007. O Bilhete

13 0 0
                                    

Como de costume, as manhãs das minhas terças e quintas-feiras eram tomadas quase por completo pela aula de Poções nas masmorras. A sala estava no habitual clima tenso e Snape andava pelos corredores com seus olhos de águia, procurando qualquer deslize.

Eu estava tentando focar na mistura borbulhante à minha frente, mas era difícil me concentrar sabendo que eu era uma negação nessa matéria. Estávamos em duplas, eu e Ron de um lado, com Harry e Hermione logo na frente. De repente, senti um leve raspão passando pelo meu braço. Virei-me, e lá estava - um pedaço de pergaminho dobrado que escorregara suavemente pela mesa até parar ao meu lado.

Procurei a fonte de onde o objeto viera, e de relance, vi Draco, que conversava com Blaise Zabini sem parar. Sua face estampava aquele típico sorriso de quem armava algo. Relutante, desdobrei o bilhete:

𝔗𝔞𝔩𝔳𝔢𝔷 𝔳𝔬𝔠ê 𝔡𝔢𝔳𝔢𝔰𝔰𝔢 𝔰𝔢 𝔭𝔯𝔢𝔬𝔠𝔲𝔭𝔞𝔯 𝔪𝔢𝔫𝔬𝔰 𝔠𝔬𝔪 𝔞 𝔰𝔲𝔞 𝔭𝔬çã𝔬 𝔢 𝔪𝔞𝔦𝔰 𝔢𝔪 𝔤𝔞𝔯𝔞𝔫𝔱𝔦𝔯 𝔮𝔲𝔢 𝔰𝔢𝔲𝔰 𝔞𝔪𝔦𝔤𝔬𝔰 𝔰𝔬𝔟𝔯𝔢𝔳𝔦𝔳𝔞𝔪 𝔞𝔬 𝔗𝔬𝔯𝔫𝔢𝔦𝔬. 𝔄𝔣𝔦𝔫𝔞𝔩, 𝔬 𝔮𝔲𝔢 é 𝔭𝔢𝔯𝔡𝔢𝔯 𝔪𝔞𝔦𝔰 𝔞𝔩𝔤𝔲é𝔪, 𝔫ã𝔬 é?
— 𝔇.𝔐.

Meu coração apertou no peito. O bilhete fora provavelmente sem querer direcionado a mim, mas a provocação clara estava ligada a Harry, que estava na minha diagonal e nem imaginava o que estava acontecendo. Virei para a direita e fitei Ron, que me estudava, curioso. Fechei o papel com força, os dedos tremendo, antes que ele lesse algo.

- Está tudo bem? - ele sussurrou ao meu lado, percebendo minha mudança de expressão.

Assenti brevemente, mas meus olhos estavam fixos mais uma vez em Draco. Ele estava inclinado sobre a própria mesa, fingindo estar ocupado com a poção, mas aquele sorriso cínico não enganava ninguém. Harry e Mione ainda não tinham notado nada, o que era bom, realmente bom. Eu não precisava de uma confusão agora, mas... algo em mim queria entrar em erupção, e não demoraria muito pra que isso acontecesse.

Draco sendo mais humano uma vírgula. Ele sempre vai ser o mesmo, pensei, apoiando o bilhete na capa do livro e segurando minha pena já embebida em tinta nanquim, com a minha destra.

Rabisquei algumas palavras, e antes que pudesse pensar duas vezes e antes que o professor percebesse, joguei o papel de volta na direção do loiro. Seu olhar encontrou o meu, e, como se por reflexo, ele abriu o bilhete e leu a minha resposta apressada escrita no verso:

𝒯𝒶𝓁𝓋𝑒𝓏 𝓋𝑜𝒸ê 𝒹𝑒𝓋𝑒𝓈𝓈𝑒 𝒻𝑜𝒸𝒶𝓇 𝓂𝑒𝓃𝑜𝓈 𝑒𝓂 𝒻𝑒𝓇𝒾𝓇 𝑜𝓈 𝑜𝓊𝓉𝓇𝑜𝓈 𝑒 𝓂𝒶𝒾𝓈 𝑒𝓂 𝓈𝑒𝓇 𝒶𝓁𝑔𝑜 𝒶𝓁é𝓂 𝒹𝑒 𝓊𝓂𝒶 𝓈𝑜𝓂𝒷𝓇𝒶 𝒹𝑜 𝓈𝑒𝓊 𝓅𝒶𝓅𝒶𝒾𝓏𝒾𝓃𝒽𝑜.
— 𝐸. 𝐹.

Quando ele leu, a mudança foi instantânea. O sorriso malicioso sumiu. Suas sobrancelhas se uniram levemente, e sua postura mudou. Ele hesitou, e então, vi algo quebrar no olhar frio dele. Ele permaneceu quieto, mas eu sabia que minhas palavras tinham atingido o ponto certo. Ele desceu os olhos para a mesa, sem dar a habitual risadinha de superioridade que costumava seguir suas provocações.

Algo mudou ali, naquele instante. Pela segunda vez, vi que ele não era o Malfoy orgulhoso e intocável que sempre aparentava ser. Pelo contrário, parecia... acuado. Harry olhou pra mim de canto, percebendo o silêncio incomum que se instalara no ambiente.

- O que foi? O bebezão lá ficou sem piadinhas? - comentou com um sussurro debochado.

- É, deixe pra lá. - murmurei, voltando a focar na minha poção, mas ainda me sentindo observada.

𝐄𝐜𝐥𝐢𝐩𝐬𝐞𝐝 𝐇𝐞𝐚𝐫𝐭𝐬 | Draco Malfoy.Onde histórias criam vida. Descubra agora