Capítulo 8 - Eu não posso fugir

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Capítulo oito

Eu não posso fugir

Mesmo quando era um 'imortal menor', para o jabuti futilidades como "admirar a mudança das estações" nunca lhe foram permitidas. Seus ancestrais diziam: "Aquele que tem o nascimento divino, PRECISA dar-se o respeito e limitar preocupações desnecessárias!". Dessa forma, por ser excepcional, cresceu venerado e imediatamente ganhou a simpatia do Lorde Celestial, que o convidou para terminar os estudos no palácio dos céus ao lado de seu filho. Para a Corte Imperial, essa movimentação significou manter aquele de grande objetivo leal a sua nação e proteger o trono da sua família, também aproximá-lo do frágil príncipe herdeiro e esperar que a sua abundância em energia espiritual o curasse com o tempo. O que de fato aconteceu, o jabuti conheceu o tímido dragão branco e cresceram juntos.

Só que naquele ano, a primavera tinha um frescor diferente.

Após ajudar o imortal ferido, a rotina pacata de uma divindade reclusa foi alterada para uma mais agitada, visto que curá-lo exigiu muito conhecimento medicinal e o uso de energia espiritual. Atitude que o deus reconheceu como errônea, porque a forma primordial do desconhecido era um urso e eles foram condenados por alta traição durante os anos da guerra. A concubina do Lorde, princesa daquela região (lar dos ursos), cedeu a ambição e envenenou a Imperatriz visando àquela posição, a sua morte prematura despertou uma fúria brutal ao líder, que ordenou a aniquilação total das espécies e não só o seu clã. Então, com o término de uma guerra, logo começou-se outra e nauseado com a morte de inocentes, contra a aprovação de todos, o Alto Deus renunciou a posição de general e anunciou sua reclusão ainda tão jovem.

A princípio, o Lorde Celestial foi contra, mas por entender que não podia forçá-lo a permanecer a seu lado, o presenteou com uma mansão num lugar distante e permitiu que descansasse com a promessa que se um dia o Príncipe Herdeiro precisasse, ele DEVE retornar e auxiliá-lo.

O jabuti concordou, porque não tinha como recusar.

No topo do monte, ele olhava o horizonte preocupado, porque agora recuperado, o esperado era que o imortal arrogante o deixasse para seguir o próprio destino, uma vez que a promessa se cumpriu e não tinha mais responsabilidade por ele, mas o jabuti nunca imaginou (idealizou) que aquele a intimá-lo para o ajudar mesmo em posição desfavorável, não teria interesse algum em deixá-lo. À primeira vista, o urso lhe pareceu problemático, porque apresentou-se com uma postura problemática. Entretanto, com o tempo, o deus entendeu que para quem precisa sobreviver, é comum adotar posturas adversas.

— Ei, você! — uma pedrinha foi arremessada bem na sua cabeça, batendo nela e caindo no chão. Obviamente não doeu, tampouco o fez cócegas, mas ao reconhecer a voz do infrator, o jabuti se virou e o encarou bravo.

— "Você?" — indagou inconformado com a informalidade e cruzou os braços. — Está mesmo me tratando por "você"? Oh, céus! Esses jovens de hoje... — reclamou. — Sabe com quem está falando? Eu sou um Alto Deus — revelou o título que todos conheciam — Você me DEVE respeito!

— E daí? — contestou e com a mão (que não arremessou a pedra) abraçava a túnica que servia de cesta improvisada para os pêssegos que colheu pelo caminho (pêssegos que mais tarde o deus faria vinho...). — Você me parece mais como uma tartaruga velha pra mim! — o ofendeu sem remorso e a expressão brava do deus tornou-se pior.

— Tar-tartaruga? — respirou fundo. Não tinha nada contra os seus parentes, mas ele definitivamente não era uma tartaruga! Por que raios todos confundiam? Tem diferenças sim, sobretudo a capacidade de permanecer em terra. — E o que são isso no seu colo? Pêssegos? — descruzou os braços e respirou fundo mais uma vez, apertando as mãos para controlar a raiva que sentia. Se soubesse que ele seria tão irritante (e mal-educado) o deixaria definhar até a morte. — Você pegou os MEUS pêssegos? — enfatizou o pronome possessivo e o urso, que riu debochado, pegou uma das frutas, 'limpou' no tecido da roupa e mordeu.

Ei, você! Dá 'pra olhar para mim? (Yungi)Onde histórias criam vida. Descubra agora