Capítulo 8

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Uma semana havia se passado, e tudo ao meu redor parecia desmoronar. O estado da minha mãe havia piorado consideravelmente, agravado pela falta de um tratamento adequado em um hospital especializado. O peso disso sobre meus ombros parecia impossível de suportar. Se não bastasse, fui demitida. Já era difícil lidar com a situação de saúde da minha mãe, mas agora, sem emprego, me sentia ainda mais impotente. O dinheiro que eu tinha guardado era o suficiente para nos manter por um tempo, mas de forma alguma cobriria os custos de um tratamento especializado.

Apesar de tudo, Kaila estava ao meu lado, como sempre. Ela ficava no hospital o máximo de tempo possível para que eu pudesse ir para casa descansar, mesmo sem trabalhar. Eu estava exausta de passar o dia todo no hospital, mas, ao mesmo tempo, não conseguia me afastar por muito tempo.

Nos últimos dias, Henrique não havia aparecido. Parte de mim se sentia aliviada, já que sua presença me deixava desconfortável. Ele era uma boa companhia, mas algo nele me deixava em alerta. Contudo, não podia negar que, em meio ao caos, ele trazia uma estranha sensação de segurança.

Levanto da cama e me preparo para mais um dia. Olho o relógio no celular, eram 08:36. Rapidamente, visto uma roupa confortável e prendo o cabelo. Não me dou ao trabalho de tomar café da manhã, pego uma maçã e saio apressada para o hospital.

Ao chegar, o cheiro estéril do hospital me atinge de imediato. A sensação de impotência me acompanha desde a primeira vez que entrei naquele lugar. Dirijo-me à sala onde minha mãe está internada e, ao entrar, encontro Kaila e Dylan sentados nas poltronas. O semblante de ambos era cansado, mas acolhedor.

- Bom dia, pessoal - digo, tentando sorrir enquanto me aproximo.

Kaila se levanta rapidamente e me abraça.

- Como você tá, amiga? Conseguiu descansar? - ela pergunta, soltando-me do abraço e me examinando com olhos preocupados.

- Sim, consegui descansar mais. - Tento soar convincente. Ela assente, mas conhecendo-a bem, sabia que ela não estava totalmente convencida.

- Eu e Dylan vamos ter que ir agora. Eu não vou poder vir nos próximos dois dias. Precisamos ir à cidade vizinha, mas assim que voltar, prometo que venho direto para cá. - Kaila parecia preocupada, como se estivesse me deixando sozinha em uma batalha.

- Tá tudo bem, pode ficar tranquila. Eu vou dar conta. - Tento tranquilizá-la, mesmo que a verdade seja que eu me sentia à beira de um colapso.

- Qualquer coisa, me liga, tá? - Ela pega a bolsa e se despede com um último abraço.

Assinto e vejo ambos saírem. Assim que a porta se fecha, um silêncio pesado se instala no quarto. Sento-me na poltrona ao lado da cama da minha mãe, tentando organizar meus pensamentos. Como eu faria para transferi-la para um hospital especializado? As palavras do médico ecoavam na minha mente. O dinheiro que eu tinha não era suficiente para cobrir os custos. Desesperadamente, buscava por uma solução, mas as opções eram escassas.

Decido sair um pouco do quarto, sentindo a necessidade de espairecer. Caminho pelos corredores do hospital até a área externa, onde algumas flores tentavam trazer vida ao ambiente sombrio. O sol batia suavemente sobre meu rosto, mas não era o suficiente para aliviar a sensação de angústia. Respiro fundo, tentando me recompor.

Olho o relógio no celular novamente. 11:47. Era hora de voltar para o quarto. Ao abrir a porta, sou surpreendida por uma figura masculina, de costas, conversando com a minha mãe. Reconheço o perfume antes mesmo de ele se virar. Henrique.

- Tenho certeza que logo, logo, a senhora vai estar bem! - Ouço sua voz gentil, reconfortando minha mãe.

- Éh... O-oi... - gaguejo involuntariamente, me condenando por isso.

Henrique se vira com um sorriso suave nos lábios. Seu olhar me percorre dos pés à cabeça, mas não de forma invasiva, apenas atento.

- Oi, Maitê. Como você tá? - Sua voz soa genuinamente preocupada enquanto se aproxima.

- Estou bem - respondo, mas minha tentativa de parecer tranquila falha miseravelmente. - Quanto tempo...

