Capítulo 3

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O som suave do elevador subindo preenchia o espaço apertado, quase abafando os pensamentos de Maitê. Ela observava seu reflexo no espelho da cabine, os olhos presos em seus longos cabelos ruivos que desciam em ondas suaves por suas costas. Estavam mais compridos do que o habitual, e as pontas pediam um corte. "Assim que eu tiver tempo, vou cortar as pontas", pensou, distraída por um breve momento da ansiedade que crescia em seu peito.

Quando as portas do elevador se abriram, Maitê foi tomada por uma visão de luxo que a fez perder o fôlego por um instante. O salão à sua frente era imenso, decorado em tons de cinza sofisticado, com móveis minimalistas que exalavam elegância e modernidade. O chão de mármore brilhava sob as luzes difusas, refletindo o brilho sutil que parecia emanar de cada detalhe. Era um ambiente que, para Maitê, parecia pertencer a um mundo completamente diferente do seu. Ao fundo, a música pulsava suavemente, misturada ao burburinho das conversas e risadas.

Ao lado de Kaila, ela atravessou o vasto espaço até uma porta de vidro deslizante, que estava aberta, permitindo que a brisa fresca da noite acariciasse seu rosto. Do outro lado, a área gourmet se estendia, iluminada por luzes em neon que refletiam na superfície calma da piscina, criando um cenário que parecia saído de um sonho. Vários grupos de pessoas estavam espalhados pelo espaço, conversando animadamente. A atmosfera da festa era vibrante, cheia de energia e vida, mas ao mesmo tempo, de algum modo, Maitê se sentia um pouco deslocada.

— Amiga, nós vamos cumprimentar algumas pessoas. Você vem? — perguntou Kaila, sua voz soando animada e acolhedora. Ao lado dela, Dylan sorria, já observando o movimento ao redor.

Maitê hesitou, olhando para o casal que parecia perfeitamente à vontade naquele ambiente. Ela não queria ser um estorvo ou sentir-se de vela para os dois, e, embora a ideia de ficar sozinha a incomodasse um pouco, sabia que essa era a melhor opção.

— Não, amiga, vou ficar bem sem vocês. Pode ir — respondeu com um sorriso tranquilo, tentando parecer mais confiante do que realmente se sentia.

Kaila lançou-lhe um olhar de cumplicidade antes de se afastar com Dylan, deixando Maitê para trás. Por um momento, ela ficou parada, respirando fundo enquanto observava o ambiente ao seu redor. Apesar de sua aparência exterior confiante, a verdade era que festas como aquela a deixavam um pouco desconfortável. Mesmo assim, ela não queria passar a noite presa em sua própria insegurança. Precisava encontrar uma maneira de relaxar.

Decidida, ela começou a caminhar em direção ao bar, um pequeno oásis de luz no canto da área gourmet. Sentou-se em uma das banquetas altas, cruzando as pernas enquanto tentava disfarçar o nervosismo. Ao seu redor, pessoas riam, flertavam e se divertiam, mergulhadas na euforia que a noite trazia.

— Boa noite, gatinha! Vai querer o quê? — perguntou o barman com um sorriso travesso, claramente acostumado a lidar com as pessoas mais descontraídas das festas.

Maitê corou levemente, mas manteve o olhar firme. — Um gin, por favor — respondeu, tentando soar segura.

Enquanto aguardava a bebida, ela olhava ao redor, absorvendo a energia vibrante da festa. Quando o copo foi colocado à sua frente, ela o segurou com delicadeza, levando-o aos lábios e sentindo a leve queimação do gin descendo pela garganta. A bebida trazia consigo uma sensação de conforto, dissipando aos poucos a tensão acumulada em seus ombros.

Terminando o gin, ela se sentiu mais leve, mais livre, quase como se as preocupações tivessem se dissolvido no álcool. Decidiu se afastar do bar e se aproximar da piscina, onde as luzes coloridas criavam uma atmosfera quase hipnótica. Por um momento, ficou parada à beira da água, observando seu reflexo distorcido pelas ondas suaves, uma sensação de serenidade tomando conta de seu corpo.

Impulsivamente, ela tirou a saia e a guardou em sua bolsa, deixando-a a uma distância segura da piscina. Sem hesitar, mergulhou na água morna, sentindo o líquido envolver sua pele como um abraço caloroso. Nadou até a borda, deixando-se flutuar por alguns instantes, com os braços apoiados nas laterais da piscina. O mundo parecia distante, e ela, finalmente, estava se permitindo relaxar.

