005. A Pedra

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Ele andou lentamente até uma pilha de livros do outro lado da sala, fingindo desinteresse. Então, estalou os dedos e murmurou algo baixinho, fazendo alguns deles flutuarem em sua direção.

Com uma displicência irritante, ele começou a folheá-los como se estivesse em plena biblioteca e não em detenção.

- Olha, se você vai continuar aqui, você podia ao menos ajudar. - falei, empurrando uma cadeira velha para o lado e tentando parecer ocupada.

Draco não respondeu de imediato, mas eu podia sentir o peso do olhar dele em mim. Estralei os dedos.

- Não é como se você estivesse fazendo algo útil quando cheguei aqui.

Ergui as sobrancelhas em uma expressão incrédula. Ele deu um chute em um baú que estava parcialmente coberto por um tecido empoeirado.

- Lixo ou doação? - falou, afinando a voz em uma tentativa falha de me imitar.

- Leva pra sua casa. Lá é um lixão mesmo.- apanhei outro candelabro e joguei sobre a mesa, colocando ordem naquele pedaço. Comecei a separar álbuns que estavam empilhados, imaginando como alguém conseguiria guardar tantas coisas inúteis em uma única sala.

- Meu pai vai saber disso. - falou, franzindo a testa em descontentamento.

- Claro que ele vai.

Ele suspirou, passando a mão na testa.

- Certo. - ele ergueu a varinha, e mais uma vez, alguns itens ao redor dele começaram a se mexer, flutuando para diferentes partes da sala. - Faremos isso do jeito fácil.

Com um movimento ágil, as bugigangas começaram a se separar, formando montes organizados de "lixo", "doação" e "guardar". Enquanto ele fazia isso, eu me limitei a observá-lo por um segundo. Honestamente, eu me senti estúpida. Snape tinha dito mesmo. Por que não fiz isso antes?

- Então é isso? Vai fazer mesmo a maior parte do trabalho sozinho e me deixar assistindo? - questionei.

- Só estou nos poupando de mais uma semana aqui. Não me agradeça.

O comentário dele, por mais arrogante que fosse, me fez querer rir, mas é óbvio que eu não daria esse gostinho. Não para ele. Ao invés disso, voltei para uma das pilhas e, com um movimento da minha varinha, comecei a arrumar outras caixas que estavam ali.

Não demorou muito para que eu o visse novamente mexendo nos objetos, claramente mais focado em explorar do que em cumprir a nossa tarefa. Em algum momento, o barulho da varinha de Draco cessou, e eu o olhei de relance empurrando uma cadeira para o lado e se encostando nela.

- Já desistiu? - falei, arqueando uma sobrancelha.

- A magia faz o trabalho. Eu só fico de olho. - ele sorriu, sem se levantar.

Tornei a mexer em alguns pergaminhos enquanto o observava, extremamente confortável em não fazer nenhum esforço físico. Os itens ao redor dele ainda se moviam no ar com perfeição e se dividiam entre os montes.

Mas foi aí que um estranho som ecoou pela sala. Um estalo seco.

- Que diabos foi isso? - perguntei, erguendo a cabeça, tentando identificar de onde o barulho vinha.

Malfoy também pareceu perceber, pois seu olhar rapidamente focou no teto da sala, mas deu de ombros.

- Deve ser só mais um móvel velho. Essa sala é um desastre.

Antes que eu pudesse retrucar, o estalo se repetiu, mas desta vez foi seguido por um zumbido - o mesmo zumbido do colar. E súbito, as caixas que Draco estava controlando pararam de flutuar e caíram pesadamente no chão, espalhando livros e objetos por toda parte.

- Mas que...? - Draco franziu o cenho, erguendo o corpo antes relaxado, mas nada aconteceu. Ele murmurou alguns feitiços, agitando a varinha, mas o resultado foi o mesmo: nenhum efeito.

Um silênciou se seguiu por segundos, até eu começar a dar muita, muita risada. Pendi o corpo para frente, sentindo minha barriga doer e tremer ao mesmo tempo.

