Linha de Fogo - Carolana

Capítulo 12: Rosamaria

O incidente do treino deixou uma marca profunda em S/N. Nos dias que se seguiram, ela se comprometeu a dar mais atenção aos sinais do seu corpo, sabendo que seu desejo de treinar até a exaustão era uma maneira de escapar dos problemas emocionais que estava enfrentando. As outras jogadoras também ficaram mais atentas, mantendo um olho nela para garantir que não se esforçasse além do limite.

Apesar de estarem tentando voltar ao normal, a relação entre S/N e Carolana ainda era tensa. Havia uma distância sutil, uma hesitação nos gestos e nas palavras. Ambas sabiam que tinham muito a resolver, mas encontravam dificuldade em encontrar o momento certo para uma conversa sincera. As desculpas diárias de "não é o momento" mantinham a discussão necessária à distância, e o silêncio entre elas continuava a crescer.

Thaisa, percebendo o desconforto entre as duas, decidiu intervir. Ela sabia que se S/N e Carolana continuassem evitando a conversa, a tensão poderia explodir em um momento inoportuno, prejudicando não apenas elas, mas o time como um todo. Em um dia após o treino, ela encontrou S/N sozinha, sentada na arquibancada, olhando para a quadra vazia.

"Você sabe que precisa falar com ela, certo?" Thaisa disse, sentando-se ao lado de S/N. "Esse silêncio está matando vocês duas, e não está ajudando o time."

S/N suspirou, passando as mãos pelo cabelo. "Eu sei, Thaisa. Eu só... não sei como começar. Tudo parece tão complicado agora."

Thaisa deu um sorriso compreensivo. "As coisas só ficam complicadas se a gente deixar. Às vezes, só precisamos de uma conversa honesta. Carolana também está sofrendo, você sabe disso, não sabe?"

S/N assentiu, ainda olhando para o chão. "Sim, eu sei. Mas é difícil quando vejo ela com Anne. Parece que tudo entre nós foi uma mentira."

Thaisa colocou uma mão no ombro de S/N, apertando levemente. "Você não precisa enfrentar isso sozinha. E nem ela. Conversem, coloquem tudo para fora. Vai doer, mas é melhor do que continuar fingindo que nada está errado."

...

Naquela noite, S/N tomou coragem e foi até o quarto de Carolana. Respirou fundo antes de bater na porta, esperando que a resposta fosse positiva. O que estava em jogo era mais do que a relação delas; era a própria estabilidade emocional e o equilíbrio do time.

"Entre," disse Carolana do outro lado, sua voz abafada pela porta. Quando S/N entrou, encontrou Carolana sentada na cama, com os olhos baixos, claramente surpresa pela visita.

"Podemos conversar?" S/N perguntou, fechando a porta atrás de si.

Carolana assentiu, fazendo um gesto para que S/N se sentasse. Houve um silêncio tenso, e por um momento, nenhuma delas soube como começar. Finalmente, S/N tomou a iniciativa.

"Eu vi você com a Anne," S/N começou, tentando manter a voz estável. "E isso... me machucou, Carol. Eu pensei que havia algo real entre nós."

Carolana respirou fundo, cruzando os braços. "Eu não sei o que estou fazendo, S/N. Quando vi Anne, foi como se todas as memórias voltassem. Ela era uma parte importante da minha vida antes, e de repente, eu me senti puxada para isso de novo."

"Então o que está acontecendo entre a gente não importa?" S/N perguntou, sentindo a raiva subir novamente. "Era só diversão para você?"

"Não!" Carolana disse rapidamente, levantando-se. "Não foi só diversão, S/N. O que sinto por você é real, mas estou confusa. Anne... foi meu primeiro amor, e vê-la aqui trouxe muitas coisas de volta."

"Então você está dividida," S/N concluiu, amargamente.

Carolana olhou para S/N, seu olhar sincero. "Sim, estou. Mas não quero que você pense que significa menos para mim. Eu só... preciso entender o que sinto, e estou com medo de tomar a decisão errada."