Capítulo 17: Conversa

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No dia seguinte, o clima no time estava tenso. Eu sabia que, depois da minha lesão, as coisas ficariam mais complicadas. Não era só o fato de estar fora dos treinos e dos jogos por um tempo — o peso da recuperação pesava sobre meus ombros, mas a forma como o time reagiria a isso também. O Mundial estava em jogo, e ficar no banco, enquanto minhas colegas davam tudo de si, era uma das piores sensações.

Levantei cedo, a dor no tornozelo já amenizada pelos medicamentos e pelo repouso, mas a sensação de impotência ainda estava ali. Carolana estava ao meu lado, como prometido. Quando abri os olhos, vi que ela já estava acordada, sentada na poltrona do quarto, olhando para mim com um sorriso suave.

"Bom dia, dorminhoca," ela disse, levantando-se e caminhando até a minha cama.

"Bom dia," respondi, com um sorriso fraco.

Ela se abaixou e beijou minha testa, o gesto me surpreendendo. Eu ainda não estava acostumada a esses pequenos momentos de carinho entre nós, mas não podia negar que gostava.

"O médico já veio ver você?" ela perguntou, sentando-se ao meu lado.

"Sim, ele disse que vai ser questão de dias pra eu voltar a andar direito, mas... sem chances de voltar a jogar tão cedo," murmurei, desviando o olhar.

Ela ficou em silêncio por um momento, e eu sabia que ela também estava sentindo o impacto da minha ausência na quadra. O time dependia muito de cada uma de nós, e minha lesão não era apenas um obstáculo físico, mas também emocional para todos.

"A gente vai dar conta disso," Carol disse, colocando a mão sobre a minha. "Você vai voltar mais forte, como sempre faz. E eu estarei aqui, do seu lado, em cada passo."

O olhar dela me trouxe um pouco de alívio, mas a pressão interna continuava. Eu odiava sentir que estava fora de controle da minha própria situação, mas saber que Carolana estava comigo tornava tudo um pouco mais fácil.

No café da manhã, as meninas estavam reunidas, como de costume. Eu cheguei um pouco depois, ainda me acostumando com a dificuldade de andar, mas o clima estava leve. Elas faziam piadas, riam alto, e por um momento, eu me permiti esquecer da minha lesão. Quando me sentei, Rosamaria olhou pra mim e lançou um sorriso amigável, mas eu podia sentir que algo havia mudado desde a conversa da noite anterior.

"Ei, parece que alguém teve uma noite tranquila," Thaisa brincou, me cutucando com o cotovelo. "A gente achou que você ia passar a noite toda acordada, chorando de dor."

Eu ri, balançando a cabeça. "Só se fosse de raiva por não estar na quadra."

Nyeme, sentada do outro lado, comentou rindo: "Nada que um pouco de paciência não resolva. E quem sabe até uns mimos da Carol não te ajudem a melhorar mais rápido?"

O comentário fez todo mundo rir, mas eu e Carol trocamos um olhar rápido. O que tínhamos mantido em segredo parecia cada vez mais difícil de esconder, especialmente com a proximidade crescente entre nós. Tentando desviar a atenção, puxei conversa sobre o treino, e logo todo mundo estava falando sobre o próximo jogo.

Entretanto, entre as risadas e as piadas, eu sabia que as coisas estavam mudando. Com Carol ao meu lado, e a recuperação se aproximando, eu sentia que o que tínhamos — nossa relação, nossa amizade e o que mais estivesse crescendo entre nós — estava prestes a ser testado de verdade. E, dessa vez, eu estava pronta para enfrentar qualquer coisa, com ela do meu lado.

...

A manhã seguia descontraída, o café da manhã era o momento onde o time podia relaxar antes de enfrentar a dura rotina de treinos e jogos. As risadas fluíam naturalmente, e as piadas iam de um lado para o outro, especialmente sobre a minha lesão. Embora eu estivesse rindo com elas, sentia o peso do afastamento da quadra, e como isso me fazia sentir de certa forma isolada. Mas, ao mesmo tempo, havia Carolana, sempre próxima, me dando aquele conforto silencioso que só ela sabia dar.

Linha de Fogo - CarolanaOnde histórias criam vida. Descubra agora