Part 1.

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Tudo no lugar era impecável.

Talheres totalmente polidos e limpos, a toalha de mesa cheirava a perfume de lavanderia, cadeiras posicionadas prontas para aconchegarem os clientes.
Ali permanecia ela, o vestido preto com o comprimento até seus joelhos, um pequeno sorriso brincando em seus lábios, as pernas torneadas estavam totalmente cruzadas, mas os olhos claros, estavam encarando a mala ao lado do homem poucos metros longe dela. Ela estava preparada para mais uma noite de trabalho, mesmo estranhando a facilidade para o exercer, a mulher se levantou e seguiu até o banheiro, assim entrando no mesmo. Ajeitou discretamente a pistola sob sua coxa, verificando se estava bem  e assim aproveitou para puxar a barra do short de compressão quase invisível por baixo do tecido.

— Como anda as coisas ai em baixo, Jauregui? – Ouviu o tom sugestivo da mulher magra e morena entrando no banheiro. Logo se posicionando atrás de si, levando as mãos ate seu quadril por cima do vestido.

— O que faz aqui, Keana? – A de olhos claros indagou virando para a mulher.

— Isso quem pergunta sou eu, o que você faz aqui por um recompensa tão pequena pra você? – Keana riu e encostou-se a pia mais próxima.

— Isso não é de seu interesse. — A mais alta passou a mão sobre seus cabelos. — Agora tenha uma boa noite.

A mulher deixou para trás Keana assim saindo do banheiro, logo olhando seu relógio. Suspirou fundo, ela tinha no máximo três minutos para correr até o seu alvo que já estava saindo do estabelecimento. Jauregui seguiu discretamente o seu objetivo até uma rua totalmente escura e sem movimento algum, o seu alvo parou e virou para trás logo encarando a mulher e puxando uma pistola. “Pare e fique ai, não tenho medo de atirar em você!”, o homem gritou apontando a arma para ela, que soltava uma risada enquanto levantava as mãos.

— Você sabe que não é só eu, certo? E abaixe essa porra, não tenho paciência para velhos. — Alertou calmamente como se fosse uma situação normal, bem, "normal" para ela. Um click logo foi ouvido, e droga, como ela odiava pessoas teimosas, odiava ter que causar mortes. Preferia um trabalho limpo e sem descontos por fazer uma bagunça. Nem que precisasse disso mas ela realmente necessitava da informação que o homem carregava, nem que fosse pouco dinheiro, mas queria. A mulher se aproximou do homem rapidamente e desferiu um chute na mão onde a arma permanecia, fazendo a mesma voar para longe. Ela sorriu vitoriosa quando o homem largou maleta e saiu correndo o mais rápido que podia do local.

...

"Você deixou ele escapar? Isso lhe trará problemas.
O dinheiro foi transferido. Agradeço pelo serviço prestado, Cali."

"Houve uma transferência de...."

As mensagens brilhavam na tela de notificações de seu celular, indicando o término do trabalho sujo. Apenas o suspiro alto ecoou no apartamento vazio enquanto retirava o vestido de seu corpo junto ao short. As persianas permaneciam fechadas, mantendo o local escuro e aconchegante o suficiente ao mesmo tempo que uma vela aromática exalava o odor amadeirado.
O corpo magro agora permanecia coberto por uma toalha depois de longos minutos na banheira quentinha, ela quase comemorava o silêncio instalado. Não gostava de barulhos além de músicas de uma maneira em geral e sempre viveu daquela forma, sozinha e em silêncio. Mas com os pensamentos interropidos, bufou ao ouvir um de seus celulares tocar, se esticando minimamente para alcançar o aparelho jogado na cama.

"Antes que fale algo, me diga que está segura." A voz feminina soava em tom de preocupação, fazendo Lauren rir e afirmar que sim. "Você ri sabendo que aquele cara era armação pra você?"

— O que você quer dizer, Dinah? – Respondeu rapidamente, odiava brincadeiras como aquelas e ainda mais quando envolvia seu trabalho. — Você sabe que eu odeio quando...

"Arranje um advogado, meu informante disse que conseguiram seu rosto finalmente. Até outros agentes estão curiosos para ver o rosto de Cali." Dinah cortou a resposta rapidamente, no outro lado da linha, passava as mãos nervosamente por seu rosto antes de soltar as últimas palavras para desligar. "Pare por um tempo. Irei te mandar o relatório deles, depois passo ."

Dinah era uma veterana aos seus 25, se sentiu abandonada pelo governo após a guerra e bem, agora trabalhava contra eles. Resumia sua passagem pelo combate especial como um desperdício de talento da CIA e Lauren concordava, era a melhor que havia visto em ação. Ambas se conheceram quando a loira havia saído recentemente do local, foi quem a acolheu e lhe ensinou o melhor combate corpo a corpo que poderia conhecer. Se consideravam irmãs, cuidava mais de Lauren do que qualquer outra coisa além do trabalho, sabia dos riscos e da ilegalidade em que a mais nova vivia. Somente se frustrou quando soube que ela recusou a vaga do MIT, era uma chance para viver normalmente. Entretanto sabia que Lauren estava focada no dinheiro fácil e em cuidar dos irmãos mais novos. Afinal, era extremamente boa no que fazia.

A de olhos claros jogou o celular para longe novamente desde que a ligação foi desligada, balançando a cabeça negativamente e quase com a expressão de decepção, perguntando a si mesma:  "Como não notei que ele nem ligou pra maleta? Eles sabem do que eu estou atrás?", ao mesmo tempo que a dúvida se instalava em sua mente, colocou a cueca e uma camisa larga, pegando o objeto conquistado no trabalho e abriu.
Alguns documentos rabiscados, passaportes e fotos pessoais, o foco foi para uma imagem desgastada do homem engravatado buscando a criança na porta do que parecia ser uma escola. Mordeu os lábios em questionamento mais uma vez, observando a documentação até notar um post-it no fundo.

"Pegamos você, Cali?"





M.O.N.E.YOnde histórias criam vida. Descubra agora