PEJÃO | Akai Ito

VIII. do que você tem medo?

Pedro POV's.

Observo enquanto João está olhando ao redor, tentando absorver o espaço que agora é o seu novo lar. Respiro fundo e me obrigo a relaxar; isso não deveria ser tão difícil. Ele é meu amigo de infância, afinal de contas.

— Bom, não sei muito bem como guiar um tour, mas aqui, como você viu, é nossa sala/cozinha, vou tentar te apresentar cada detalhe — digo, tentando soar casual. — Não que tenha muito para mostrar, mas... é bom você conhecer seu novo território, né?

Ele sorri, e eu percebo que seus olhos ainda estão um pouco curiosos, como se estivesse tentando decifrar cada detalhe ao redor. Começo pela sala. Mostro os quadros nas paredes — escolhas de Malu, quase todos com motivos abstratos e um toque meio moderno. Mostro as plantas que ela insiste em cuidar e que milagrosamente ainda não morreram. João assente, mas parece um pouco distraído, como se estivesse absorvendo tudo lentamente.

— Essas plantas aqui são todas da Malu — explico. — Ela acha que é uma ótima mãe de planta, mas a verdade é que se eu não estivesse aqui todas elas já teriam morrido. Segredo nosso isso, João.

— Não se preocupe, não vou contar pra ela — João comenta, rindo. — As minhas sempre morrem também. É bom saber que vou poder ser pai de planta agora que tenho uma babá responsável.

Rio com o comentário, nunca pensei que sou "babá de plantas" mas o termo encaixa certinho. Eu quase nunca compro plantas, deixo para Malu a tarefa de escolher e depois acabo cuidando delas no off, então teoricamente eu não sou realmente o pai das plantas, sou só a babá mesmo.

Levo João pela parte mais interna da cozinha, uma área compacta, com os armários pintados de azul claro. Explico onde estão as coisas básicas, como a geladeira e o micro-ondas, não que isso fosse realmente necessário, e faço um comentário bobo sobre como o fogão é teimoso e precisa ser tratado com carinho para funcionar direito.

— E essa geladeira aqui... — bato na porta da geladeira, que tem vários ímãs de viagens e fotografias pendurados. — Esses imãs são todos da Malu também. Eu meio que só trouxe... eu mesmo, acho. — Dou uma risada sem graça.

João sorri de volta, e eu noto um brilho em seus olhos que me faz lembrar de quando éramos crianças e ele ficava animado por qualquer coisa nova. Conduzo João pelo corredor, parando em frente a porta da primeira suíte.

— E aqui, o quarto da Malu. — Abro a porta com cuidado, mostrando um espaço colorido e cheio de personalidade. Há pôsteres na parede, uma colcha com estampas vibrantes na cama, e uma escrivaninha bagunçada cheia de livros, cadernos e um laptop. — Ela não gosta que entrem muito aqui, mas... agora você é de casa, né?

Fecho a porta do quarto dela e percebo que João está me observando com uma curiosidade tranquila. — E agora, a última parte do tour... meu quarto. — Sinto meu estômago revirar um pouco. Tento parecer despreocupado, mas há algo em levar João até meu espaço mais íntimo que me deixa nervoso.

Abro a porta devagar e deixo que ele entre primeiro.

João POV's.

O quarto de Pedro é mais neutro do que eu imaginava. As paredes são brancas, e há uma planta no canto, verde e viçosa mais viva que qualquer outra planta da casa, uma planta que parece respirar calma. O quarto é limpo, arrumado, o que não é nem um pouco inesperado. A cama de casal ocupa um bom espaço, coberta por um edredom branco que parece absurdamente confortável. Tem algo reconfortante em ver seu espaço, como se eu estivesse ganhando uma janela para sua vida privada. Por um momento, só fico ali parado, absorvendo o ambiente.