XVIII. eu morro empanturrado, mas não guardo desejo.

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O capitulo de hoje está com muitas emoções rs
comentem e deixem suas estrelas.


Pedro POV's.

Quinta-feira, 19h.
Américo Brasiliense. 


Bella estava no banco de trás, digitando freneticamente no celular, enquanto eu dirigia o carro dos pais de João em silêncio. João estava ao meu lado, olhando pela janela, absorto em seus próprios pensamentos. O caminho até a casa da Giovana, prima de João, era tranquilo e por mais que fizesse muito desde a minha última visita, eu ainda sabia a rota de cor. Além disso, dirigir é quase terapêutico para mim, me sinto leve por ter algum controle da situação. Contudo, algo no ar está estranho, Bella parece inquieta demais o que não condiz com o comportamento dela, que quase sempre é muito tranquilo.

— Então, João... — Bella começou, inclinando-se para frente e apoiando os braços nos encostos dos bancos. Pelo retrovisor, vi que ela hesitava um pouco, mas o sorriso dela tentava suavizar o impacto. — Lembra que eu disse que a Gio tinha nos convidado para uma reunião pequena, que seriam só algumas pessoas?

— Lembro... — João respondeu de má vontade, assim como eu, parecia estar pressentindo algo diferente.

— Pois é... — Bella riu sem graça, e então suspirou fundo antes de continuar — Parece que a pequena reunião da sua prima virou uma enorme festa. Bom, em defesa dela, ela não tem culpa também... é só que as coisas saíram um pouco de controle, você sabe que a Gio tem muitos amigos que gostariam de comemorar com ela e bom... parece que muitos deles estarão presentes.

O olhar de João continuava fixo na paisagem, mas ele reagiu à menção da festa. Sua testa se franziu de leve, e ele se virou para olhar para Bella, desconfiado.

— Festa? — Ele repetiu, com uma mistura de surpresa e desconfiança na voz. — Eu achei que ia ser só um jantar com os pais dela para comemorar que ela passou na USP.

Eu mantive meus olhos na estrada, mas senti nas palavras de João a mudança repentina do seu humor. Sabia que ele não lidava bem com essas coisas, ainda mais sem ter sido avisado com antecedência. Bella deu uma risadinha nervosa, tentando manter o clima leve.

— Pois é, foi tudo meio em cima da hora. Mas ela está tão feliz que você vai poder estar presente! Só preciso te falar que eu acho que ela convidou umas pessoas da época da escola também.

Ao meu lado, João se mexeu no banco, desconfortável, e por um momento pensei que ele ia pedir para eu dar meia-volta e levá-lo para casa.

— Amigos da escola? — Ele murmurou, com a voz baixa e preocupada. — Quem?

Pisquei, desviando o olhar da estrada por um segundo para encará-lo. De uma forma estranha, eu sabia exatamente o que passava pela cabeça dele. O João de hoje não era o mesmo que as pessoas lembravam, e esses reencontros sempre traziam à tona memórias que ele tentava enterrar. Seu desconforto era tão nítido que era quase possível apalpar com a mão.

— Olha, vai ser tranquilo, Jo — falei, tentando manter minha voz calma, esperando que isso o acalmasse também. — A gente vai lá por causa da Gio, você ama ela! Você não precisa falar com ninguém se não quiser. É só... ver como você se sente. Se não estiver afim, a gente sai mais cedo.

Ele suspirou, voltando a olhar pela janela. O silêncio que se seguiu me deixou inquieto. João sempre foi o tipo de pessoa que carregava o peso das lembranças nas costas, e eu sabia que uma festa cheia de gente do passado não era a ideia mais agradável pra ele. Num reflexo impulsivo, tirei a minha mão do câmbio e levei para a coxa de João, apertando um pouco a região tentando passar segurança.

PEJÃO | Akai ItoOnde histórias criam vida. Descubra agora