014. O Passado

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'Cause that shit's embarrassing,
You were my everything
And all that you did
Was make me fucking sad
- Happier Than Ever (Billie Eilish)
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Eu nunca fui muito fã do calor. Desde que eu ainda era uma pequena garotinha, que dormia com Mr. Binglestones, meu urso de pelúcia puído e remendado em diversos lugares. Não gostava da sensação do suor escorrendo pela testa, da maneira em que o corpo gruda nos tecidos das roupas, nem do sol escaldante queimando a pele.

Em contrapartida, me alegrava quando o inverno chegava. Ficava fascinada com a beleza dos pequenos flocos de gelo, com as brincadeiras, as batalhas de bolas de neve com minha família. Adorava tomar chocolate quente com cubos de açúcar e me aquecer na lareira recém-acesa com magia.

Acho que ao longo desta história, não tive a oportunidade clara de contar a você, leitor, mais sobre mim. Meu nome é Elizabeth Jane Fawley, tenho quinze anos e sou a segunda filha de um casal que se conheceu no castelo em que eu frequento e moro boa parte do ano. Jane veio da minha mãe. Uma bruxa brilhante, eu diria. Inspiradora, batalhadora, guerreira. Fawley veio do meu pai, Edward, que integrou a casa Lufa-Lufa.

Seis anos antes do meu nascimento, veio o meu irmão, Alex. Assim como eu e como meus pais, ele frequentara Hogwarts. Porém, diferente de mim e de toda a nossa família, ele fora selecionado para a Corvinal. Acredito que, no final das contas, ele herdara de minha mãe toda a inteligência e toda a destreza.

Tem mais um motivo pelo o qual eu odeio o verão.

Em julho de 1993, nas férias após o final do meu segundo ano letivo, saíra em todos os jornais do Profeta Diário que Sirius Black havia escapado de Azkaban e houve um sinal, um alarme falso sobre a possível volta Daquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Mas que se dane, não é? Voldemort.

Hermione disse uma vez que o medo de um nome só faz aumentar o medo da própria coisa, e ela tem razão. O fato é que, naquela manhã específica, eu acordei mais tarde do que o habitual. Havia algo de interessante demais na minha cama que me prendia à ela. Lembro-me de descer as escadas de madeira, e não ouvir o barulho costumeiro da televisão na sala de estar. De não sentir o cheiro de pães tostados e café passado, como todos os outros dias.

Ao invés disso, encontrei meus pais sentados na cozinha, de mãos dadas. Quando me viu, ela passou as costas das mãos nos olhos, mas eu já não era mais tão ingênua para não perceber que ela estava chorando e que não era pouco. A face de meu pai estava vermelha, como se ele tivesse se segurando para não desabar.

No centro da mesa de vidro, havia um único pergaminho manchado, com poucas palavras escritas.

Não precisei de muito para entender o que estava acontecendo ali.

A caligrafia desleixada de Alex era inconfundível. E foi então que eu percebi pelos trejeitos de meus pais, que ele abandonara tudo - sua família, sua casa, seu porto seguro - para seguir as trevas.

No final das contas, essa era uma batalha que vinha sendo travada havia anos, e que não tinha previsão alguma de fim. E de qualquer forma, não fora somente Harry que perdera algo ou alguém importante para o outro lado.

Todos nós temos nossas próprias dores, nossas próprias sombras do passado que nos atormentam. E se, porventura hoje eu me tornei uma garota ainda mais explosiva e mais irritada, eu tive um motivo. Uma razão. Eu queria ser capaz de mudar isso.

𝐄𝐜𝐥𝐢𝐩𝐬𝐞𝐝 𝐇𝐞𝐚𝐫𝐭𝐬 | Draco Malfoy.Onde histórias criam vida. Descubra agora