III. são paulo é um mundo.

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oiie, já deixe sua estrelinha agora pra não esquecer depois! 

comentários são sempre bem vindos também...


João POV's.

Domingo. 23h.

Chego à república sentindo o peso de cada passo. A fachada do prédio é simples, um pouco desgastada, com paredes descascadas e uma placa enferrujada onde posso ler: "Moradia para Estudantes - Homens". A placa balança ao vento, prestes a cair. Carrego minha mochila nos ombros; mesmo que o local não seja nada convidativo, ainda tenho esperança de que tudo vai dar certo e que por dentro as coisas sejam melhores. Afinal, sempre me disseram que a cidade grande é cheia de surpresas, e torço para que esta seja uma delas.

Subo as escadas com dificuldade por causa da bagagem, cada degrau rangendo sob meu peso, até finalmente chegar à porta da república. O lugar é barulhento. Consigo ouvir risadas, discussões e o som de um videogame vindo de algum dos quartos. Respiro fundo e bato à porta. Um homem de meia-idade, com uma camisa polo desbotada e gola esgarçada, abre para mim.

— João Vitor, certo? — pergunta ele com uma voz rouca que entrega seus anos de fumante. Além do odor clássico, obviamente.

— Isso... — respondo, tentando soar confiante.

— Então, rapaz, temos um probleminha. — Ele passa a mão pela nuca, parecendo nervoso. — Eu acabei aceitando mais gente do que tínhamos camas disponíveis. Você foi o último a chegar...

Eu sinto um aperto no estômago, mas mantenho o rosto impassível, tentando esconder minha frustração.

— Certo... e agora? — pergunto. E então começo a cutucar minhas cutículas, tentando controlar a ansiedade.

— Olha, o que posso te oferecer por enquanto é um quartinho nos fundos... — ele diz, apontando para uma porta estreita ao lado da cozinha. — Serve como depósito, mas tem um sofá lá onde você pode dormir até resolvermos isso. Me desculpa mesmo, rapaz.

Olho para a porta pequena e respiro fundo. Não tenho escolha. Assinto com a cabeça e sigo em direção ao quarto improvisado. É minúsculo, sem janelas, as paredes cobertas de prateleiras cheias de tralhas. O sofá no canto parece velho e desconfortável, mas é tudo que eu tenho.

— Acho... que vou ficar aqui, então... — murmuro, mais para mim mesmo do que para ele.

A noite é longa. O lugar é abafado, e a falta de ar fresco me faz suar. Viro de um lado para o outro no sofá, tentando achar uma posição que não me deixe com dores nas costas. O sono vem, mas é interrompido diversas vezes. No meio da noite, percebo que meu celular ficou sem bateria e não há uma tomada à vista onde eu possa carregá-lo. Quando finalmente adormeço, é um sono pesado, sem sonhos.

Segunda-feira. 11h.

Acordo com a sensação de que já é tarde demais. Pego o celular e tento ligá-lo, mas então me lembro que ele está sem bateria. Ótimo. Quando saio do quarto vejo que o Sol já brilha forte, avisto um relógio de parede e percebo que é ainda mais tarde do que eu imaginava, tão tarde que eu perdi toda a dinâmica de recepção dos calouros que aconteceria pela manhã. Por um segundo, sinto um alívio. Eu não queria participar mesmo, odeio essas coisas. Mas, ao mesmo tempo, um sentimento de frustração me invade, parece que tudo está contra mim. Vou para a cozinha apressado, só para descobrir que o café da manhã da república já acabou.

Com fome e de mau humor, pego minhas coisas e saio. As ruas de São Paulo estão agitadas e caóticas, exatamente como sempre imaginei. Pego o metrô sem rumo, ainda sem bateria e sem ideia de como me locomover pela cidade, mas sigo o fluxo e isso até que é gostoso, mesmo que assustador. Desembarco em uma estação onde muitas pessoas desembarcaram também, apenas seguindo o fluxo. E então percebo: estou na Avenida Paulista, e tudo parece se iluminar. O sol reflete nos prédios de vidro, e, por um momento, sinto uma pequena felicidade ao me lembrar de que, apesar de tudo, estou na cidade dos meus sonhos. Sinto meus olhos marejados pela vista. É incrível.

Entro em um café chique na avenida e peço um matcha. Nunca experimentei, mas sempre tive vontade de saber como é o gosto. O lugar é sofisticado, cheio de gente conversando em mesas de mármore. Tomo a bebida lentamente, tentando absorver a experiência. O gosto é inesperadamente bom; acho que eu poderia facilmente me acostumar a beber isso, já pressinto um novo vício. Com o sabor preenchendo minhas papilas, sinto um pouco de paz.

Depois de sair do café, decido ir conhecer meu campus na USP. Pego o metrô novamente; eu gosto disso, mas ainda me sinto impressionado com o tamanho da cidade. Quando chego lá, o campus parece ainda maior do que eu imaginava. Há prédios e mais prédios, uma verdadeira cidade dentro da cidade. Estou absolutamente maravilhado.

Decido ir ao bandejão para experimentar a comida do restaurante universitário. Pego uma bandeja e escolho arroz, feijão e proteína de soja. Eles estão oferecendo mimosa como sobremesa; não é um banquete, mas custa apenas três reais, que é literalmente o que meu orçamento me permite no momento. Como rapidamente, o estômago roncando de fome.

Depois de comer, vou até a secretaria para entregar alguns documentos. Em seguida, resolvo que está na hora de explorar o campus um pouco mais. Ao passar por um grupo de estudantes todos sujos de tinta e farinha, sorrio, aliviado por ter perdido o trote. Definitivamente, não era meu tipo de coisa.

Quando estou prestes a ir embora, esbarro em uma garota. Ela sorri, simpática.

— Oi! — diz ela, cheia de energia. — Quer escrever seu nome no muro?

Fico um pouco sem jeito, mas acabo aceitando. Pego o pincel e escrevo "João Romania". Ela ri.

— Não quer escrever algo que você goste também? Sei lá, uma banda, um time de futebol... — sugere.

Fico nervoso, sem pensar direito, e escrevo "PP e Nenê". Ela ri de novo, e eu decido que gosto dela.

— Malu — ela se apresenta, ainda sorrindo. — E você é o João Romania, né?

— João, só João. — respondo, sentindo um leve calor nas bochechas.

Fico conversando mais um pouco com Malu, mas a preocupação com o quarto na república me atinge de novo. Despeço-me dela e vou de porta em porta nas casas estudantis próximas, perguntando se há vagas. Em todas, a resposta é a mesma: lotadas.

Já é fim de tarde quando desisto, derrotado. Preciso de algo para aliviar a pressão do dia. Decido tomar um drink e quase entro em um bar, mas o lugar está cheio de calouros sujos e já bêbados. Sem paciência para aquele caos, atravesso a rua e entro em um bar mais tranquilo.

Meu Deus, que caos. Estou amando.


até amanhã, mores ;)

beiJÃO!

PEJÃO | Akai ItoOnde histórias criam vida. Descubra agora