- Parece que alguém perdeu o toque, não é, Malfoy?

Ele olhou para a varinha, confuso e irritado.

- Isso não faz sentido. - E então, com mais força, ele murmurou "Wingardium Leviosa", tentando levantar uma pequena planta caída no chão.

Nada.

Minha diversão cessou no momento em que uma sensação incômoda surgiu dentro de mim. Algo estava errado. Não simplesmente errado. Era muito errado. O zumbido continuava reverberando pela sala, como um pulsar vindo de dentro das paredes.

Comecei a me mover, tentando rastrear a origem daquele som, até que meu olhar se fixou em um armário antigo no canto. Ele estava parcialmente escondido atrás de uma pilha de cadeiras, mas o barulho irritante parecia mais alto a cada passo que eu dava mais próximo dele.

- Fawley, não toque nisso.

Obviamente, eu ignorei e abri a porta do móvel com cautela. Dentro, uma pedra grande, irregular, de cor azulada, repousava sobre uma almofada bordô de veludo.

- O que... é isso? - sussurrei, sem tirar os olhos da pedra.

Senti ele se aproximando e suspirando bem atrás de mim, deixando sua pose tranquila de lado. Ele olhou para o objeto e, ao olhar para ele, vi algo quase próximo de uma preocupação iminente em seu rosto.

- Uma Pedra de Contenção Mágica?

- Pedra de o quê??

Ele revirou os olhos, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia que existisse. Tecnicamente, o nome já dizia muita coisa, mas ainda assim... Nem todo mundo era um guru da magia.

- Era usada em feitiços antigos para anular a magia em um ambiente fechado. Quando era perigoso demais. - Draco explicou, passando a mão pelo cabelo. - Alguém deve ter colocado isso aqui para garantir que ninguém usasse magia nesse lugar. É por isso que meus feitiços não estão funcionando mais.

Levantei as sobrancelhas, impressionada. Isso explicava muita coisa, inclusive a joia que havia chamado minha atenção mais cedo. A sensação de formigamento na minha mão era nada mais, nada menos do que o colar querendo usar sua própria força.

- Mas eu não entendo. Professor Snape disse que podíamos...

- Ele falou que você poderia usar magia, mas não que necessariamente funcionaria. Snape não é burro, deve ter pensado em todas as contramedidas para qualquer um que tentasse trapacear na detenção. - falou, me cortando.

- Draco, mas é praticamente impossível arrumar toda essa bagunça sem nada de magia. Olha só o tamanho dessas pilhas!

Ele olhou para mim com uma expressão que continha uma mistura de frustração e resignação.

- Vamos ter que fazer do jeito trouxa. É, eu posso lidar com isso. - bufou, desgostoso com a ideia.

Eu soltei uma risada amarga e sem humor. O garoto me lançou outro olhar afiado, mas eu sabia que, no fundo, eu estava tão desesperada quanto ele.

Olhei ao redor da sala, que agora parecia triplamente maior e mais caótica sem a ajuda de feitiços. Montanhas de objetos estavam por toda parte, caixas abertas com livros caídos, terra espalhada no chão, móveis quebrados...

Olhei para o armário e depois para Draco. Desejei pegar a pedra e jogá-la longe daquele cômodo, mas fiz uma lista mental dos motivos pelos quais eu não poderia fazer isso.

1) Parecia pesada demais para mim;
2) Eu não sabia se podia ou não tocá-la sem interferir na minha própria magia; e
3) Se eu a removesse dali, onde a colocaria?

- Você tá me dizendo que esse foi só... o primeiro dia?

- Ah, mas você verá... No fim das contas, ninguém resiste aos meus charmes.

- Vá a merda, Malfoy.

𝐄𝐜𝐥𝐢𝐩𝐬𝐞𝐝 𝐇𝐞𝐚𝐫𝐭𝐬 | Draco Malfoy.Onde histórias criam vida. Descubra agora