Capítulo dez
Vou dar voltas e voltas e voltar para o mesmo lugar
Seja na ficção seja na realidade, imortais e mortais estão separados pelo tempo; um único e breve dia nos Céus, equivale a um ano na Terra, logo, alguns dias também são uma vida. Por vezes, em conversas com anciãos, há aqueles que diziam: "Sempre foi assim!" e "Nem sempre foi assim!", enquanto outros contavam uma lenda. Que esse afastamento, em nada é diferente de uma punição para aqueles que ousavam fugir das suas obrigações. Seres 'iluminados' encantarem-se com o mundo e o amor dos humanos, não era nenhuma novidade, já que o afeto sempre foi um tabu para divindades respeitadas. Não que eles não existissem, porque existem. Porém, quando o dono da posição mais elevada travou uma guerra por motivos pessoais e furioso dizimou todo um povo, sucumbir aos princípios mundanos tornou-se um problema.
Como retornar quando o seu coração está preso a um lugar ou a uma pessoa? É possível? E se for... é fácil?
Choi Jongho, certamente, em alguns momentos, o lembrava aquele urso insolente e instantaneamente o transportava a lembranças que preferia esquecer, pois doíam. Porque alguém "falou demais", um inocente teve o coração arrancado e esmagado como um tipo de aviso; um imortal venerado foi julgado e condenado a viver em sua forma primordial por mil anos.
Essa é a ordem dos fatos.
Eles nem eram um casal, nunca nem houve uma confissão, eles apenas... viviam no mesmo lugar sem conseguirem se desvincular. De uma forma tão espontânea, uma dívida de sangue, preencheu um vazio e vivências foram compartilhadas a tornarem-se memórias afetivas. Foi bom enquanto durou, e agora, o que restava era lidar com tudo o que aconteceu e, principalmente, não repetir os erros do passado.
Impossível.
Tudo bem, ficam aprendizados, mas eles não são tudo. Porque quando mãos pequenas o encontraram camuflado em meio a pedras e olhos tão pequenos quanto brilharam ao vê-lo sair de seu casco, de uma forma tão espontânea, um acidente preencheu um vazio e após "Mãe, eu posso ficar com ele?", vivências foram criadas a se tornarem memórias afetivas. Só que amar humanos era muito difícil, porque eles são imprevisíveis e em nada parecidos como peças manipuláveis de um teatro de sombras. Sendo assim, para um deus refém, a imersão nesse "estilo de vida" foi muito intensiva, por vezes esquecendo a sua elevação, vivendo despreocupadamente como um simples jabuti que acompanhava uma criança, que virou adolescente e agora amadurecia, para então se tornar adulta.
Ele foi seu porto seguro quando esteve vulnerável. Esteve presente, presente e presente, portanto, como retornar quando o seu coração está preso a um lugar ou a uma pessoa? É uma pergunta sem resposta, porque não há nenhuma instrução. E ele sabia. A verdade é que Yeosang jamais deixaria Mingi por vontade própria, pois ainda que não soubesse mensurar a sua importância, conhecia o quão solitário era estar sem ele: um humano bobo. Quem não costumava pensar em dividir, viu-se dividindo uma cama e roupas. Viu-se elaborando planos bobos, brincando de idiotices e gastando tempo entediado como um jovem mortal fazia.
É lamentável que nem todas as escolhas sejam impulsionadas pelo desejo ou pela vontade; em algumas ocasiões, trata-se simplesmente de uma obrigação.
"Por que considera tanto assim um humano de vida tão curta? Vale a pena o esforço? Vale a pena se arriscar de novo? Por que você tem feito isso, hm? Por que começou a agir sem pensar?" sozinho naquele quarto, deitado enquanto fumava um cachimbo, a voz daquele príncipe invadia os pensamentos do jabuti. Prometeu descer e ajudá-lo com as tarefas (observá-lo parado em frente a porta), mas, ultimamente, assim como o seu humor, a sua aparência humana oscilava. — Vossa Alteza deveria saber o porquê — puxou a fumaça para os pulmões, soltando-a em seguida. — Visto que já sentiu o mesmo. — falava sozinho. — Ou... é exatamente por isso que é contra... — hesitou. — Porque já sentiu o mesmo. — olhando os muitos pôsteres do Mingyu espalhado pelas paredes, o deus forçou uma risada. — Tsc! Então é esse o sentimento de sentir pena de si mesmo?
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Ei, você! Dá 'pra olhar para mim? (Yungi)
FanfictionDepois de receber ajuda do vizinho durante a infância, Mingi, um jovem autista, ao longo do tempo, desenvolveu sentimentos românticos por ele. Mas com o nome 'paixão unilateral' já explica: por ser alguns anos mais velho, Yunho o via como um 'pirral...