De longe, observou Kaila e Dylan conversando com outros convidados, e por um momento, um sentimento de solidão a invadiu. Embora gostasse de sua independência, Maitê às vezes se pegava desejando mais companhia, mais conexões. Ela sabia que estava jovem demais para se prender apenas ao trabalho e que precisava aprender a se divertir mais, a se abrir para novas experiências.

Depois de algum tempo, sentiu o desejo de pegar mais uma bebida. Procurou a escada com os olhos, mas havia muitas pessoas ao redor, o que tornava difícil seu acesso. Pensou por um momento: "Vou até lá e peço licença, ou arrisco subir pela borda da piscina com a chance de não conseguir e cair?"

Optou pela segunda opção, impulsionando-se na borda com ambas as mãos. Contudo, o impulso não foi suficiente, e ela afundou de volta na água, sentindo o rosto corar levemente de vergonha. Determinada a tentar novamente, respirou fundo e se preparou para outro esforço, mas antes que pudesse se mover, uma voz grave soou acima dela, fazendo-a estremecer.

— Precisa de ajuda?

Ela ergueu o olhar e se deparou com um homem agachado ao lado da piscina. Ele era alto, com músculos definidos e pele morena. Uma tatuagem tribal adornava seu braço direito, o desenho fluindo pelas linhas de seu corpo. Seus olhos, de um tom escuro e profundo, observavam-na com um misto de curiosidade e diversão. Por um breve momento, Maitê hesitou, se perguntando se deveria aceitar a ajuda, mas, no final, estendeu a mão e segurou a dele. Sua mão era áspera, mas o toque era firme, e ele a puxou para fora da água com facilidade.

— Obrigada pela ajuda — disse ela, com um sorriso tímido, enquanto tentava ajeitar o cabelo molhado que agora grudava em seu rosto.

— Estou à sua disposição — respondeu ele, seus lábios se curvando em um sorriso que fez o coração de Maitê acelerar. — Aliás, você não é daqui, certo? Não te reconheço das festas habituais.

— E você reconhece todos que passam por aqui? — retrucou Maitê, tentando manter o tom leve enquanto erguia uma sobrancelha em sinal de provocação.

Ele riu suavemente, o som baixo e envolvente. — Não, não todos. Mas eu tenho uma boa memória para rostos, e tenho certeza de que me lembraria do seu cabelo.

Maitê riu, tentando disfarçar o leve rubor que subia por suas bochechas. — Moro aqui, mas não vou a muitas festas.

— Entendo. Desculpe, não perguntei seu nome... — disse ele, como se fosse uma pergunta.

— Maitê. E o seu? — ela perguntou, tentando não parecer interessada demais.

— Henrique Matoso — respondeu ele, seus olhos cravados nos dela. — Mas me chame do que preferir.

A conversa fluiu de maneira inesperada e fácil. Enquanto caminhavam em direção ao bar, o som da música e das risadas ao fundo pareciam desaparecer, dando espaço para uma conexão silenciosa entre eles. O segundo gin já havia deixado Maitê mais leve, e o terceiro a fazia se sentir quase flutuando, embora ainda estivesse consciente do que se passava ao seu redor.

— Estava te observando desde que chegou — confessou Henrique, sua voz baixa e rouca, fazendo Maitê corar instantaneamente. — Sua beleza realmente me encantou. Posso te fazer uma pergunta?

Maitê sorriu, nervosa e intrigada pela intensidade que sentia nos olhos dele. — Claro, a segunda pergunta, né? — respondeu ela, tentando aliviar a tensão crescente com um toque de humor.

Ele se aproximou levemente, sua voz se tornando um sussurro quase íntimo. — Qual é o seu valor?

A pergunta a pegou de surpresa. Maitê franziu o cenho, confusa com o significado por trás das palavras dele.

— Como assim? Seja mais claro, por favor — pediu ela, sentindo uma estranha inquietação crescer em seu peito.

Henrique inclinou-se ainda mais, sua presença dominando o espaço entre eles. Seu sorriso, que antes parecia encantador, agora carregava seriedade. — Quanto você quer para passar uma noite comigo?

Aquelas palavras perfuraram o ar, deixando Maitê atônita. O choque reverberou por seu corpo.

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