XII. dois mil metros de profundidade.

750 65 173
                                    



"No silêncio cúmplice dos nossos gestos, bastava um olhar para que o universo se dissolvesse. Sempre fomos nós, apenas nós, em uma batalha muda contra o tempo e a vastidão do que não importava. Lá fora, o mundo desbotava esmaecido, como um eco distante: apenas figurante na cena que tecemos unidos. Aqui dentro, somos fios de um mesmo novelo, entrelaçando nossas sombras e destinos em uma trama delicada e infinita, mais bela que qualquer tapeçaria chinesa."

Somos yin e yang, sangue e alma, terra e água, fogo e ar — indivisíveis em nossa essência, inescapáveis em qualquer plano, complementares em todas as vidas.

João POV's.

O ar estava úmido no vestiário da faculdade, o cheiro de cloro da piscina impregnando tudo. Pedro e eu nos trocávamos lado a lado, em silêncio, os sons abafados dos outros atletas ressoando ao longe. Eu tentava evitar o contato visual, sentindo um desconforto estranho, pela proximidade, ao mesmo tempo que estava preocupado com Pedro que parecia estar cada vez mais pálido ao meu lado. Havia algo no modo como Pedro me olhava, que estava me deixando inquieto: era como se ele estivesse me enxergando de um modo diferente, reparando em mim de forma minuciosa, o que fez com que eu me sentisse um pouco inseguro e retraído. Quando nossos olhares finalmente se encontraram, foi como um curto-circuito, onde os fios desencapados da minha mente se chocaram de forma desastrosa, me desestabilizando por completo. Senti meu rosto esquentar e desviei os olhos rapidamente, focando em fechar um a um os botões da minha camisa como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo.

— Tá pronto? — A voz de Pedro soou baixa, rouca, quase um sussurro, carregada de cansaço.

— Sim. Vamos pra casa — respondi, tentando ignorar a sensação que apertava meu peito.

No caminho de volta, notei que Pedro estava mais calado do que o habitual, e seu semblante parecia abatido, sua pele estava pálida. Seus olhos estavam um pouco apagados, o que era algo completamente fora do normal para os padrões de Pedro, pois ele tem o par de olhos mais brilhante que eu já vi na vida. Tudo isso somado acendeu um alerta dentro de mim, a chama da preocupação crescendo em meu peito. Quando chegamos em casa, não consegui disfarçar, e não iria deixar Pedro se esquivar de mim e fingir que não havia nada de errado.

— Como você está se sentindo? — perguntei, observando-o com atenção. Pedro forçou um sorriso, como sempre fazia. Ele tem essa mania irritante de fingir que está tudo bem, mesmo quando claramente há algo errado.

— Tô bem... Não é nada demais — ele respondeu, mas eu não acreditei.

— Pedro, não mente pra mim. Você sabe que eu não gosto quando você se fecha assim e me deixa no escuro — falei, minha voz soando bastante magoada, o que surpreendeu a nós dois. Não sei porque, mas estou mais emotivo que o normal esses dias.

Ele suspirou, passando as mãos pelo rosto antes de responder, como se tentasse encontrar a melhor maneira de me acalmar.

— Sério, Jo. Eu só me senti mal por um momento, mas já passou. Foi só uma indisposição... me desculpa por te preocupar.

Pedro parecia estar sendo sincero, mesmo assim, algo não me deixava tranquilo. Me aproximei dele e toquei seu braço, sentindo sua pele quente sob minhas digitais. Mas não sabia se era apenas meu toque que o fazia parecer mais quente ou se realmente havia febre ali.

— Você ainda está bem quente... Espera aqui — falei indo em direção ao meu quarto.

Pedro se jogou no sofá enquanto isso, vi de canto de olho quando ele esfregou as mãos no rosto e cabelo com força parecendo nervoso e inquieto. Quando voltei, segurando um termômetro de mercúrio nas mãos, ele me olhou com uma sobrancelha levantada e a cabeça inclinada, claramente surpreso.

PEJÃO | Akai ItoOnde histórias criam vida. Descubra agora