VI. e aí, como tá tua vida?

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Oiie, cheguei :) 

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João POV's.

Segunda - feira. 19h.

Pedro me observa por um momento, parecendo finalmente sair do choque, e então olha para minha camisa encharcada. Ele dá um sorriso de canto, um pouco culpado.

— Vem comigo. Vou te arrumar algo seco pra vestir — diz, gesticulando com a cabeça em direção ao balcão.

Ele me entrega um moletom preto que estava jogado sobre uma cadeira próxima. É uma peça larga, velha, mas confortável ao toque. Aceito sem pensar duas vezes, precisando de qualquer desculpa para me afastar e processar tudo o que acabou de acontecer.

— Obrigado — murmuro, desviando o olhar. — Eu vou ao banheiro... trocar isso.

Pedro apenas assente e volta sua atenção para o barman, pegando as duas cervejas que ele havia pedido.

No banheiro, tiro a camiseta molhada, sentindo o tecido gelado grudado na pele. O espelho está coberto de uma fina camada de vapor, e eu me encaro por um instante, tentando entender como cheguei aqui. Meus dedos tocam meu rosto, como se checassem se tudo aquilo era real. Me pergunto como o Pedro, o meu Pedro, acabou aqui, nesse mesmo bar, no mesmo momento que eu. Respiro fundo, visto o moletom e o cheiro familiar de Pedro se espalha pelas minhas narinas; por um instante, me sinto abraçado pela lembrança de quem ele era, de quem nós éramos.

Saio do banheiro e encontro Pedro me esperando, segurando os dois copos com muito cuidado. Ele me dá um pequeno sorriso e acena para uma mesa no canto do bar, onde o som não é tão alto e há menos gente por perto.

Sentamos de frente um para o outro, e sinto um nervosismo crescer no meu peito. Não sei se é a distância dos anos ou a diferença que o tempo trouxe para ele, mas há algo em seu olhar que parece distante. Quase como se eu estivesse diante de um estranho. Mas é um estranho com os olhos de Pedro.

— Eu reconheci a pulseira. — Minha voz soa baixa, quase perdida no barulho ao redor. — Foi... foi meio chocante ver você ainda usando isso.

Pedro olha para o pulso e dá um riso curto, sem muito humor.

— Na verdade, pra ser honesto eu a encontrei hoje de manhã. — Ele balança a cabeça. — Deve ser uma daquelas ironias do destino, sabe?

Um silêncio se instala entre nós enquanto ele toma um gole da cerveja, quase terminando o copo de uma vez. Eu, por outro lado, bebo devagar, tentando saborear cada segundo dessa estranha conversa.

— O que você tá fazendo aqui, João? — ele pergunta, e eu percebo uma nota de curiosidade genuína.

— Sou calouro na USP. Publicidade e Propaganda. — Tento soar casual, mas o nervosismo vaza na minha voz. — E você?

Pedro sorri, como se aquilo fosse uma coincidência bizarra.

— O mesmo curso, segundo ano. Parece que a gente não consegue ficar longe, hein? — Ele ri um pouco mais, e eu sinto um peso sair dos meus ombros ao ver seu sorriso.

— É, isso que eu tive que adiar um ano... — explico, hesitando. — Minha mãe esteve doente. Mas... não vem ao caso agora. — Tento afastar o assunto, e Pedro não pressiona.

— Mas tirando isso... me conta como tá tua vida. O que você está achando de São Paulo? — Pedro pergunta, sorrindo. Acho que ele se lembra que eu sonhava em vir para cá.

Eu conto sobre o caos da república onde estou ficando, sobre o sofá improvisado que virou minha cama e o som incessante de gente entrando e saindo. Pedro ouve em silêncio, o sorriso dele vai murchando conforme percebe o desconforto na minha voz. Ele me encara por um momento e depois diz, com uma familiar determinação:

— João, você não pode ficar num muquifo desses. — Ele franze o cenho indignado. — Por que você não vem ficar lá em casa? Eu moro com a Malu, tem um quarto que usamos como escritório, mas tem uma cama de solteiro lá.

Sinto meu corpo tenso, meu primeiro instinto é recusar.

— Não! Eu... Não sei, Pedro. Não quero atrapalhar, nem incomodar você e sua amiga.

Pedro balança a cabeça, insistindo.

— Incomodar, nada. Porra, João, não é todo dia que eu encontro meu melhor amigo de infância, aquele com quem eu vivi 14 anos da minha vida. — Ele ri. — E eu nunca deixei de ser bom anfitrião, sabia? E além do mais, vai ser ótimo ter outra pessoa para dividir o valor do Uber até a faculdade, acredite... é caro!

A forma como ele diz isso, como usa o "meu melhor amigo", mexe comigo. Ainda há uma ligação entre nós, mesmo que desgastada pelos anos. Talvez, ficar perto dele outra vez não seja tão má ideia assim.

— Ok, Pedro... Por que não? Não é como se eu tivesse muita opção de qualquer forma — Sorrio, resignado, e percebo o alívio no rosto dele. Mas ele balança a cabeça meio ofendido em seguida. 

— Vou fingir que você não me tirou pra merda e só aceitou porque não tem escolha...

Eu ri, gargalhei. Conversando assim com ele já pude perceber que Pedro manteve perfeitamente seu jeitinho pivete. 

Acho que o universo realmente tem um jeito peculiar de nos trazer de volta ao mesmo ponto de partida. Apesar da situação da minha moradia ter se resolvido de uma forma milagrosa e extremamente inacreditável, um outro tipo de pânico tomou conta de mim. E se Pedro não gostar mais de mim? Quer dizer, tenho quase certeza que o João que ele deve se lembrar não existe mais. Não sou mais aquele garoto alegre e divertido. Sinto que nos últimos anos, involuntariamente, me tornei um grande pé no saco. É horrível imaginar a decepção que Pedro vai sentir quando perceber que o seu melhor amigo de infância não é mais como ele se lembra. Eu tenho medo, muito medo. Mas também não tenho escolha.

— É... vai ser bom — digo, tentando acreditar nas minhas próprias palavras.

Pedro sorri, satisfeito, e o alívio que vejo em seu rosto faz com que, por um breve momento, eu sinta que tudo pode dar certo. 

PEJÃO | Akai ItoOnde histórias criam vida. Descubra agora