IX. eu ainda me lembro bem.

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E finalmente, veio aí a conversa...

esse capítulo foi muito gosto de escrever gente.

Peço desculpa pelo desenvolvimento lento da história, 

mas prometo que vai valer a pena.

Boa leitura :)



Pedro POV's.

Estou me movendo pela cozinha sem parar, como se não soubesse mais o que fazer com minhas mãos. Arrumo os pratos pela terceira vez, troco os talheres de lugar. Meu coração está disparado e minhas mãos estão um pouco trêmulas. Tento me convencer de que isso é apenas ansiedade de reencontrar, reencontrar de verdade, um velho amigo, nada mais. Penso em acender uma vela, mas desisto no último segundo. Seria estranho, né? Não quero parecer que estou tentando criar uma "atmosfera" ou algo do tipo.

Olho para o relógio na parede da cozinha: 18h45. João disse que voltaria até às 19h. Penso um pouco nos sabores de pizza que pedi: frango com catupiry e calabresa... Será que ele ainda gosta de catupiry? Tantas coisas mudaram desde que nos afastamos, não sei se ainda conheço seus gostos. Tento relaxar, respirando fundo, mas estou impaciente, com a perna balançando involuntariamente. Passo a mão pela nuca, onde sinto um calor se espalhando. Talvez eu devesse ter comprado alguma outra coisa também, tipo... alguma salada? Tarde demais pra pensar nisso.

Minhas mãos tocam a mesa, e sinto a textura da madeira sob meus dedos, e minha mente começa a vagar. Batuco os dedos num ritmo que me faz pensar em um música, não sei qual, mas é uma mania que tenho desde sempre. Desde sempre não, na verdade eu roubei ela de João, era ele quem batucava e cantarolava inventando melodias. Eu me lembro de como ríamos à toa, de como João tinha aquele jeito de rir que começava baixo e aumentava, como se o riso tivesse vida própria. Eu ainda me lembro bem, tão bem que chega a doer. Penso na última vez que nos encontramos antes de ele se mudar, o jeito como ele segurou o meu braço quando dissemos "até logo" – nunca "adeus". Naquele momento, nunca imaginei que "até logo" significaria tanto tempo.

Quando finalmente ouço a chave girando na porta, meu coração parece dar um salto no peito. João entra com um sorriso de canto de boca, os olhos cansados, mas ainda brilhando com a intensidade de sempre. Ele está com o cabelo meio despenteado, seus cachinhos desfeitos, os ombros levemente curvados pelo cansaço do dia, mas há uma tranquilidade em seu rosto que eu não esperava. Meu estômago dá uma reviravolta, e de repente me sinto como um adolescente nervoso.

— Vou tomar um banho rápido — ele diz, apontando para o corredor, com um meio sorriso tímido.

— Claro, à vontade. — Tento sorrir casualmente, mas sinto meu rosto esquentar. Ele desaparece pelo corredor, e eu fico na sala, encarando a mesa posta. Ouço o som da água correndo no banheiro, e cada segundo parece se arrastar. Estou inquieto. Meus pensamentos vão para todos os lugares ao mesmo tempo. Será que ele notou como estou nervoso? Será que ele sentiu falta de mim, como eu senti dele?

Volto para a cozinha, abro a geladeira, pego uma cerveja, fecho a geladeira, abro de novo... Pego uma segunda cerveja. Respiro fundo. Quando a porta do banheiro finalmente se abre, olho imediatamente na direção do corredor, escutando o som dos passos arrastados que vinham de lá. João aparece com o cabelo molhado, usando um shorts preto da Adidas e uma regata branca justa que deixa seus braços à mostra. Ele parece mais à vontade, mas também noto um leve desconforto nos seus olhos.

PEJÃO | Akai ItoOnde histórias criam vida. Descubra agora