- Tive que resolver algumas coisas nesse meio tempo - ele diz, seu tom casual, sem entrar em detalhes. Apenas concordo com a cabeça, sem saber o que dizer.

- Seu amigo é muito gentil, filha. Obrigada por ter vindo, Henrique. - Minha mãe sorri, seu rosto marcado pelo cansaço, mas seus olhos brilham em gratidão.

A situação me pegou completamente desprevenida. Não esperava ver Henrique ali, ainda menos conversando tão à vontade com minha mãe. Meu desconforto aumenta, mas disfarço o melhor que posso.

- Maitê? - A voz de Henrique me tira dos meus pensamentos.

- Hm? - Olho para ele, percebendo que estava perdida em meus devaneios.

- Perguntei se você já almoçou.

- Ah... Não, ainda não. - Respondo rapidamente.

- Estou indo para um restaurante aqui perto. Quer vir também? - Ele verifica o relógio, me encarando de forma suave, sem pressão.

- Não, obrigada. Não quero deixar minha mãe sozinha. - Recuso educadamente.

- Pode ir, filha. Você não merece comer essa comida sem gosto do hospital. - Minha mãe tenta me convencer, mas hesito.

- Mãe, você não pode ficar sozinha. - Franzo as sobrancelhas, preocupada.

- Não se preocupe, logo a enfermeira vai me verificar. Ela sempre fica um tempo aqui conversando comigo. Vai lá, eu vou ficar bem. - Ela sorri, tentando me tranquilizar.

Relutante, concordo. Não queria parecer mal-educada recusando a oferta de Henrique, e talvez uma refeição decente me fizesse bem. Caminhamos até o estacionamento em silêncio, e me surpreendo ao parar em frente a uma BMW preta reluzente.

- Você pode ir no banco da frente. - Ele abre a porta para mim, com um sorriso cativante. - A menos que tenha me contratado como seu motorista.

Dou uma risadinha discreta e entro no carro. Ele fecha a porta suavemente e logo dá a volta para o lado do motorista. O silêncio entre nós era confortável.

- Vamos para qual restaurante? - pergunto, apenas para quebrar o gelo.

- Você vai ver. - Ele lança um olhar de canto, com um sorriso que me deixa curiosa.

O carro desliza pelas ruas da cidade, e por um momento, quase esqueço dos problemas que me cercam. Algo na presença de Henrique trazia um estranho alívio, mesmo que eu não quisesse admitir isso. Era como se ele soubesse o momento exato de falar e, mais importante, de ficar em silêncio.

Henrique parou em frente a um restaurante pequeno, mas aconchegante, com uma fachada rústica. A sensação de normalidade ao entrar naquele lugar era quase surreal. Sentamos em uma mesa próxima à janela, e logo o garçom nos trouxe o cardápio.

- Esse lugar é especial - ele disse enquanto me entregava o menu. - Poucas pessoas sabem o quão boa é a comida aqui.

Olhei para ele, surpresa com a escolha. Não era um restaurante de luxo, mas parecia escolhido a dedo. Senti que ele queria me trazer para um lugar onde eu me sentisse confortável, não intimidada.

- Como descobriu esse lugar? - perguntei, enquanto olhava o menu.

- Gosto de descobrir cantinhos como esse. Lugares que as pessoas normalmente não notam. - Seu sorriso era tranquilo, quase enigmático.

Pedimos nossos pratos, e o almoço seguiu de forma surpreendentemente leve. Henrique era um bom ouvinte, me deixando falar sobre minha mãe, o hospital e até mesmo sobre a perda do emprego, sem fazer perguntas incômodas. Ele oferecia apoio sem parecer intrometido, o que tornava tudo mais fácil de compartilhar.

Quando o almoço terminou, senti-me um pouco mais leve. Talvez, pela primeira vez em dias, consegui respirar um pouco melhor. Voltar para o hospital parecia um fardo menor após aquele momento de tranquilidade.

Henrique me levou de volta ao hospital, e quando estacionei, ele virou-se para mim com aquele mesmo sorriso de antes.

- Se precisar de qualquer coisa, Maitê... estou por aqui. - Ele disse, sua voz baixa, mas cheia de sinceridade.

Assenti, sentindo uma gratidão silenciosa. Talvez Henrique fosse mais do que eu esperava.

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