acostumado a conseguir o que queria, e aquilo só fez Maitê se sentir ainda mais afastada dele.
— Eu te conheci hoje, Henrique — disse ela, sua voz firme e resoluta. — Não sei com que tipo de mulher você está acostumado, mas eu não sou assim. Você pode ser conhecido por todos, mas para mim, você só é um cara atrevido que chegou em mim com uma pergunta nojenta. — As palavras dela ecoaram no ar, e Henrique permaneceu em silêncio, parecendo absorver o impacto do que ela dissera.
Sem dar a ele tempo para responder, Maitê se virou e caminhou em direção ao Uber que já havia chegado. O carro estava estacionado do outro lado da rua, e o motorista acenava discretamente. Sem olhar para trás, ela abriu a porta do carro e entrou, fechando-a com força. A última imagem que teve de Henrique foi dele parado sob a luz do poste, ainda observando-a enquanto ela ia embora.
O trajeto até sua casa foi silencioso. A cidade, que normalmente era barulhenta e movimentada, estava tranquila naquela hora da noite. Os faróis do carro cortavam a escuridão, enquanto Maitê tentava processar tudo o que havia acontecido. Sentia-se cansada, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. As palavras de Henrique continuavam a ecoar em sua mente, misturadas com sua própria confusão e frustração.
Por um lado, ela sabia que não podia culpar Henrique por não adivinhar quem ela era ou o que fazia da vida. Afinal, estavam em uma festa onde muitas pessoas se comportavam de maneira fútil e superficial. No entanto, a forma como ele fez a abordagem foi cruel, fria, e isso a magoou profundamente.
Quando o Uber finalmente parou em frente ao seu prédio, Maitê agradeceu ao motorista e saiu do carro. A noite estava mais fria agora, e ela se encolheu levemente ao caminhar em direção à entrada do prédio. Ao entrar no apartamento, sentiu-se imediatamente aliviada ao ser envolvida pela familiaridade do lugar. Sua mãe já havia ido dormir, e o silêncio da casa lhe deu a tranquilidade de que tanto precisava.
Maitê tirou os sapatos, jogou a bolsa no sofá e foi até a cozinha. Precisava de algo quente para relaxar. Enquanto a chaleira esquentava a água para o chá, ela se permitiu finalmente desabar. As lágrimas vieram silenciosamente, sem aviso, misturadas com a confusão de sentimentos que lutava para entender. Não era apenas a situação com Henrique, mas toda a pressão que vinha sentindo ultimamente — o trabalho no restaurante, a falta de tempo para si mesma, a busca por algo que ainda nem sabia se queria de fato.
Após bebericar o chá, Maitê foi até o quarto e se jogou na cama, os pensamentos ainda turbulentos. Sabia que precisava conversar com Kaila, desabafar com a amiga, mas isso teria que esperar até o dia seguinte. Naquela noite, tudo o que queria era fechar os olhos e esquecer.
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Chamas do Desejo
RomanceAcostumado a conseguir tudo o que deseja, Henrique inicialmente a vê como mais uma conquista fácil. No entanto, Maitê não é como as mulheres com quem ele está acostumado. Ao ser tratada com desdém e arrogância, ela impõe limites e o rejeita, despert...