Amigos, Estranhos, Amantes!

Capítulo 10: Resquícios de um Passado In(acabado)

Se eu pudesse voltar e mudar o passado
Ser um pouco mais corajosa do que fui
E apostar contra as probabilidades
Eu ainda estaria perdida?
Mesmo que eu acordasse nos meus sonhos
Ainda haveria algo faltando?
[...]
Parece que eu posso ter quebrado a melhor coisa que eu tinha
Disse coisas demais para voltar atrás

Wondering - Olivia Rodrigo

💔

Assim que Helena e Marcelo saíram, Miguel Finkler levantou-se da mesa sem dizer uma palavra ao filho mais novo. Sua mãe, Silvia, forçou um sorriso, mas os olhos tristes entregavam os sentimentos que ela tentava esconder. Benjamin percebeu, mas escolheu ignorar, soltando uma piada para quebrar o gelo que havia se instalado na sala.

- Papai envelheceu mesmo, não consegue mais suportar a ideia de socializar com gente - disse ele, tentando forçar um tom despreocupado.

- Ele sempre foi assim - respondeu Silvia, com uma doçura que não combinava com o ambiente pesado.

Calina, que até então estava em silêncio, aproveitou a deixa.

- Acho que vou embora, está ficando tarde - disse, levantando-se. O movimento lembrou Benjamin de que ela ainda estava na sala.

- Eu também já vou. Posso te levar para casa, Lilih - ofereceu Benjamin, tentando esconder o incômodo que sentia pela indiferença do pai.

- Não precisa, eu vou devagar - respondeu Calina, mas a mãe de Benjamin interveio antes que ele pudesse insistir.

- Ele vai te levar sim. Os tempos mudaram, e tudo anda muito perigoso - disse Silvia, de forma decidida.

- Tudo bem, então, já que não tenho escolha - Calina cedeu com um sorriso.

- Tchau, mãe - Benjamin depositou um beijo na bochecha de Silvia, e logo ele e Calina estavam fora da casa, andando lado a lado no caminho que levava à casa dela.

O único som que os acompanhava era o de seus passos sobre o cascalho e o canto dos passarinhos que saudavam o fim da tarde. Calina mexia inquieta nas mãos, enquanto Benjamin mantinha os olhos fixos no horizonte, como se estivesse perdido em seus próprios pensamentos.

- Então, não vai me contar como foi viver fora do Brasil por todos esses anos? - perguntou Calina, tentando puxar conversa.

Benjamin suspirou, ainda olhando para frente, como se estivesse contemplando algo distante.

- O que posso dizer? Para uma alma viajante como a minha, foi incrível, Lilih. Morei em Londres por cerca de três anos, depois fui para Manchester, no interior. Não consegui ficar muito tempo, me mudei para Cambridge e lá fiquei até resolver voltar para cá - respondeu ele, a empolgação começando a aparecer em sua voz. - O Mercado Leadenhall é ainda mais bonito pessoalmente; as paredes são tão ricas em detalhes que é difícil não se perder em sua beleza extravagante...

Enquanto Benjamin falava, Calina, notou algo diferente em sua voz, um entusiasmo que não combinava com o homem reservado que ela conhecia. Mas, em algum momento, as palavras de Benjamin começaram a se distanciar e ela se pegou absorta em seus próprios pensamentos, refletindo sobre o homem que ele havia se tornado.

- E você, o que acha? - perguntou Benjamin, virando-se para ela com um sorriso cheio de expectativa.

- Perdão, não escutei muito bem - admitiu Calina, envergonhada por ter se distraído.

- Perguntei se você não gostaria de um dia conhecer a Inglaterra - repetiu ele, ainda sorrindo.

Calina colocou um fio de cabelo atrás da orelha.