BIIIIP... BIIIIP... BIIIIP...
Abro os olhos, ainda sonolenta, esticando a mão para o lado, tentando silenciar o alarme do celular que insistia em me tirar da cama. Mal consigo ver a tela, mas a hora já brilha: 10h27. Suspiro e me viro para o outro lado da cama, ainda agarrada à preguiça de despertar completamente. Minha mente vagueia, revivendo flashes da noite anterior que tento ignorar.
Depois de alguns minutos de preguiça, finalmente me levanto. O banho quente parece renovar minhas energias, e lavo meus cabelos com cuidado, esperando que isso me ajude a começar o dia com mais leveza. Envolta no roupão, sigo até a cozinha, onde minha mãe já está à mesa com sua xícara de café. Mesmo sendo quase meio-dia, eu não consigo iniciar meu dia sem minha dose de cafeína.
— Bom dia, bela adormecida. — Ela sorri ao andar em minha direção, depositando um beijo leve no topo da minha cabeça.
— Bom dia, mãe. Como passou a noite? — pergunto, tentando me concentrar no presente e afastar as lembranças incômodas da noite anterior.
— Dormi bem, filha. Embora tenha ficado preocupada até você chegar. — Ela me lança um olhar de canto, levando sua xícara aos lábios.
— Ah, foi tudo tranquilo... Quer dizer, tirando um atrevido que me abordou, foi tudo bem. — Tento minimizar, mas a memória daquele momento volta com força.
Ela não pressiona mais o assunto, e mudamos para tópicos leves e rotineiros. Aproveito cada minuto ao lado dela. Nos últimos tempos, com meu trabalho no restaurante ocupando tanto do meu tempo, esses momentos de tranquilidade juntas são raros e preciosos. Conversamos até meu celular tocar, interrompendo nossa conversa. Corro para o quarto, lembrando que deixei o aparelho sobre a cama.
— Alô, amiga! — Atendo sem surpresa ao ver o nome de Kaila no visor. Ela, com certeza, quer saber o que aconteceu na festa.
— Bom dia, Tetê! — Kaila responde com a voz ainda sonolenta. Ela sempre me chama assim desde que nos conhecemos, insistindo que todo apelido afetuoso deve ser exclusivo.
— Como você está? — pergunto.
— Estou bem, mas quero saber mesmo é de você! Me conta, o que foi aquele drama na festa?
Respiro fundo e começo a contar, detalhando desde minha desastrosa tentativa de sair da piscina até o constrangimento de ter que recusar a oferta de carona daquele homem. Talvez eu tenha sido um pouco dura com ele, mas a maneira como ele abordou o assunto foi completamente inapropriada. Além disso, a bebida me sabotou. Fui criada para me valorizar, e a ideia de que alguém poderia pensar que eu aceitaria dinheiro por companhia me ofende profundamente.
— Amiga, ele foi realmente um babaca. — Kaila concorda, e sua validação me traz algum alívio.
— Só não entendi como vocês conseguiram convite para essa festa. — pergunto, finalmente lembrando de uma curiosidade que esqueci de perguntar na noite anterior.
— Dylan é um velho amigo do Henrique, o barão. Ele mencionou que morava na cidade e foi convidado. Nós fomos só como acompanhantes. — Kaila dá uma risadinha, obviamente se divertindo com a exclusividade do convite.
Nossa conversa continua um pouco mais até que desligamos, e o dia segue com sua calma habitual. Passei a tarde assistindo filmes com minha mãe e até fizemos um bolo de ninho com morango, seu doce preferido. Estar com ela sempre me traz paz, uma pausa bem-vinda da rotina exaustiva do restaurante. Antes que percebesse, o relógio já marcava 21h48. A noite passou voando. Preparei minha bolsa e escolhi as roupas para o trabalho no dia seguinte. Apesar de ter folga aos sábados, ainda precisava trabalhar no domingo, das 8h às 14h, o período mais movimentado no restaurante.
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Na manhã seguinte, lá estava eu, no ponto de ônibus, segurando uma maçã. Eu tinha acordado atrasada e mal tive tempo de tomar café. O ônibus finalmente chegou, e, ao chegar no restaurante, coloquei meu avental e recebi a lista de pedidos. O fluxo ainda estava tranquilo, com poucas mesas ocupadas às 8h06, mas sabia que logo as coisas mudariam.
Às 11h, como previsto, o restaurante estava a todo vapor. Estava descascando alho quando senti meu celular vibrar no bolso do avental. Limpei rapidamente as mãos e atendi.
— Alô, quem é? — perguntei enquanto tentava me equilibrar entre o serviço e a conversa.
— Falo com a senhora Maitê Goulart? Aqui é do Hospital Frederico de Sá.
Meu coração disparou. O que o hospital queria comigo?
— Sim, sou eu! O que aconteceu? — perguntei, uma angústia crescente tomando conta de mim.
— Sua mãe, Paloma Goulart, foi internada às pressas. Ela passou mal, e precisamos que um membro da família venha acompanhá-la.
Senti meu mundo desabar. Minhas mãos começaram a tremer, e minha mente ficou turva.
— Estou indo para aí agora mesmo! — Respondi com urgência e desliguei o telefone.
Tirei o avental, peguei minha bolsa e saí apressada do restaurante, nem ao menos avisei meu chefe. Não havia tempo para explicações. Assim que pisei na calçada, esbarrei em alguém.
— Desculpa, foi sem querer! — murmurei automaticamente, sem nem olhar para a pessoa. Mas ao levantar os olhos, parei de repente.
Henrique.
Ele parecia tão surpreso quanto eu.
— Tudo bem, não foi nada. — Ele disse, tentando disfarçar a surpresa. — Mas por que está com tanta pressa?
Eu hesitei. Não sabia se devia contar, mas a preocupação falou mais alto.
— Minha mãe... Ela está no hospital, preciso chegar lá o mais rápido possível. — expliquei, já começando a me afastar novamente.
— Maitê, espera! — Henrique me chamou. — Eu posso te levar. Estou de carro. Vai ser mais rápido.
Eu parei por um momento, sem saber como reagir. Ele estava sendo genuíno? Depois de tudo, aceitar ajuda dele parecia contraditório, mas o tempo era precioso.
— Não, obrigada. Vou pegar o ônibus. — respondi, tentando manter minha distância.
— Vamos, Maitê. Sei que o que aconteceu foi estranho, mas não vou fazer nada. Eu só quero ajudar. — Ele insistiu com um tom que parecia sincero.
Ponderei por um instante. Minha preocupação com minha mãe pesou mais que qualquer desconforto.
— Tudo bem, mas só vou aceitar porque preciso chegar rápido. — finalmente cedi, sentindo uma pontada de desconforto ao seguir até o carro dele.
Henrique abriu a porta para mim, e entrei hesitante. Enquanto ele dirigia, o silêncio entre nós era tenso, mas minha mente estava ocupada demais com o estado de saúde da minha mãe para me preocupar com qualquer outra coisa. Tudo o que eu conseguia pensar era: "Por favor, que ela esteja bem".
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Chamas do Desejo
RomanceAcostumado a conseguir tudo o que deseja, Henrique inicialmente a vê como mais uma conquista fácil. No entanto, Maitê não é como as mulheres com quem ele está acostumado. Ao ser tratada com desdém e arrogância, ela impõe limites e o rejeita, despert...